Palavra do Reitor
Domingo passado, 26, à hora do Ângelus, momento em que milhares de pessoas se reuniam na Praça São Pedro, no Vaticano, para ouvir o Papa Francisco, uma cena carregada de simbolismo foi assistida pelos presentes. Em sua mensagem, Francisco rezou pelas vítimas das recentes manifestações na Ucrânia e pediu por paz naquele país, como já o fizera outras vezes pela Síria. Ao final da cerimônia, as duas crianças que o acompanhavam soltaram cada qual uma pomba branca. Essas aves, assim que levantaram voo, foram imediatamente atacadas.
Um corvo e uma gaivota, ambos considerados aves de rapina, se lançaram sobre as pombas com bicadas agressivas e assassinas e, por muito pouco, segundo relatos, não as mataram, somente algumas penas lhes foram arrancadas. Tal episódio causou espanto e horror e nos impregna certa aversão. Esse nosso sentimento se explica não pela simples questão de ter conhecimento de um fato visto como natural dentro de uma relação ecológica, na qual predadores procuram suas presas para a sua alimentação, mas pela infeliz coincidência do ataque naquele momento. Esse evento, casual ou não, nos leva a fazer uma analogia entre os dois países mencionados, nos quais, em que pese haver algum movimento de diálogo em busca da pacificação, não existe nenhuma solução definitiva à vista. O mundo cambaleia entre milhões que sofrem com o analfabetismo, com os afogados no Mediterrâneo, com a fome, com as guerras fratricidas e com os milhares que vivem em campos de refugiados, quase abandonados à própria sorte, frente à pujança e à concentração de riqueza produtora da indiferença.
O Papa Francisco trouxe um novo sopro à Igreja, tanto no sentido de sua organização administrativa como – e isso é até mais importante – na vivência da fé pelos fiéis que sentem, com sua postura simples e alegre, um novo fervor na prática cristã católica. Por outro lado, o Santo Padre, a despeito de algumas posições recebidas pela sociedade secularizada como moderadas – vide as declarações sobre os gays e a participação das mulheres na Igreja –, também tem defendido, com firmeza e coragem, valores importantes sobre a sacralidade da vida e tem clamado contra a insistente sobrevalorização da riqueza material em desfavor do homem e ainda contra o sistema econômico-financeiro mundial, que, apenas no afã de atender aos interesses de acionistas e dos ricos, esquece princípios, os quais, ausentes, desenham um mundo onde não haverá riqueza para ser desfrutada. Esquecer aqueles princípios norteadores será uma forma de preparar o mundo para a primazia exclusiva da lei do mais forte e do dinheiro – que lhe confere esse poder.
Não se trata somente de esquecer os mais pobres, tema que o Papa Francisco tem questionado constantemente, mas, sobretudo, em razão desse esquecimento, de semear o campo da violência, da pobreza e até mesmo da subversão da sociedade. Talvez por abraçar temas que estavam relegados, por retomar o estilo da voz, que clama no deserto em favor da paz, do amor e de tudo que pode nos conferir a exata dignidade dada por Deus quando nos fez à Sua imagem e semelhança, Francisco tem conduzido o rebanho católico ao apego de valores universais, que evitaram a destruição da própria humanidade.
Ao mesmo tempo que forças contrárias, semelhantes à ação das gaivotas e dos corvos relatada no início deste artigo, se levantam, por meio de críticas e de demonstrações de frustração, contra as atitudes e opiniões do pontífice, o mundo está ansioso por uma voz ou vozes que relembrem quem somos e qual é o caminho a ser persistentemente trilhado por uma sociedade menos injusta e mais solidária, por exemplo. Em 2013, o Papa foi a “celebridade” mais comentada na internet, mas os chamados formadores de opinião se encontram divididos. Ora festejam as falas ditas moderadas, ora criticam o que entendem ser o cerceio de uma tal liberdade humana imposta, segundo creem, pela religião. Ao partirem desse ponto de vista, querem tão somente a ascensão do subjetivo pessoal ao status de dogma sem qualquer contestação.
Num muro, nas proximidades do Vaticano, alguém pintou o Papa Francisco no clássico voo do super-homem, com um rosto sorridente e uma pasta na qual se lê a palavra “valores”. Essa imagem nos remete a um super-homem que não se confunde com o modelo nietzschiano, que é movido por sua vontade de potência, desprezando tudo que lhe possa enfraquecer, seja amor, seja felicidade. O “além-homem”, criado por Nietzsche, sacode sua dependência de Deus, mostrando que é o seu próprio senhor, superior a tudo e a todos, transvalora e segue num processo de superação permanente, diferenciando-se dos demais, fracos e dependentes, escravos das comezinhas necessidades humanas. Este homem, na visão desse filósofo, prescinde de Deus. Nada mais distante das necessidades das multidões que vagam, como, diria o Senhor, ovelhas sem pastor. O novo homem se faz a partir da humildade, do reconhecimento de sua fragilidade, carência e, também, da capacidade de realizar coisas incríveis, como a história nos revela com tantos luminares que nos antecederam e alguns dos quais se encontram entre nós.
Assim como as pombas, o Papa ao alçar voo encontrará sempre aves de rapina prontas para o ataque. Porém, nada disso lhe será estranho. O próprio Cristo advertiu seus seguidores de que o mundo os rejeitaria, como o fez com Ele mesmo. Sua mensagem, todavia, é de esperança: “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (Evangelho de João 16.33).
Doutor em Nefrologia, reitor da UFMA, membro do IHGM, ACM e AMC
Publicado em O Estado do Maranhão em 02/01/2014
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