Palavra do Reitor
Todos nós assistimos, na semana que passou, incrédulos, a um tétrico sepultamento de corpos jovens na pacata cidade gaúcha de Santa Maria. Foi um abafar de sorrisos seguido de um rio de lágrimas derramadas por parentes, amigos e por pessoas que, mesmo distantes, se emocionaram com a dor daqueles que foram surpreendidos por um destino tão cruel.
Entre as centenas de moças e rapazes agora enterrados, havia um sonho em comum: o de concluírem a graduação universitária que levaria cada um a exercer as profissões que abraçaram. A festa realizada tinha justamente como objetivo a arrecadação de recursos que proporcionariam a tão desejada formatura em grande estilo. E, diferentemente do poema de Drummond, no meio do caminho não havia uma pedra, mas o desespero, o horror, a morte.
Penso sobre quais são as palavras adequadas para expressar a dor que todos sentimos por esse desastre. Como Milton Nascimento diz em “Coração de Estudante”, também “quero falar de uma coisa”, mas tateio o sentido e a razão, procurando ajuda. Busco respostas na experiência de vida, na paternidade e, também, no fato de estar Reitor de uma universidade para que minha fala signifique e traduza meu próprio sentimento e o sentimento alheio, com o qual me solidarizo de todo o coração.
É na condição de Reitor que tenho a alegria de conviver todos os dias com milhares de jovens que, como aqueles de Santa Maria, também percorrem uma longa jornada em busca da conquista do diploma universitário que lhes determinará não apenas o sucesso profissional como também a realização pessoal e a de suas famílias.
Redescubro-me nesses estudantes e em suas “folhas de juventude”, e revejo a mim mesmo em meu período de estudante universitário, época em que somos feitos de sonhos e esperança. Olhamos para o futuro com certa sensação de onipotência, estamos certos de que tudo é possível, nada pode nos deter. Traçamos vários destinos porque somos flexíveis, plásticos, porque há riso e força, alegria e destemor.
“Alegra-te, jovem, na tua juventude, e recreie-se o teu coração nos dias da tua mocidade”, assim diz o autor do livro bíblico de Eclesiastes, pois é nessa fase que a vida corre ao lado e, com ela, conversamos como se fosse companheira de viagem e não senhora de nossos destinos, que resulta, afinal, de inimaginável quantidade de escolhas que nós mesmos fazemos ou não.
Emparedados na impotência diante do fato consumado, perguntamo-nos o que poderia ter evitado a catástrofe. E se a boate não estivesse superlotada? E se tivesse havido fiscalização? E se não tivessem usado fogo pirotécnico? E se existissem portas de emergência? Consumimo-nos com versões de fatos que nunca aconteceram, daí o resultado nefasto.
De repente, como se nunca houvesse acontecido algo parecido no mundo, com casos aterradores similares nos Estados Unidos e na Argentina, veem-se autoridades serem arrancadas de seu torpor determinando fiscalizações que deveriam ser rotina. Talvez esta mesma, a rotina, tenha o dom de cegar, acostumar ao perigo e proporcionar a negligência, o que nos desafia a todos os dias renovar o compromisso com nossas obrigações. Renovar nossa disposição de fazer o que esperam de nós, pois cada ato nosso, por mais banal, afeta o outro. Nem sempre percebemos isso. Mas estamos todos tecidos na mesma trama de vida.
No holocausto santamariense, imperou a negligência e a desídia. Quanta justiça será necessária para amenizar o irreparável? Talvez Cecília Meireles nos guie no que nos falta de respostas: “Já não se morre de velhice/ nem de acidente nem de doença,/ mas, Senhor, só de indiferença”.
Outros clamores ecoarão, além daqueles que são a exata expressão do desamparo e angústia dos que tiveram suas perdas, tudo isso em nós refletido. Pedir-se-ão regras duras para a liberação de funcionamento destas casas. Gritos reverberarão por justiça, indenizações, prisões. Será a catarse de todos nós. Aos poucos os choros diminuirão, a vida invadirá novamente a Universidade de Santa Maria, as casas, a cidade, o país, e retomaremos nossas urgências e pequenos dramas cotidianos. Esquecidos pela demora da execução da lei, restará apenas o sofrimento infinito enquanto durar.
Calamidades nem sempre são inesperadas. Fatalidades – palavra que se usou muito neste episódio, mas que pode soar como atenuadora de culpas – muitas vezes estão diante de nós e avisam quando chegarão. Mas não se viu que os momentos daqueles jovens seriam podados. Desviaram seu destino e seus sorrisos de meninos e meninas que se esconderam em meio à fuligem e à escuridão.
A Igreja Católica escolheu, para Campanha da Fraternidade, que será aberta na próxima Quaresma, o tema “Juventude e Fraternidade”. Um momento mais do que propício para que reflitamos sobre a necessidade de proteger nossos jovens dos males conhecidos e dos descasos perigosos, que os cercam todos os dias, às vezes, disfarçados de inocente alegria, esta também merecedora de cuidados para que possa ser desfrutada sem maiores consequências.
Que Deus nos proteja de assistir novamente a uma violência tão brutal como essa que inverte até a própria natureza. É atribuída a Heródoto, um grande historiador e geógrafo grego, a frase: em tempos de paz os filhos sepultam seus pais e em tempos de guerra os pais têm que enterrar os seus filhos. Que Deus nos conceda sempre tempos de paz, pois essa é a ordem natural das coisas, a de que são os filhos que devam enterrar seus pais.
