Você está na versão antiga do portal da UFMA. O conteúdo mais atual está no novo portal.

Obs: algumas funcionalidades, ainda não migradas, podem ser encontradas nesta versão.

Início do conteúdo da página
Início do conteúdo da página

Palavra do Reitor

O sacrifício da verdade

Começo esta crônica reafirmando: “na guerra, a primeira vítima é a verdade”. Alguns supõem ser de autoria do senador americano Hiram Johnson, mas interessa aqui a articulação com a constatação de Ésquilo, um dos grandes trágicos gregos, que, em outras palavras, advertiu: “escute só a maioria e escutará apenas uma parte”. Nestes tempos, causa espanto conviver com controvérsias farmacêuticas, médicas e econômicas de toda ordem e com o esforço hercúleo de manter nossa integridade física e emocional. A verdade é imolada todos os dias.

Talvez seja da natureza das crises produzir efeitos colaterais antagônicos sobre si mesmas, por tantas opiniões divergentes e diversas percepções e formas diferentes de resolvê-las. Desse desencontro, nascem mitos que alimentam uma grande indústria de fake news e de teorias conspiratórias. Afinal, quem não recebe, diariamente, uma informação de origem duvidosa, com o alerta: “repasse para o máximo de pessoas”? Ou mensagens daquele conhecido que crê, piamente, num grande complô político, prestes a eclodir? Ou mesmo, quem não tem um parente que, volta e meia, compartilhe um áudio de um fulano desconhecido que descobriu uma cura milagrosa a que ninguém mais teve acesso?

Creio que todos estamos acostumados com esses personagens e, quem sabe, sejamos algum deles. Mas o que causa maior assombro não é isso, mas o fato de que a ciência que, minimamente, se supõe exata, em suas asseverações, tenha sido engolfada por protagonismos que mais confundem do que tranquilizam, e, muitas vezes, estão a serviço dos políticos de plantão.

Por exemplo: a Organização Mundial de Saúde (OMS) é uma instituição de grande representação, da qual aguardamos coerência e segurança na condução dessa grave crise sanitária que se abateu sobre o globo. Nestes poucos meses de disseminação da COVID 19, a OMS acenou com algumas posturas contraditórias: demorou para assumir que estávamos diante do avanço de uma pandemia, condenou o uso de medicamentos, sem respaldo científico; iniciou, suspendeu e retomou uma série de pesquisas em curto espaço de tempo e demorou mais ainda para adotar um protocolo de enfrentamento da praga. Com atitudes assim, mais preocupações e insegurança à população.

Em terras brasileiras, a (des)informação também faz suas vítimas. Temos assistido assustados à tentativa desesperada de protagonismo sem mérito. De repente, muitos se julgam médicos, farmacêuticos, economistas e juristas. Profetas de mídias sociais, aterrorizadores de mentes incautas e incendiadores eivados pelo despreparo. Imbróglio político e prejuízos são incontestáveis:  atraso da tomada de medidas ou pânico lançado à população.

Até as estatísticas da doença têm sido alvo de ataque. O Brasil é um país com relativa, mas segura consistência em seus dados de saúde, embora nos falte crescente investimento em pesquisa que abranja o país em várias áreas da saúde. Não creio que a população não seja madura para saber os números reais. Sem dados corretos, como se fará o enfrentamento?   Lembremo-nos de que o número de estudos de caso e artigos são baixos e recentes e que ainda não há certezas solidificadas.

Muitas vezes, a política e a ciência caminham em lados opostos. Na primeira, os interesses são favoráveis aos objetivos dos detentores do poder. A segunda, heroicamente, tenta avançar, criando meios mais seguros, mais revolucionários, mais eficazes. O pesquisador Alan Sokal, um dos mais respeitados cientistas americanos, ao ser questionado sobre esse antagonismo, declarou, em entrevista, que um dos piores inimigos da ciência é a política praticada por “todas essas pessoas que não se preocupam em saber se uma afirmação que fazem tem provas, e que simplesmente tratam de convencer o público a tomar uma conclusão pré-determinada com qualquer método que funcione - ainda que seja desonesto ou fraudulento. “

A verdade a ser dita: não temos um remédio específico, nem mesmo vacinas. O isolamento social e o uso correto das máscaras são eficazes para aguardar a adoção de outras armas. Por isso, precisamos contar com a fé em Deus para tornar possível nosso anseio; com a confiança na ciência para realizar os meios de cura e de prevenção e com o olhar crítico para avaliar o limite dos decretos em garantir nossa saúde e nossas vidas. São as armas que temos para não ocuparmos o lugar de vítimas. Caso contrário, nós – a sociedade – seremos sacrificados pelo engano. Porque a verdade tem sido imolada todos os dias. 

Natalino Salgado Filho

Reitor da UFMA, Titular da Academia Nacional de Medicina, de Letras do MA e da AMM.

Publicado no jornal O Estado do Maranhão em 20/06/2020.

Mais opções
Copiar url

Necessita-se de realistas

Palavras não encobrem fatos

Acordes para o tratamento renal

As lições das cicatrizes

Sobre o insubstituível

A ciência e o impossível

A luta continua

Porque a vida não espera

Revolução educacional

Quando tudo isso vai terminar?

Quando as pestes nos assaltam

Homenagem do reitor Natalino Salgado ao acadêmico da AML Sálvio Dino

Por uma nova versão da história

E se deixasse de haver ciência?

