Você está na versão antiga do portal da UFMA. O conteúdo mais atual está no novo portal.

Obs: algumas funcionalidades, ainda não migradas, podem ser encontradas nesta versão.

Início do conteúdo da página
Início do conteúdo da página

Palavra do Reitor

Menos corrupção em 2015

"Democratizar o poder significa combater energicamente a corrupção. A corrupção rouba o poder legítimo do povo. A corrupção ofende e humilha os trabalhadores, os empresários e os brasileiros honestos e de bem. A corrupção deve ser extirpada". Esse foi um dos trechos do discurso que a presidente Dilma Rousseff proferiu ao tomar posse no seu segundo mandato, dia 1º (quinta-feira).

O discurso da presidente é emblemático, pois quem se dispuser a conferir vai constatar que a expressão “corrupção no Brasil” figura na internet como um verbete na Wikipédia. Não sou adepto à depreciação do meu país de forma gratuita – quando há outros tantos iguais ou piores –, mas no Índice de Percepção de Corrupção (IPC), criado pela Transparência Internacional, ficamos 69º lugar entre 133 países pesquisados no ano que findou, sendo que, em 2013, estávamos na 72ª posição. A sutil melhora, infelizmente, não representa a realidade, visto que não alcançou o escândalo chamado petrolão, que veio a público em meados de 2014 e que também foi citado pela presidente em seu discurso, quando ela anunciou uma série de medidas para combater esse mal endêmico.

O IPC avalia a corrupção percebida entre funcionários públicos e políticos, a qual é definida, pela ONG Transparência Internacional, como “o abuso do poder confiado para fins privados”. Esse conceito traduz de forma perfeita as condições em que vicejou o patrimonialismo brasileiro, cuja explicação mais simples é a não separação entre o que é público e o que é privado. Nestas circunstâncias, o político eleito pelo voto muitas vezes ganha ares de senhor absolutista, que pode dispor do bem público ao seu bel prazer. Ligado a esta postura, como rêmoras malignas, outras práticas ganham vulto: o nepotismo, os favorecimentos pessoais, os apadrinhamentos, entre outras mazelas tão típicas em nosso país em desfavor da legalidade, do mérito e da própria democracia.

Há vários estudos que apontam raízes do patrimonialismo em nosso registro de nascimento como país. O governo colonial distribuía benesses a quem queria e o DNA dessa prática foi apenas se metamorfoseando pelas várias fases políticas. Em nossas plagas nordestinas, a expressão ganhou o nome de coronelismo, o que explica muito nossos vergonhosos índices de pobreza e exclusão.

O último ano foi pródigo em tumultos, mas nada até agora havia chegado ao nível estratosférico a ponto de provocar artigos em jornais e revistas internacionais, embora estes escritos já estejam acostumados às malfadadas práticas por essas latitudes. Não à toa, por aqui várias empresas internacionais, que operam sobre outros ditames éticos em seus países, entraram no ritmo e também figuraram nas listas de corruptores. Paralelamente a isso, iniciamos o novo ano ainda estupefatos com a maneira orquestrada, extremamente organizada e sistemática da corrupção que assolou a Petrobrás, como se isso fosse uma sombra agourenta que paira sobre o país e o novo congresso, a economia e a administração pública em geral.

A corrupção esvai as forças produtivas. Corrompe o estamento administrativo público. Promove a injustiça social e econômica. Atrasa uma nação como se fosse um câncer que corrói as boas energias representadas pelas riquezas naturais de um país que, em vez de bênçãos, se tornam uma maldição. Como exemplo dessas riquezas, temos os diamantes na África Central, o petróleo na Venezuela, o ouro na Serra Pelada.

Apesar de tudo, entre marchas e contramarchas, da irrupção de tantos escândalos que quase nos anestesiam de apatia desde o conhecido Mensalão, as instituições públicas de controle associadas ao judiciário têm dado mostras de que há uma mobilização, uma inflexão que ensaia movimentos fundamentais na construção de um estado mais equânime e moralmente saudável, isto é, há investigação, julgamento e punição dos corruptos e corruptores, inclusive daqueles que antes eram considerados intocáveis. Ao contrário do que se diz, não é mérito de nenhum partido ou governo, mas das forças sociais que não aceitam mais essas pestilentas condições.

