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Palavra do Reitor

Mais que um homem: uma lenda (parte II)

Em artigo publicado na semana passada, exaltei a memória do médico e humanista Antonio Jorge Dino, que, se vivo estivesse, completaria 100 anos no próximo dia 23 de maio. Dada a exiguidade do espaço, não foi possível abordar naquele texto um de seus maiores legados ao povo do Maranhão: a Fundação que leva seu nome e que administra o Hospital Aldenora Bello, referência para o tratamento de câncer no Estado.

Há quase cinquenta anos, o hospital “Aldenora Bello” – cujo nome é uma homenagem à esposa do então governador Newton Bello, por ter sido uma das fundadoras e a primeira presidenta da Rede Feminina de Combate ao Câncer nos idos de 1962 – iniciou suas atividades de ofertar serviço de atendimento aos portadores de câncer no Estado do Maranhão. O começo foi bastante humilde, o que faz lembrar a advertência do profeta bíblico Zacarias de que não se deve fazer pouco caso dos pequenos começos ou, noutras versões, das coisas pequenas. Resumia-se o Hospital Aldenora Bello a três cômodos: um consultório, uma sala de raios X e uma sala para as voluntárias. 

Havia muito a fazer. E foram a visão denodada e a paixão pelo servir ao próximo que moveram Antonio Jorge Dino e sua incansável esposa Enide Dino – ambos dirigiram, respectivamente, a Liga Maranhense e a Rede Feminina de Combate ao Câncer no Estado –, os responsáveis por erguer não apenas um conjunto de prédios, mas um patrimônio imaterial, consistente em respeito, cuidado, atenção e tratamento humanizado para milhares de pacientes que foram (e para aqueles que são e ainda serão) atendidos no Hospital. Tudo isso aliado à tecnologia dos equipamentos (a história da vinda da bomba de cobalto é pontuada por diversos episódios que podem ser classificados como quase milagres) e à expertise de centenas de profissionais e voluntários que trilham na senda aberta por Antonio Jorge Dino e que a cada dia inscrevem seu nome no trabalho que desenvolvem, ainda que anonimamente. 

Conta-se que o herói grego Hércules, ao cumprir os três últimos dos doze trabalhos que lhe foram ordenados por Euristeu, rei de Argos, finalmente alcançou a imortalidade. O paralelo entre o herói mítico e o personagem maranhense faz-nos pensar que essa mesma honra já alcançou o nome de Antonio Jorge Dino.

Nos livros de história do Maranhão, há que ser dedicado um capítulo para contar a saga empreendida pelo casal Dino, que, enfrentando dificuldades de toda a sorte (financeiras, principalmente), conseguiu fazer com que o Hospital Aldenora Bello se firmasse como o único hospital maranhense dedicado exclusivamente ao tratamento das neoplasias. Trata-se de um feito singular.

Quando Winston Churchill convocava a Inglaterra a resistir e lutar contra as forças nazistas, ele prometeu apenas suor, sofrimento, sangue e lágrimas. Não creio que alguém tenha prometido o mesmo ao longo da história do hospital, mas certamente tudo isso faz parte do seu legado. Com uma diferença: houve alegria em cada pequena e grande vitória que explicam sua existência.

Não bastasse oferecer um espaço de saúde que atendesse à população – que até meados dos anos setenta não havia, no Maranhão, onde se tratar de câncer –, a Fundação Antonio Jorge Dino abraçou mais um desafio, pois grande parte dos enfermos, oriundos do interior, enfrentavam uma dificuldade a mais de não ter onde se hospedar. Eram pessoas pobres que estavam lançadas à sorte da piedade dos que delas se compadecessem. A solução: na década de noventa, a Fundação Antonio Jorge Dino adquiriu um imóvel e transformou em casa de apoio a essas pessoas. Em 2000, uma nova casa dedicada a receber crianças, conhecida como Casa de Apoio Criança Feliz. Ambas são administradas pela Fundação, através do Núcleo de Voluntárias "Santinha Furtado”.

Mas essa história ainda não tem um ponto final. O desafio é diário: o INCA (Instituto Nacional do Câncer), órgão do Ministério da Saúde, em seu relatório “Estimativa 2012 de Incidência de Câncer no Brasil”, registra que o Maranhão está, com 6.090 novos casos, em sexto lugar entre os estados do Nordeste, considerando todos os tipos de câncer acompanhados regularmente pelo relatório.

Por evidente, devem ser contabilizados os casos existentes que, em maior ou menor grau, demandam cuidados regulares pela equipe multidisciplinar do hospital. Um trabalho árduo é realizado ainda no sentido de manter o nível de qualidade compatível com as novas tecnologias e procedimentos requeridos nos variados tipos de neoplasias que, dentre as mais comuns, somam quase duas dezenas. 

Louvável ainda o exemplo da nova geração da família Dino, que continua a expandir aquilo que um dia foi apenas sonho dos precursores da Fundação Antonio Jorge Dino. Lembro ainda do salmista Davi, que, numa de suas mais poéticas passagens, descreve a esperança e a história de seu povo com estas palavras: “Os que semeiam com lágrimas, ceifam em meio a canções. Vão andando e chorando ao levar a semente. Ao regressar, voltam cantando, trazendo seus feixes.” (Salmo 126).

 Doutor em Nefrologia, reitor da UFMA, membro do IHGM, ACM e AMC

Publicado em O Estado do Maranhão em 19/05/2013

 

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