Entre linhas de luz

Homenagem do reitor Natalino Salgado ao acadêmico da AML Milson Coutinho

Homenagem do Reitor Natalino Salgado ao acadêmico da AML Waldemiro Viana

Tempos pandêmicos para secretas lições

Moby Dick, para uma macroscopia do coronavírus

Saúde e educação nas entranhas da cidade

Medicina e Literatura: mais que a vida

Os vírus, as pandemias e as alterações históricas

Ciência a serviço da vida

O vírus, o próprio homem, o racismo e outros inimigos

O sacrifício da verdade

Efeitos colaterais

Lá fora, sem sair de casa

O cenário das pragas na vida e na literatura

E as lanternas continuam acesas

Para sempre afetuosos

Será admirável o mundo novo?

O gigante aliado no combate ao mal

A (nova) escolha de Sofia

Qual fim está próximo?

Dia Internacional da Mulher

Doença renal: a prevenção começa na infância (II)

Celeiro de excelência

O (velho) novo problema da corrupção

Tempos difíceis

Obreiro do Conhecimento

Uma palavra de gratidão

Salve Mário Meireles!

Luzes para Domingos Vieira Filho

Novos cenários para a inovação tecnológica

A benção, meu pai

Dunas e saudade

A (anunciada) tragédia grega

Uma homenagem a Bacelar Portela

Um poeta, um estadista e um sacerdote

Reivindicação atendida

Dom Delgado, um homem visionário (IV)

Dom Delgado, um homem visionário (III)

Dom Delgado, um homem visionário (II)

Dom Delgado, um homem visionário (I)

Uma reparação histórica

Páscoa: vida nova a serviço do próximo

A Baixada Maranhense e a sua vocação para a grandeza

Um clamor pelos novos mártires

O legado de Darwin

Excelência no esporte

O essencial é que importa

Contra a intolerância

Menos corrupção em 2015

Contra a intolerância

O brilho de Carlos e Zelinda

A UFMA e o empreendedorismo

Inesquecível Mohana

TJ-MA e a justiça

Valorização da ciência

Novos caminhos para a educação

Ensino para além do tempo e da distância

Arqueologia, mais uma área de conquista da UFMA

O papel protagonista da Associação Comercial do Maranhão

Festival Guarnicê de Cinema: a magia sobrevive (III)

Festival Guarnicê de Cinema: a magia sobrevive (II)

Festival Guarnicê de Cinema: a magia sobrevive

A lição da Copa

A justiça mais próxima do cidadão

No caminho certo

Ubiratan Teixeira: múltiplos em um só

O legado de fé dos santos juninos

Sisu: democratização no acesso ao Ensino Superior

Espaço de celebração e valorização da cultura

Chagas de ausência

Mais um avanço da UFMA

Considerações sobre pecado e redenção

Páscoa, libelo em favor da liberdade

O dia em que a baixada parou

Anchieta, história de fé e amor pela educação

Um código de conduta para a rede

Um reconhecimento merecido

Vértice de oportunidades

O chamado da liberdade

A solução passa pela família

Extensão universitária: de braços abertos para a comunidade

Cuidar dos rins é viver melhor

Em defesa dos nobres valores

Contra a exclusão, a formação

Os (des) caminhos da violência

Pinheiro e Imperatriz, novo celeiro de médicos

Uma revolução em curso

Um ano de novas conquistas

A luz que vem da fé (considerações acerca da Epístola do Papa Francisco)

Conhecimento que desconhece fronteiras

Pelo diálogo e pela sensatez

Novos passos rumo à melhoria do ensino

Confissões antigas sobre o Maranhão

Oportunidades e melhorias no cenário da saúde

A ética como aliada da ciência

Merecidas palmas

A UFMA e o ENEM (parte II)

A UFMA E O ENEM (parte I)

(A)Deus, minha mãe

Voto e democracia, simbiose perfeita

Um desafio para o sistema educacional

Sobre despedidas e inícios

Pausa para equilíbrio e reflexão

Um presente à altura de São Luís

Educação que liberta e transforma

À espera de reforços

Democratizando o acesso

A benção de ser pai

Santa madre Igreja

Bem-vindo, Francisco

Quando prevenir, de fato, é melhor que remediar

E a violência?

Sinal de alerta

Sobre a paz e Santo Antonio

Interiorização: caminho para a emancipação

Quando o meio é a própria mensagem

Mais que um homem: uma lenda (parte II)

Mais que um homem: uma lenda

De poesia e de arte também se vive

Uma reivindicação justa e necessária

Vitória, fruto da perseverança

Inimigo oculto

A ordem natural das coisas

Alfabetização, primeiro passo para o desenvolvimento

Exemplo de abnegação e altruísmo

Um ato de reparação

O legado de Bento XVI

E Deus criou a mulher...

Excelência no Continente

O Admirável mundo da química

UFMA: um ano de grandes realizações

Tão perto, tão distante

Natal, tempo de paz e boa vontade

Reconhecimento à Bancada

Reflexões acerca do ano da fé

Medicina: um dom e uma missão

Ensino a distância revoluciona a educação no mundo

Turismo e Hotelaria no contexto das cidades criativas

São Luís: as homenagens continuam

A realização de um sonho

Energia limpa: caminho para o desenvolvimento

Investir em esporte para gerar campeões

SBPC 2012: cenário de múltiplas possibilidades

O federalismo sob ótica global

Histórias coincidentes de lutas e conquistas

Cultura Universitária x Cidade Universitária

Agradecer também é reconhecer

Diversidade local como solução global

Corpus Christi: tempo de recordar para valorizar

Valorizar o passado para compreender o presente

Compartilhar saberes, legar conhecimento

A SBPC e os saberes tradicionais

A educação que movimenta o desenvolvimento