Doutor em Nefrologia, reitor da UFMA, membro do IHGM, ACM e AMC
Publicado em O Estado do Maranhão em 03/02/2013
Solenidade de Professor Emérito 30.10.2020
Discurso realizado durante a Colação de Grau de alunos do Câmpus de Chapadinha, no dia 22 de maio
Solenidade de Transmissão de Cargo Gestão (2019-2023)
VIII Encontro de História da Educação
Colação de Grau Campus Grajaú 2014.2
Discurso das Universitárias/2014
Discurso em comemoração aos 160 anos da Associação Comercial do Maranhão
Discurso da entrega do Título de Doutor Honoris Causa à professora Denice Barbara Catani
Discurso da Abertura do VII Encontro Maranhense de História da Educação
Discurso proferido por ocasião da outorga do título de Doutor Honoris Causa a Ignácio Rangel
O HUUFMA é e continuará sendo um hospital público”, afirma Natalino Salgado
Casa do Estudante será entregue no segundo semestre de 2014, afirma reitor da UFMA
Discurso em Pinheiro: Título de Cidadão Pinheirense
Discurso de Posse na Academia Maranhense de Letras
Uma viagem pela bela história do curso de Turismo da UFMA
Discurso de Abertura da 64ª SBPC
Discurso em Pindaré Mirim: Título de cidadão pindareense
9º Congresso Internacional de Nefrologia
Acordes para o tratamento renal
Quando tudo isso vai terminar?
Homenagem do reitor Natalino Salgado ao acadêmico da AML Sálvio Dino
Por uma nova versão da história
E se deixasse de haver ciência?
Homenagem do reitor Natalino Salgado ao acadêmico da AML Milson Coutinho
Homenagem do Reitor Natalino Salgado ao acadêmico da AML Waldemiro Viana
Tempos pandêmicos para secretas lições
Moby Dick, para uma macroscopia do coronavírus
Saúde e educação nas entranhas da cidade
Medicina e Literatura: mais que a vida
Os vírus, as pandemias e as alterações históricas
O vírus, o próprio homem, o racismo e outros inimigos
O cenário das pragas na vida e na literatura
E as lanternas continuam acesas
O gigante aliado no combate ao mal
Doença renal: a prevenção começa na infância (II)
O (velho) novo problema da corrupção
Luzes para Domingos Vieira Filho
Novos cenários para a inovação tecnológica
Uma homenagem a Bacelar Portela
Um poeta, um estadista e um sacerdote
Dom Delgado, um homem visionário (IV)
Dom Delgado, um homem visionário (III)
Dom Delgado, um homem visionário (II)
Dom Delgado, um homem visionário (I)
Páscoa: vida nova a serviço do próximo
A Baixada Maranhense e a sua vocação para a grandeza
Um clamor pelos novos mártires
Novos caminhos para a educação
Ensino para além do tempo e da distância
Arqueologia, mais uma área de conquista da UFMA
O papel protagonista da Associação Comercial do Maranhão
Festival Guarnicê de Cinema: a magia sobrevive (III)
Festival Guarnicê de Cinema: a magia sobrevive (II)
Festival Guarnicê de Cinema: a magia sobrevive
A justiça mais próxima do cidadão
Ubiratan Teixeira: múltiplos em um só
O legado de fé dos santos juninos
Sisu: democratização no acesso ao Ensino Superior
Espaço de celebração e valorização da cultura
Considerações sobre pecado e redenção
Páscoa, libelo em favor da liberdade
Anchieta, história de fé e amor pela educação
Um código de conduta para a rede
Extensão universitária: de braços abertos para a comunidade
Cuidar dos rins é viver melhor
Os (des) caminhos da violência
Pinheiro e Imperatriz, novo celeiro de médicos
A luz que vem da fé (considerações acerca da Epístola do Papa Francisco)
Conhecimento que desconhece fronteiras
Novos passos rumo à melhoria do ensino
Confissões antigas sobre o Maranhão
Oportunidades e melhorias no cenário da saúde
A ética como aliada da ciência
Voto e democracia, simbiose perfeita
Um desafio para o sistema educacional
Pausa para equilíbrio e reflexão
Um presente à altura de São Luís
Educação que liberta e transforma
Quando prevenir, de fato, é melhor que remediar
Interiorização: caminho para a emancipação
Quando o meio é a própria mensagem
Mais que um homem: uma lenda (parte II)
De poesia e de arte também se vive
Uma reivindicação justa e necessária
Vitória, fruto da perseverança
Alfabetização, primeiro passo para o desenvolvimento
Exemplo de abnegação e altruísmo
UFMA: um ano de grandes realizações
Natal, tempo de paz e boa vontade
Ensino a distância revoluciona a educação no mundo
Turismo e Hotelaria no contexto das cidades criativas
São Luís: as homenagens continuam
Energia limpa: caminho para o desenvolvimento
Investir em esporte para gerar campeões
SBPC 2012: cenário de múltiplas possibilidades
O federalismo sob ótica global
Histórias coincidentes de lutas e conquistas
Cultura Universitária x Cidade Universitária
Diversidade local como solução global
Corpus Christi: tempo de recordar para valorizar
Valorizar o passado para compreender o presente
Compartilhar saberes, legar conhecimento