Você está na versão antiga do portal da UFMA. O conteúdo mais atual está no novo portal.

Obs: algumas funcionalidades, ainda não migradas, podem ser encontradas nesta versão.

Início do conteúdo da página
Início do conteúdo da página

Palavra do Reitor

Moby Dick, para uma macroscopia do coronavírus

Tive a honra de fazer parte do Simpósio sobre Pandemia e Literatura, proposto e coordenado pelo Acadêmico e meu confrade Gilberto Schwartsmann, ao lado do acadêmico Ricardo Cruz. Aquela tarde memorável, sob a devida vênia de nosso presidente Rubens Belfort, contou ainda com a participação de outros componentes da Academia Nacional de Medicina e da Academia Brasileira de Letras. 

Tão importantes foram as palestras ali proferidas, que tomo a liberdade de compartilhar o que cada uma das obras reflete destes tempos pandêmicos, a começar por Moby Dick, clássica obra do escritor americano Herman Melville, publicada em 1851. Coube a Schwartsmann atualizar as lições de Moby Dick, na releitura que a torna familiar: a imprevisibilidade da natureza e a impossibilidade que se nos apresenta, quando pensamos que podemos dominá-la completamente. Em tempos de coronavírus, a constatação ainda é a mesma: não passamos de seres frágeis e impotentes ante sua fúria.

Na obra narrada em primeira pessoa pelo marinheiro Ismael, um professor rural de uma família tradicional que se aventura para conhecer a vida “aquosa”, por meio da navegação,  Melville retrata o drama pessoal de um homem profundamente fanático e vingativo, capitão Ahab, que comandaria o barco Pequod, no Pacífico, sem pensar nos riscos que correria a tripulação, em busca da lendária baleia branca, um cachalote de nome Moby Dick.

Mas o objetivo não era apenas comercial. O objetivo de sua viagem era outro: a sanha da vitória, da subjugação e da dominação de um ser poderoso e imprevisível que o guiava, que o instigava. A obra, tão atual como nunca, representa a natureza indomável e a luta feroz do homem na tentativa de dominá-la. O capitão Ahab simboliza a impetuosidade humana que, em sua tentativa de lutar contra a natureza, destrói a ambos.

Os tripulantes do Pequod terão trágico fim, à exceção do jovem Ismael. Muitas comparações e inferências foram produzidas nestes mais de cem anos da publicação da obra e, se há um fio condutor, mencionou Schwartsmann, este é o binômio beleza-tragédia que a natureza carrega consigo. Naquele momento, mencionou o mítico Leviatã, que serviria para intitular a obra de Hobbes, e também o monstro do Lago Ness. O confrade seguiu recordando que o próprio mar, cenário das batalhas do capitão, foi um dos grandes inspiradores de Fernando Pessoa: “...Deus ao mar o perigo e o abismo deu/ Mas nele é que espelhou o céu”. A força descomunal da baleia é também vista na obra de Hemingway, por meio dos touros, tema de O Sol Também se Levanta.

Recomendo os filmes Moby Dick, de 1956, em que o ator Gregory Peck dá vida ao atormentado capitão Ahab e, mais recentemente, No coração do mar, de 2015, que conta que Herman Melville teve acesso a Moby Dick, ao ouvir a história do baleeiro Essex. Ambos podem ser encontrados facilmente nas plataformas de streaming.

Schwartsmann também lembrou de tantos outros dramas humanos, a partir dos males advindos das pragas. Mencionou dores e mortes, incluindo a de Arthur Bernardes, um presidente brasileiro; referiu-se a doenças como a tuberculose, retratada em Floradas da Serra, da escritora paulista Dinah Silveira de Queiroz e que, também, vitimaria José de Alencar, que teve, em seu romance Lucíola, a sua vez de fazer referência à febre amarela. Mas foi com ênfase em Moby Dick, que fez transparecer nossa incapacidade de compreender que a natureza, de cujo sistema nós somos apenas uma parte, não pode ser afetada sem que haja sérias consequências, porque o homem é apenas um ilusório dominador.

O coronavírus, que tem dizimado, incalculavelmente, para além dos limites da tripulação do Pequod, pôde ser visto, nas dimensões macroscópicas de Moby Dick, como o inimigo destes dias pandêmicos  que temos enfrentado, sob toda ordem de conflitos e embates.

Natalino Salgado Filho
Reitor da UFMA, Titular da Academia Nacional de Medicina, de Letras do MA e da AMM.

Publicado em O Estado do MA, em 25/07/2020

Mais opções
Copiar url

Necessita-se de realistas

Palavras não encobrem fatos

Acordes para o tratamento renal

As lições das cicatrizes

Sobre o insubstituível

A ciência e o impossível

A luta continua

Porque a vida não espera

Revolução educacional

Quando tudo isso vai terminar?

Quando as pestes nos assaltam

Homenagem do reitor Natalino Salgado ao acadêmico da AML Sálvio Dino

Por uma nova versão da história

E se deixasse de haver ciência?

Entre linhas de luz

Homenagem do reitor Natalino Salgado ao acadêmico da AML Milson Coutinho

Homenagem do Reitor Natalino Salgado ao acadêmico da AML Waldemiro Viana

Tempos pandêmicos para secretas lições

Moby Dick, para uma macroscopia do coronavírus

Saúde e educação nas entranhas da cidade

Medicina e Literatura: mais que a vida

Os vírus, as pandemias e as alterações históricas

Ciência a serviço da vida

O vírus, o próprio homem, o racismo e outros inimigos

O sacrifício da verdade

Efeitos colaterais

Lá fora, sem sair de casa

O cenário das pragas na vida e na literatura

E as lanternas continuam acesas

Para sempre afetuosos

Será admirável o mundo novo?

