Palavra do Reitor
Muito cedo plantei o arroz real /e o arroz do sonho era o que mais crescia; /Também ao capinar o milharal /mais me ocupava em minha fantasia /pois da lavra não vinha por igual /o que eu da terra e da ilusão colhia [...].
(José Chagas – livro Colégio do Vento).
A poesia está de luto: partiu José Chagas, o mais maranhense dos paraibanos. São Luís impregnou sua vida, sua memória, seus versos, por meio dos quais decantou os mirantes, as igrejas, o povo e a história dessa cidade. Autor de Os Telhados, Os Canhões do Silêncio, O Discurso da Ponte, Maré Memória e de tantas outras obras, Chagas louvou a cidade do alto de seu sobrado. Seu olhar arguto se estendeu até Alcântara, lugar que entendia ser fundamental para o sentimento de pertencimento de qualquer maranhense.
Desde pequeno, entre a lida dura na roça e o primeiro contato com a literatura no sertão paraibano, o Maranhão já lhe parecia uma sina: era leitor voraz de Aluísio e Artur Azevedo, Coelho Neto, Viriato Corrêa, Humberto de Campos. “Costumo dizer que eu, ao chegar aqui, já trazia um pouco do Maranhão em mim”, declarou em entrevista publicada originalmente no suplemento Vagalume.
Homem que não foi menino, como ele mesmo costumava dizer, brincou desde sempre com as palavras e se divertia ao vê-las apagadas pelo vento na areia do riacho que ficava próximo de sua casa. Reescrevê-las era uma missão inglória, mas de profundo aprendizado, assim como foi para Dom Quixote e seus imaginários moinhos. Modesto, nunca se autoproclamou poeta. “Sinto-me apenas um fazedor de versos”, resumia. “Sou pelo menos um bom mau poeta”, declaração dada a Jorge Nascimento também no suplemento Vagalume. Mais tarde, em entrevista ao jornalista Manoel Santos Neto, afirmou: “Saí de lavrador para palavrador”.
Chagas foi vereador por São Luís (chegou a exercer apenas um mandato), músico, jornalista (com diversas atuações em jornais no Maranhão), titular da cadeira número 28 da Academia Maranhense de Letras, funcionário público, e trabalhou no IBGE e na Universidade Federal do Maranhão. Impossibilitado de comparecer ao seu velório por motivo de viagem, soube que diversos servidores da instituição foram até o local prestar-lhe as últimas homenagens. O poeta que elegeu a cidade de São Luís como alvo de tanto carinho e dedicação também foi por ela reconhecido. Em 1998, a Favela do Samba o escolheu como tema e, em 2011, foi o patrono da Feira do Livro. Recentemente, o cantor Zeca Baleiro e o poeta Celso Borges resolveram musicar seus poemas no disco intitulado “A Palavra Acesa de José Chagas", nas vozes de diversos artistas.
Mais de vinte livros publicados, Chagas nunca deixou de escrever. Em sua casa, os poemas inéditos, como certa vez confessou, estavam amoitados sobre mesas, gavetas, como se tudo isso fosse um lugar cheio de gatos preguiçosos e vigilantes. Generoso, dava-os aos amigos e até dizia que, se quisessem, poderiam colocar o próprio nome neles, como se fossem pedacinhos de vida que um espalha para os outros. As retinas fatigadas – como disse Drummond em seu célebre poema “Uma pedra no meio do caminho” – nestes últimos anos já não o ajudavam e brigavam com uma letra corroída de anos, que teimava se tornar quase um hieróglifo, desafiando o seu próprio criador. A poesia, no entanto, da qual ele foi servo, minava por entre os dedos calejados; ele insistia, como se fosse escriba mítico, a escrever cada letra e palavra, dando a elas vida com a caligrafia.
Os anos, no entanto, mais recentemente, trouxeram consigo a carga do tempo. Em entrevista, entre bem humorado e perplexo, relatava as dificuldades entre um corpo que pagava seu justo quinhão à idade e seu espírito que queria ver o mundo, as pessoas e a vida, e dela extrair sua poesia. Chagas vivenciou na carne o que São Paulo, o apóstolo, disse certa vez em sua carta aos Coríntios: “Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia”. O espírito inquieto, a mente arguta e uma vontade ainda de fazer muito sintetizam o jeito Chagas de ser.
“A poesia é o pensamento do mundo. A poesia é o sentimento do mundo”, disse o poeta em entrevista ao jornalista Manoel Santos Neto. Mesmo sem querer se assumir nessa condição, José Chagas foi e será um dos maiores poetas que já conhecemos. Se José Chagas almejava “a manhã da última promessa /manhã de um novo mundo que começa /mais acessível, mais humano e bom”, nós, admiradores de seu talento, almejamos que seus escritos continuem a ecoar nas ruas, praças, casas e corações dos moradores desta terra.
“Vou ao céu a pé /em lenta romaria”, vaticinou o poeta. Que sua caminhada seja agradável, nobre confrade, e sua chegada ao destino final mais ainda.
Doutor em Nefrologia, reitor da UFMA, membro do IHGM, da AMM, AMC e AML.
Publicado em O Estado do Maranhão em 18/05/2014
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