Diante disso, faço a seguinte comparação: num hospital, há um estado de permanente vigilância contra a infecção hospitalar. Para isso, são seguidas medidas estritas de prevenção. Protocolos técnicos são adotados e reavaliados frequentemente e até mesmo avaliações de qualidade externas são contratadas a fim de manter a infecção sob controle. O que se sabe é que ela é uma ameaça sempre. Do mesmo modo, no Brasil urge criar, mas, sobretudo, fortalecer os órgãos de controle. No escândalo da Petrobrás, o TCU apontou em tempo os superfaturamentos de obras, a compra por má-fé e a incompetência da refinaria de Pasadena. Este e outros casos, os políticos – executivo e legislativo – ignoraram e, além disso, ordenaram a continuação de obras sabidamente condenadas.

Outro grande avanço é a lei da Ficha Limpa, que tem entre seus postuladores o povo brasileiro e o juiz maranhense Márlon Reis, o qual recentemente foi agraciado com as Palmas Universitárias. Mais de 1,6 milhões de cidadãos subscreveram a lei complementar nº. 135, de 4 de junho de 2010, esta é uma das iniciativas cuja força brotou da sociedade e que tem produzido resultados incríveis. Apenas em 2014, 90 candidaturas foram impedidas, outras 98 estão sub judice, sem contar inúmeros candidatos que desistiram por temor de serem enquadrados. Temos a Lei de Responsabilidade Fiscal, mas precisamos ainda de outras leis, em especial uma que deve determinar as regras para os recursos destinados à educação e à saúde.

Estamos num caminho promissor. Se a corrupção no Brasil é endêmica como é a malária na região norte do país, é possível enfrentá-la. Devemos criar a cultura da fiscalização, da exigência de transparência que a lei assegura (Lei Complementar nº. 131, de 27 de maio de 2009). Sendo assim, aproveito para parafrasear Thomas Jefferson: o preço de um país mais justo e menos corrupto é a eterna vigilância. Que 2015 seja um ano de mais franqueza, honestidade, respeito à coisa pública, de ações mais éticas. O povo agradece.

Doutor em Nefrologia, reitor da UFMA, membro do IHGM, da AMM, AMC e AML.

Publicado no Jornal Pequeno em 22/02/2015

Mais opções
Copiar url

Necessita-se de realistas

Palavras não encobrem fatos

Acordes para o tratamento renal

As lições das cicatrizes

Sobre o insubstituível

A ciência e o impossível

A luta continua

Porque a vida não espera

Revolução educacional

Quando tudo isso vai terminar?

Quando as pestes nos assaltam

Homenagem do reitor Natalino Salgado ao acadêmico da AML Sálvio Dino

Por uma nova versão da história

E se deixasse de haver ciência?

Entre linhas de luz

Homenagem do reitor Natalino Salgado ao acadêmico da AML Milson Coutinho

Homenagem do Reitor Natalino Salgado ao acadêmico da AML Waldemiro Viana

Tempos pandêmicos para secretas lições

Moby Dick, para uma macroscopia do coronavírus

Saúde e educação nas entranhas da cidade

Medicina e Literatura: mais que a vida

Os vírus, as pandemias e as alterações históricas

Ciência a serviço da vida

O vírus, o próprio homem, o racismo e outros inimigos

O sacrifício da verdade

Efeitos colaterais

Lá fora, sem sair de casa

O cenário das pragas na vida e na literatura

E as lanternas continuam acesas

Para sempre afetuosos

Será admirável o mundo novo?

O gigante aliado no combate ao mal

A (nova) escolha de Sofia

Qual fim está próximo?

Dia Internacional da Mulher

Doença renal: a prevenção começa na infância (II)

Celeiro de excelência

O (velho) novo problema da corrupção

Tempos difíceis

Obreiro do Conhecimento

Uma palavra de gratidão

Salve Mário Meireles!

