Você está na versão antiga do portal da UFMA. O conteúdo mais atual está no novo portal.

Obs: algumas funcionalidades, ainda não migradas, podem ser encontradas nesta versão.

Início do conteúdo da página
Início do conteúdo da página

Palavra do Reitor

As lições das cicatrizes

Quando começamos os primeiros dias deste ano de 2020, acalentávamos os mais diversos planos. Havia, como sempre, uma expectativa própria dos que almejam e trabalham pelo melhor. Tenho nítidas, na memória, as primeiras notícias de uma gripe que começava a causar certa apreensão nas equipes médicas da distante China. Logo, articulistas começaram a fazer comparações com outras tantas já ocorridas. Mas havia algo estranho naquela doença. Não parecia haver uma forma de tratá-la, enquanto os cálculos epidemiológicos iniciaram projeções que se mostravam inquietantes. Mal sabíamos que nosso mundo, fragilmente equilibrado entre tantos perigos, seria convulsionado e virado de ponta-cabeça.

Entre as muitas dúvidas e informações faltantes, assistimos à onda subir como um mortal tsunami e, impotente, vimos o vírus saltar de um lugar a outro, numa velocidade estonteante. Quando nos demos por nós, ele campeava na Europa, colhendo sua safra de mortos.

Nosso país pagou um caro quinhão de sofrimento e, então, aqui também assistimos às assustadoras notícias de pessoas cada vez mais próximas que adoeciam. Perdemos algumas delas, incluídas nas alarmantes estatísticas. Imagens de cidades e megalópoles completamente vazias. Cemitérios improvisados com centenas de covas abertas expunham, ao mesmo tempo, um cenário apocalíptico.

Na verdade, a luta ainda não acabou. No mundo inteiro, deparamo-nos com uma competição diferente: quem será o primeiro a ter uma vacina para fazer frente ao inimigo. Estamos quase lá. Podemos fazer timidamente alguma previsão, porque agora sabemos mais sobre o vírus do que antes.

O cinema retratou bem antes essas realidades improváveis. Contágio é uma das ficções mais assustadoras. Relata a história de uma pandemia originada na China e foca no primeiro caso de alguém contaminado com o vírus. A gripe é outra ficção com traços amedrontadores: o filme apresenta uma verdadeira corrida contra o tempo, pois aquele inimigo microscópico, caso não fosse tratado e debelado, mataria em 36 horas. E mais: fora da ficção, temos que lidar com o medo, o efeito colateral mais terrível, que faz suas vítimas também em adoecimento emocional. E o não-saber cria cenários catastróficos. 

Mas a tragédia também tem gerado seus heróis. Sem capa ou superpoderes, são homens e mulheres que têm sofrido nos hospitais, clínicas e pronto socorros superlotados, e, acima de tudo, têm enfrentado com galhardia o inimigo invisível que ainda pode estar em qualquer lugar à espreita. Muitos destes soldados também têm adoecido. Muitos estão mortos.

É de Cecília Meireles a constatação de que a vida só é possível se
reinventada. Estamos com meses de sofrimento contra um inimigo renitente e imperceptível. Não obstante, sua permanência também nos tem dado habilidades e produzido resiliência. Por isso, logo começamos a contabilizar milhares de vidas salvas. O ânimo renasceu como que das cinzas e, como afirma Guilherme Arantes, “amanhã/ a luminosidade/alheia a qualquer vontade/ há de imperar”.

Ainda que não tenhamos vencido o coronavírus, já não temos mais tanto medo. Agora sabemos que o venceremos e o tempo corre a nosso favor. Creio que sairemos melhores e maiores, a despeito do que carregaremos vida afora. Serão muitas as cicatrizes, sim, mas prefiro considerá-las lições. Dolorosas, marcantes, implacáveis, porém inevitáveis e, talvez necessárias, se levarmos em consideração que sempre pagamos um elevado preço como consequência de nossos atos. Um elevado preço, para vivermos o que “será pleno”.

Natalino Salgado Filho
Reitor da UFMA, Titular da Academia Nacional de Medicina, Academia de Letras do MA e da Academia Maranhense de Medicina.

Publicado em O Estao do MA, em 14/11/2020

 

Mais opções
Copiar url

Necessita-se de realistas

Palavras não encobrem fatos

Acordes para o tratamento renal

As lições das cicatrizes

Sobre o insubstituível

A ciência e o impossível

A luta continua

Porque a vida não espera

Revolução educacional

Quando tudo isso vai terminar?

Quando as pestes nos assaltam

Homenagem do reitor Natalino Salgado ao acadêmico da AML Sálvio Dino

Por uma nova versão da história

E se deixasse de haver ciência?

Entre linhas de luz

Homenagem do reitor Natalino Salgado ao acadêmico da AML Milson Coutinho

Homenagem do Reitor Natalino Salgado ao acadêmico da AML Waldemiro Viana

Tempos pandêmicos para secretas lições

Moby Dick, para uma macroscopia do coronavírus

Saúde e educação nas entranhas da cidade

Medicina e Literatura: mais que a vida

Os vírus, as pandemias e as alterações históricas

Ciência a serviço da vida

O vírus, o próprio homem, o racismo e outros inimigos

O sacrifício da verdade

Efeitos colaterais

Lá fora, sem sair de casa

O cenário das pragas na vida e na literatura

E as lanternas continuam acesas

Para sempre afetuosos

Será admirável o mundo novo?

