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Palavra do Reitor

Lá fora, sem sair de casa

O título desta crônica apenas parece um paradoxo. Mas é a prática que tem desafiado o impossível, em tempos de quarentena. Tenho lido e acompanhado, de perto, situações curiosas e reveladoras não só de novos heróis, mas também de almas egoístas, que compõem este cenário para o aprendizado de lições que nos servirão para viver o novo normal que nos aguarda.

Por um lado, há o grupo dos solidários: em alguns bairros da capital, os mais jovens se oferecem para fazer compras para os vizinhos idosos. Diversas costureiras, ao mesmo tempo em que estão lucrando com a confecção de máscaras de tecido, aproveitam a mesma máquina, para produzir peças para doação. Homens e mulheres se engajam para levar cestas básicas às periferias, bem como para distribuir refeições em vários abrigos.

Há poucos dias, em um voo para Manaus, que sofre, implacavelmente, pelos efeitos do coronavírus, o piloto leu o nome de cada um dos profissionais de saúde que estavam a bordo e pediu para que os passageiros os aplaudissem. Profissionais diversos têm feito lives nas mídias sociais para ensinar gratuitamente algum ofício, compartilhar conhecimento. Religiosos de todos os credos se esmeram em atenção, por telefone ou internet, para oferecerem palavras de conforto e de motivação aos fiéis. São os altruístas que, a despeito de tempo e circunstância, aprimoram o que já carregavam consigo: o exercício de bondade e misericórdia.

Por outro lado, há o grupo dos egoístas. Estes, também, são facilmente detectáveis: aproveitam a ocasião para lucrar o máximo e estocar o quanto puderem, seja comida, remédio e material de higiene, como se o mundo fosse acabar amanhã e nada mais importasse. O próximo que se vire, que aguarde, que espere. Relatos há de remédios que, há poucos meses, custavam um valor e que agora passaram a ser vendidos pelo triplo ou quádruplo do preço anterior. Item como oxímetro – vendido a pouco mais de 100,00 Reais - está sendo comercializado entre 450,00 e 600,00 Reais. E alimentos, entregues via delivery, chegam às casas pelo dobro do preço cobrado nas prateleiras dos supermercados.

Há também os patrões que não se dão o trabalho – e poderiam fazê-lo, tranquilamente, se o quisessem – de lançar mão dos mecanismos previstos nas diversas medidas legais/jurídicas que permitem suspensão de contratos, redução de salários, adiantamento de férias, com vistas à preservação dos empregos. Demitem seus trabalhadores sem se importarem com as consequências. Clientes que poderiam fazer alguma coisa para colaborar, esquecem, propositadamente, aqueles bons prestadores de serviço, que, neste momento, estão em casa, aflitos, pensando em como será o amanhã.

Eis uma situação digna de registro, nesse mesmo espectro: há poucos dias, fiquei sabendo que, em determinado edifício da capital, os moradores se reuniram com hostilidade contra alguns enfermeiros. Estes, sem poder voltar para casa em razão de estarem na linha de frente do combate ao Covid-19, foram alvos de manifestações raivosas, pelo fato de estabelecerem residência temporária naquele condomínio. Vejam só: os algozes sequer pararam para pensar que talvez viessem a precisar, ao chegar em qualquer hospital, dos mesmos alvos de seu ódio e incompreensão. “O inferno são os outros”, já alertava Jean Paul Sartre.

Entretanto, nenhuma conquista advém do egoísmo e da falta de empatia. Nenhuma vitória, por mínima que seja, surge de um sujeito isolado, sozinho, sem Deus, sem levar em consideração o outro e seu contexto. Podemos vencer a Covid-19, mas a quarentena, a que estamos submetidos, deixará profundas marcas – boas ou ruins - na alma de todos. Nunca foram tão precisas as palavras do poeta Caio Fernando Abreu: “[...] que nos falte egoísmo. Que nos sobre paciência. Que sejamos capazes de enxergar algo de bom em cada momento ruim que nos acontecer”.

A história de todos e minha experiência me autorizam a reafirmar que a humanidade tem uma capacidade incrível de se reinventar. De pensar e agir coletivamente. De fazer coisas extraordinárias. De avançar e definir novas formas de existir. Não sejamos egoístas. Façamos parte do grupo das pessoas melhores, solidárias, no novo cotidiano que está por vir.

Natalino Salgado Filho
Reitor da UFMA, Titular da Academia Nacional de Medicina, de Letras do MA e da AMM.

Publicado em O Estado do MA, em 13/06/2020

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