Luzes para Domingos Vieira Filho

Novos cenários para a inovação tecnológica

A benção, meu pai

Dunas e saudade

A (anunciada) tragédia grega

Uma homenagem a Bacelar Portela

Um poeta, um estadista e um sacerdote

Reivindicação atendida

Dom Delgado, um homem visionário (IV)

Dom Delgado, um homem visionário (III)

Dom Delgado, um homem visionário (II)

Dom Delgado, um homem visionário (I)

Uma reparação histórica

Páscoa: vida nova a serviço do próximo

A Baixada Maranhense e a sua vocação para a grandeza

Um clamor pelos novos mártires

O legado de Darwin

Excelência no esporte

O essencial é que importa

Contra a intolerância

Menos corrupção em 2015

Contra a intolerância

O brilho de Carlos e Zelinda

A UFMA e o empreendedorismo

Inesquecível Mohana

TJ-MA e a justiça

Valorização da ciência

Novos caminhos para a educação

Ensino para além do tempo e da distância

Arqueologia, mais uma área de conquista da UFMA

O papel protagonista da Associação Comercial do Maranhão

Festival Guarnicê de Cinema: a magia sobrevive (III)

Festival Guarnicê de Cinema: a magia sobrevive (II)

Festival Guarnicê de Cinema: a magia sobrevive

A lição da Copa

A justiça mais próxima do cidadão

No caminho certo

Ubiratan Teixeira: múltiplos em um só

O legado de fé dos santos juninos

Sisu: democratização no acesso ao Ensino Superior

Espaço de celebração e valorização da cultura

Chagas de ausência

Mais um avanço da UFMA

Considerações sobre pecado e redenção

Páscoa, libelo em favor da liberdade

O dia em que a baixada parou

Anchieta, história de fé e amor pela educação

Um código de conduta para a rede

Um reconhecimento merecido

Vértice de oportunidades

O chamado da liberdade

A solução passa pela família

Extensão universitária: de braços abertos para a comunidade

Cuidar dos rins é viver melhor

Em defesa dos nobres valores

Contra a exclusão, a formação

Os (des) caminhos da violência

Pinheiro e Imperatriz, novo celeiro de médicos

Uma revolução em curso

Um ano de novas conquistas

A luz que vem da fé (considerações acerca da Epístola do Papa Francisco)

Conhecimento que desconhece fronteiras

Pelo diálogo e pela sensatez

Novos passos rumo à melhoria do ensino

Confissões antigas sobre o Maranhão

Oportunidades e melhorias no cenário da saúde

A ética como aliada da ciência

Merecidas palmas

A UFMA e o ENEM (parte II)

A UFMA E O ENEM (parte I)

(A)Deus, minha mãe

Voto e democracia, simbiose perfeita

Um desafio para o sistema educacional

Sobre despedidas e inícios

Pausa para equilíbrio e reflexão

Um presente à altura de São Luís

Educação que liberta e transforma

À espera de reforços

Democratizando o acesso

A benção de ser pai

Santa madre Igreja

Bem-vindo, Francisco

Quando prevenir, de fato, é melhor que remediar

E a violência?

Sinal de alerta

Sobre a paz e Santo Antonio

Interiorização: caminho para a emancipação

Quando o meio é a própria mensagem

Mais que um homem: uma lenda (parte II)

Mais que um homem: uma lenda

De poesia e de arte também se vive

Uma reivindicação justa e necessária

Vitória, fruto da perseverança

Inimigo oculto

A ordem natural das coisas

Alfabetização, primeiro passo para o desenvolvimento

Exemplo de abnegação e altruísmo

Um ato de reparação

O legado de Bento XVI

E Deus criou a mulher...

Excelência no Continente

O Admirável mundo da química

UFMA: um ano de grandes realizações

Tão perto, tão distante

Natal, tempo de paz e boa vontade

Reconhecimento à Bancada

Reflexões acerca do ano da fé

Medicina: um dom e uma missão

Ensino a distância revoluciona a educação no mundo

Turismo e Hotelaria no contexto das cidades criativas

São Luís: as homenagens continuam

A realização de um sonho

Energia limpa: caminho para o desenvolvimento

Investir em esporte para gerar campeões

SBPC 2012: cenário de múltiplas possibilidades

O federalismo sob ótica global

Histórias coincidentes de lutas e conquistas

Cultura Universitária x Cidade Universitária

Agradecer também é reconhecer

Diversidade local como solução global

Corpus Christi: tempo de recordar para valorizar

Valorizar o passado para compreender o presente

Compartilhar saberes, legar conhecimento

A SBPC e os saberes tradicionais

A educação que movimenta o desenvolvimento