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Palavra do Reitor

O legado de Darwin

Sigmund Freud, o criador da psicanálise, denominou de três grandes feridas os acontecimentos que golpearam profundamente a natureza narcisista da humanidade. O psiquiatra austríaco quis dizer com isso que nosso ego autoindulgente foi abalroado, primeiro, pela descoberta de Nicolau Copérnico, que nos tirou do eixo e da órbita quando asseverou que a Terra não estava no centro do universo. Em nosso lugar ele colocou o Sol, afirmando que o cosmo era heliocêntrico, e não geocêntrico como se imaginava.

Faço uma pequena inversão no tempo das ocorrências desses eventos catastróficos ao ego humano. O próprio Freud, longe de qualquer pudor ou modéstia, atribuiu a terceira ferida às suas descobertas psíquicas, mostrando que a férrea construção de controle e o conhecimento de si mesmo não passam de mera ilusão, pois somos habitados e muitas vezes comandados pelo desconhecido (inconsciente), o qual é movido pelo princípio do prazer, por desejos e sentimentos que provocam comportamentos estranhos e irracionais, que não conseguimos compreender nem controlar.

Finalmente, falarei da segunda ferida narcísica desferida por Charles Darwin, porém, antes, quero esclarecer que, de propósito, fiz a inversão da ordem dessas três chagas, que abalaram o narcisismo do homem, para me dedicar a falar sobre esse naturalista inglês, o qual, no dia 12 passado, se vivo estivesse, teria completado 206 anos. Morreu aos 73 anos. Pois bem, como qualquer aluno do ensino médio sabe, ele foi o autor da Teoria da Evolução. Esta teoria, aparentemente, deslocaria Deus de seu lugar de Criador e nos lançaria nas mãos de uma natureza indiferente, ou seja, seríamos apenas um elo numa cadeia infinita de evoluções entre primatas impulsionados pela lei básica deste processo: a seleção natural.

Darwin levou muitos anos de estudo. Realizou uma célebre viagem de quatro anos e nove meses no navio HSM Beagle com passagem pelo Brasil (duas vezes na Bahia, uma na ida, que incluiu uma parada no Rio de Janeiro, e outra no retorno), onde colheu muitos espécimes de plantas e insetos. O paradigma evolucionário sustenta a biologia até hoje. À parte das delicadas questões que levanta, ele mesmo sofreu o dilema que suas ideias implicavam.

É inatacável, contudo, sua estratégia de pesquisa. Não que Darwin tenha inaugurado o modelo do cientista explorador, mas, seguindo uma máxima sua, “para ser um bom observador é preciso ser um bom teórico”, e isso ele vivenciou com muita intensidade. Formou-se em Medicina, Teologia e, além disso, como ele próprio afirmou, aprendeu tudo o mais porque se considerava um autodidata, embora tenha ficado conhecido como um naturalista.

Nesse sentido, ele é um modelo para as novas gerações. A curiosidade, o método e as perguntas certas movem e continuarão movendo a ciência. As descobertas são frutos de conclusões cevadas há muito tempo de embate com os dados. Desse modo, só para registrar, o livro “Origem das Espécies” foi publicado apenas em 1859, quase 25 anos depois de iniciadas as pesquisas.

O cientista foi um autor prolífico, ao discorrer sobre plantas, animais, geologia, entre outros assuntos. Uma de suas obras quase tão famosa quanto a “Origem das Espécies” é “A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais”, em que estabelece um paralelo entre a psicologia de homens e animais na tentativa de fundamentar e explicar suas conclusões sobre a evolução e a seleção natural.

Darwin foi, acima de tudo, persistente, curioso e audaz, características essas que devem ser imitadas por todos aqueles que amam e valorizam o conhecimento. Não por acaso, ele cunhou a frase: “A atenção é a mais importante de todas as faculdades para o desenvolvimento da inteligência humana”. Seu legado o inscreveu entre os grandes da humanidade e volta e meia deparamo-nos com observações e estudos que se dispõem a revelar a multidiversidade de seus escritos.

De forma propositada, trouxe à baila esse tema com a finalidade de lembrar a solenidade de formatura realizada, nesta última semana, para os alunos dos campi de Chapadinha e Imperatriz. No rosto de dezenas de homens e mulheres, estava estampada a alegria de chegar ao final de mais uma etapa de suas vidas e a ansiedade pelo desafio de uma nova caminhada. Em minha fala, eu os estimulei a continuar superando obstáculos e a colecionar vitórias. A paixão pelo conhecimento incluiu o nome de Darwin na história. Que essa mesma chama se irradie no coração dos recém-formados. Sendo assim, não só a UFMA mas também a sociedade agradecem.

Doutor em Nefrologia, reitor da UFMA, membro do IHGM, da AMM, AMC e AML.

Publicado em O Estado do Maranhão em 22/02/2015

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