O gigante aliado no combate ao mal

A (nova) escolha de Sofia

Qual fim está próximo?

Dia Internacional da Mulher

Doença renal: a prevenção começa na infância (II)

Celeiro de excelência

O (velho) novo problema da corrupção

Tempos difíceis

Obreiro do Conhecimento

Uma palavra de gratidão

Salve Mário Meireles!

Luzes para Domingos Vieira Filho

Novos cenários para a inovação tecnológica

A benção, meu pai

Dunas e saudade

A (anunciada) tragédia grega

Uma homenagem a Bacelar Portela

Um poeta, um estadista e um sacerdote

Reivindicação atendida

Dom Delgado, um homem visionário (IV)

Dom Delgado, um homem visionário (III)

Dom Delgado, um homem visionário (II)

Dom Delgado, um homem visionário (I)

Uma reparação histórica

Páscoa: vida nova a serviço do próximo

A Baixada Maranhense e a sua vocação para a grandeza

Um clamor pelos novos mártires

O legado de Darwin

Excelência no esporte

O essencial é que importa

Contra a intolerância

Menos corrupção em 2015

Contra a intolerância

O brilho de Carlos e Zelinda

A UFMA e o empreendedorismo

Inesquecível Mohana

TJ-MA e a justiça

Valorização da ciência

Novos caminhos para a educação

Ensino para além do tempo e da distância

Arqueologia, mais uma área de conquista da UFMA

O papel protagonista da Associação Comercial do Maranhão

Festival Guarnicê de Cinema: a magia sobrevive (III)

Festival Guarnicê de Cinema: a magia sobrevive (II)

Festival Guarnicê de Cinema: a magia sobrevive

A lição da Copa

A justiça mais próxima do cidadão

No caminho certo

Ubiratan Teixeira: múltiplos em um só

O legado de fé dos santos juninos

Sisu: democratização no acesso ao Ensino Superior

Espaço de celebração e valorização da cultura

Chagas de ausência

Mais um avanço da UFMA

Considerações sobre pecado e redenção

Páscoa, libelo em favor da liberdade

O dia em que a baixada parou

Anchieta, história de fé e amor pela educação

Um código de conduta para a rede

Um reconhecimento merecido

Vértice de oportunidades

O chamado da liberdade

A solução passa pela família

Extensão universitária: de braços abertos para a comunidade

Cuidar dos rins é viver melhor

Em defesa dos nobres valores

Contra a exclusão, a formação

Os (des) caminhos da violência

Pinheiro e Imperatriz, novo celeiro de médicos

Uma revolução em curso

Um ano de novas conquistas

A luz que vem da fé (considerações acerca da Epístola do Papa Francisco)

Conhecimento que desconhece fronteiras

Pelo diálogo e pela sensatez

Novos passos rumo à melhoria do ensino

Confissões antigas sobre o Maranhão

Oportunidades e melhorias no cenário da saúde

A ética como aliada da ciência

Merecidas palmas

A UFMA e o ENEM (parte II)

A UFMA E O ENEM (parte I)

(A)Deus, minha mãe

Voto e democracia, simbiose perfeita

Um desafio para o sistema educacional

Sobre despedidas e inícios

Pausa para equilíbrio e reflexão

Um presente à altura de São Luís

Educação que liberta e transforma

À espera de reforços

Democratizando o acesso

A benção de ser pai

Santa madre Igreja

Bem-vindo, Francisco

Quando prevenir, de fato, é melhor que remediar

E a violência?

Sinal de alerta

Sobre a paz e Santo Antonio

Interiorização: caminho para a emancipação

Quando o meio é a própria mensagem

Mais que um homem: uma lenda (parte II)

Mais que um homem: uma lenda

De poesia e de arte também se vive

Uma reivindicação justa e necessária

Vitória, fruto da perseverança

Inimigo oculto

A ordem natural das coisas

Alfabetização, primeiro passo para o desenvolvimento

Exemplo de abnegação e altruísmo

Um ato de reparação

O legado de Bento XVI

E Deus criou a mulher...

Excelência no Continente

O Admirável mundo da química

UFMA: um ano de grandes realizações

Tão perto, tão distante

Natal, tempo de paz e boa vontade

Reconhecimento à Bancada

Reflexões acerca do ano da fé

Medicina: um dom e uma missão

Ensino a distância revoluciona a educação no mundo

Turismo e Hotelaria no contexto das cidades criativas

São Luís: as homenagens continuam

A realização de um sonho

Energia limpa: caminho para o desenvolvimento

Investir em esporte para gerar campeões

SBPC 2012: cenário de múltiplas possibilidades

O federalismo sob ótica global

Histórias coincidentes de lutas e conquistas

Cultura Universitária x Cidade Universitária

Agradecer também é reconhecer

Diversidade local como solução global

Corpus Christi: tempo de recordar para valorizar

Valorizar o passado para compreender o presente

Compartilhar saberes, legar conhecimento

A SBPC e os saberes tradicionais

A educação que movimenta o desenvolvimento