O gigante aliado no combate ao mal

A (nova) escolha de Sofia

Qual fim está próximo?

Dia Internacional da Mulher

Doença renal: a prevenção começa na infância (II)

Celeiro de excelência

O (velho) novo problema da corrupção

Tempos difíceis

Obreiro do Conhecimento

Uma palavra de gratidão

Salve Mário Meireles!

Luzes para Domingos Vieira Filho

Novos cenários para a inovação tecnológica

A benção, meu pai

Dunas e saudade

A (anunciada) tragédia grega

Uma homenagem a Bacelar Portela

Um poeta, um estadista e um sacerdote

Reivindicação atendida

Dom Delgado, um homem visionário (IV)

Dom Delgado, um homem visionário (III)

Dom Delgado, um homem visionário (II)

Dom Delgado, um homem visionário (I)

Uma reparação histórica

Páscoa: vida nova a serviço do próximo

A Baixada Maranhense e a sua vocação para a grandeza

Um clamor pelos novos mártires

O legado de Darwin

Excelência no esporte

O essencial é que importa

Contra a intolerância

Menos corrupção em 2015

Contra a intolerância

O brilho de Carlos e Zelinda

A UFMA e o empreendedorismo

Inesquecível Mohana

TJ-MA e a justiça

Valorização da ciência

Novos caminhos para a educação

Ensino para além do tempo e da distância

Arqueologia, mais uma área de conquista da UFMA

O papel protagonista da Associação Comercial do Maranhão

Festival Guarnicê de Cinema: a magia sobrevive (III)

Festival Guarnicê de Cinema: a magia sobrevive (II)

Festival Guarnicê de Cinema: a magia sobrevive

A lição da Copa

A justiça mais próxima do cidadão

No caminho certo

Ubiratan Teixeira: múltiplos em um só

O legado de fé dos santos juninos

Sisu: democratização no acesso ao Ensino Superior

Espaço de celebração e valorização da cultura

Chagas de ausência

Mais um avanço da UFMA

Considerações sobre pecado e redenção

Páscoa, libelo em favor da liberdade

O dia em que a baixada parou

Anchieta, história de fé e amor pela educação

Um código de conduta para a rede

Um reconhecimento merecido

Vértice de oportunidades

O chamado da liberdade

A solução passa pela família

Extensão universitária: de braços abertos para a comunidade

Cuidar dos rins é viver melhor

Em defesa dos nobres valores

Contra a exclusão, a formação

Os (des) caminhos da violência

Pinheiro e Imperatriz, novo celeiro de médicos

Uma revolução em curso

Um ano de novas conquistas

A luz que vem da fé (considerações acerca da Epístola do Papa Francisco)

Conhecimento que desconhece fronteiras

Pelo diálogo e pela sensatez

Novos passos rumo à melhoria do ensino

Confissões antigas sobre o Maranhão

Oportunidades e melhorias no cenário da saúde

A ética como aliada da ciência

Merecidas palmas

A UFMA e o ENEM (parte II)

A UFMA E O ENEM (parte I)

(A)Deus, minha mãe

Voto e democracia, simbiose perfeita

Um desafio para o sistema educacional

Sobre despedidas e inícios

Pausa para equilíbrio e reflexão

Um presente à altura de São Luís

Educação que liberta e transforma

À espera de reforços

Democratizando o acesso

A benção de ser pai

Santa madre Igreja

Bem-vindo, Francisco

Quando prevenir, de fato, é melhor que remediar

E a violência?

Sinal de alerta

Sobre a paz e Santo Antonio

Interiorização: caminho para a emancipação

Quando o meio é a própria mensagem

Mais que um homem: uma lenda (parte II)

Mais que um homem: uma lenda

De poesia e de arte também se vive

Uma reivindicação justa e necessária

Vitória, fruto da perseverança

Inimigo oculto

A ordem natural das coisas

Alfabetização, primeiro passo para o desenvolvimento

Exemplo de abnegação e altruísmo

Um ato de reparação

O legado de Bento XVI

E Deus criou a mulher...

Excelência no Continente

O Admirável mundo da química

UFMA: um ano de grandes realizações

Tão perto, tão distante

Natal, tempo de paz e boa vontade

Reconhecimento à Bancada

Reflexões acerca do ano da fé

Medicina: um dom e uma missão

Ensino a distância revoluciona a educação no mundo

Turismo e Hotelaria no contexto das cidades criativas

São Luís: as homenagens continuam

A realização de um sonho

Energia limpa: caminho para o desenvolvimento

Investir em esporte para gerar campeões

SBPC 2012: cenário de múltiplas possibilidades

O federalismo sob ótica global

Histórias coincidentes de lutas e conquistas

Cultura Universitária x Cidade Universitária

Agradecer também é reconhecer

Diversidade local como solução global

Corpus Christi: tempo de recordar para valorizar

Valorizar o passado para compreender o presente

Compartilhar saberes, legar conhecimento

A SBPC e os saberes tradicionais

A educação que movimenta o desenvolvimento