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Palavra do Reitor

Tão perto, tão distante

A Revista Isto é, em reportagem especial no dia 21 de dezembro passado, abordou um tema que revela uma verdadeira revolução no mundo da prática da espiritualidade: as igrejas cristãs no Brasil – católicas e protestantes – estão investindo nas várias possibilidades que a internet oferece hoje. Num mundo em que apenas uma rede social agrega mais de um bilhão de pessoas, e a educação, comércio, comunicação, serviços de toda sorte se realizam de forma virtual – ressaltando que grande parte da vida atualmente se dá neste meio –, é natural explorá-lo também no aspecto da fé.

Essas possibilidades, que a internet oferece, são imensas. Basta lembrar que qualquer serviço ali estará disponível 24 horas, todos os dias do ano, a custos relativamente menores que nas versões físicas que, por natureza, exigem espaço, deslocamento e gasto muito maior com energia e pessoal.

É impossível imaginar o mundo atual sem a internet. Trata-se de mais um presente da tecnologia oferecido a nós, homens e mulheres desta época, algo nunca sonhado por aqueles que nos antecederam. Segundo o sociólogo espanhol Manuel Castells, a internet é mais do que uma tecnologia, é um meio de comunicação, de interação e de organização social.

O impacto dessa tecnologia é tão grande que não há uma única área da atividade humana que não tenha sofrido alguma transformação. Cito duas, ainda que incipientes no Brasil: o judiciário, principalmente após a lei 11.419/06 – que trata da informatização do processo judicial –, numa tentativa de aproximar-se do ideal de Norberto Bobbio que pregou a efetivação/concretização dos direitos humanos; e a medicina, cujos avanços permitem unir médicos em cirurgias a distância. Considerando as dimensões continentais de nosso país e a desigual distribuição de serviços de saúde de qualidade, a utilização dessas ferramentas contribui para a diminuição dos atuais entraves enfrentados pela saúde pública.

Entretanto, a despeito desses feitos dignos de reconhecimento, acredito que a tecnologia associada à virtualidade do ciberespaço também tem seus limites, particularmente no que tange à espiritualidade. Em todas as eras, a fé cristã se materializa na relação com o outro, fisicamente falando. Por definição, ela sempre é comunal. Isso não quer dizer que seja errado o uso dos meios disponíveis para a divulgação da fé. Dilemas semelhantes também foram levantados em relação à telefonia, ao rádio e, posteriormente, à televisão. Porém, essas formas de comunicação são infinitamente limitadas em comparação com a internet, pois esta sugere e simula uma presença que, de fato, não supre aquilo que é a pedra de toque no cristianismo: o contato.

As redes sociais, que são o exemplo mais aproximado da participação em um serviço religioso, considerando aqui o fator relacionamento (a despeito da defesa apaixonada de milhares de pessoas), são acusadas de produzir uma geração de indivíduos isolados, cujas vidas se passam na virtualidade, distantes das trocas humanas reais que não podem ser substituídas.

Ouvir/ver uma pregação ou homilia via internet, até mesmo assistir a um serviço religioso, tem o seu lugar desde que não haja a pretensão de substituir a boa e fraterna relação entre os fiéis que têm sua realização na materialidade. Nesta relação, exercita-se, de fato, a tolerância, a paciência, o cuidado. Esboça-se a humildade, pratica-se o serviço no contato, na presença real ao adoecido e ao carente de afeto.

São Tiago, em sua carta no Novo Testamento, defende que a fé sem obras é morta. A certa altura, desafia: “Alguém poderia dizer ainda: ‘Você tem a fé, e eu tenho as obras.’ Pois bem! Mostre-me a sua fé sem as obras, e eu, com as minhas obras, lhe mostrarei a minha fé”.

Obras aqui significam trabalho com as mãos, algo artesanal, produto do esforço mental e físico. Pode-se inferir, sem considerar a objeção de que é preciso contextualizar a afirmativa do apóstolo – com a qual é preciso concordar –, que há dois mil anos era discutida a virtualização da fé que não supõe o envolvimento com o próximo. O apóstolo exemplifica seu ponto de vista dizendo que se uma pessoa pede algo – portanto uma necessidade concreta – e apenas se diz “ vai em paz, seja abençoado”, de fato, nada foi feito. A religião cristã, à parte de sua verticalidade – que é a relação íntima com Deus –, tem, necessariamente, como fruto da primeira, a dimensão horizontal.

Lembro que, entre os dez maiores avanços científicos do ano de 2012 citados pela revista Science, é fascinante verificar o quanto já alcançamos com a tecnologia: em primeiro lugar, a revista cita a descoberta do Bóson de Higgs, partícula que explica o mistério da massa, intitulada por alguns como ‘partícula de Deus’; elenca o trabalho de cientistas que, na Alemanha, conseguiram sequenciar o genoma completo de um grupo de humanos denominado denisovanos, com uma nova técnica; e, ainda, aponta a demonstração do projeto ENCODE, que constatou a possibilidade de oitenta por cento do genoma humano ser ativo e de ajudar a ligar e desligar genes, o que pode auxiliar cientistas a compreender os fatores de risco genéticos para doenças. São feitos impressionantes, que atestam que a humanidade tem caminhado a passos largos para tornar o mundo cada vez menor, mais interligado e, consequentemente, menos misterioso. Essas informações, num clique de computador, estão disponíveis a todos em qualquer lugar do planeta.

É fato: nunca estivemos tão próximos virtualmente e, ao mesmo tempo, tão distantes fisicamente. Todos têm algo para dizer, para exibir, para compartilhar, mas há coisas na relação entre os seres humanos que não precisam e nem podem ser substituídas por máquinas, nem bits e hiperlinks: o abraço fraterno, a mão amiga, o olhar compreensivo, o sorriso cúmplice. Defendo que se utilize o mundo virtual, que nele se divulguem notícias, informações úteis e que até se propaguem as Boas Novas como vêm fazendo os mais diversos grupos religiosos, contudo a vivência da fé, em sua essência, pede, por sua forma e conteúdo, a experiência material.

Doutor em Nefrologia, reitor da UFMA, membro do IHGM, ACM e AMC

Publicado em O Estado do Maranhão em 13/01/2013

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