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Palavra do Reitor

Anchieta, história de fé e amor pela educação

"Há homens que são como as velas; sacrificam-se, queimando-se para dar luz aos outros". Quando o padre Antônio Vieira escreveu essa frase, quase cem anos depois da morte de José de Anchieta, acreditava-se que ele não estava pensando nesse grande pioneiro do Brasil, mas, se tem alguém na história brasileira que encarna esse aforismo, esse alguém, sem dúvida, é Anchieta.

Na semana passada, dia 04, o Papa Francisco – o primeiro jesuíta tornado chefe supremo da Igreja – canonizou o também jesuíta José de Anchieta quase 400 anos depois da solicitação de sua beatificação em 1617, na capitania da Bahia. Padre Anchieta morreu em 1597 e, pouco tempo depois, como disse uma das testemunhas arroladas no processo beatífico, “todos o tinham por santo publicamente!”. Quando essa pessoa fez tal afirmação, quis dizer que em vida já se viam as marcas do santo homem.

Levitações, as curas de crianças e adultos – entre outros feitos extraordinários – justificariam sua canonização. Mas, passados tantos séculos, não havia como realizar o processo normal de investigação das graças concedidas. Assim, a Igreja o canonizou pelo seu apostolado como missionário do Brasil, diferente de nossos dois outros santos, Madre Paulina e, o mais recente, Frei Galvão. Trata-se de um ineditismo que pode mudar substancialmente as razões por que alguém pode alcançar tamanha graça.

Anchieta nasceu na ilha de Tenerife em 1534 (arquipélago das Canárias), que pertence à Espanha. Aos 14 anos, foi enviado a Portugal para estudar na secular universidade de Coimbra. A escolha se deu por causa de sua ascendência judaica. Seus avós maternos eram judeus novos convertidos ao catolicismo. Ainda assim, em pleno período da Inquisição – a Espanha foi o maior palco das ações do Santo Ofício –, não havia garantias ou a possibilidade de que um jovem com sua história familiar pudesse galgar qualquer posto seja na área religiosa, política ou militar.

Em 1551, ingressou como irmão na Companhia de Jesus, fundada por Inácio de Loyola, com o qual possuía grau de parentesco. Aos 19 anos, foi enviado para o Brasil a pedido do jesuíta Manoel da Nóbrega, Provincial dos Jesuítas no país. Para evangelizar os índios e ajudar nas demais obras da Companhia, solicitou Nóbrega que lhe mandassem “mesmo os fracos de engenho e os doentes do corpo”.

A amizade entre Nóbrega e Anchieta perdurou ao longo de seu ministério no Brasil, país no qual deixara uma marca indelével por seu incansável labor em muitas áreas, sobretudo na missionária. Padre Anchieta participa do marco importante da fundação da cidade de São Paulo, a criação do Colégio São Paulo. Sua extraordinária aptidão para as letras fará com que seu grande trabalho, que inclui a luta em favor da catequese e proteção aos índios, se desenvolva na área literária com a publicação dos primeiros livros – impressos em Coimbra – escritos no Brasil. 

O apóstolo do Brasil, como também é conhecido, foi gramático, pois  escreveu o livro “Arte da grammatica da lingoa mais usada na costa do Brasil” (1595). A obra versava sobre o tupi, a língua geral que, à época, era mais falada do que o português. Era poeta. Sua obra em latim (1563), outra língua que dominava, descreve um poema épico, antes de “Os Lusíadas”, sobre as ações de Mem de Sá – Governador Geral da Capitania de São Sebastião do Rio de Janeiro – contra os invasores franceses (França Antártica). É dele o registro em carta na qual relata a fundação da cidade do Rio. Também foi teatrólogo e historiador. Devem-se a ele vários registros fundantes da história brasileira.  

O Brasil Colônia ganha uma alma com Anchieta. A sua preocupação não era só com a ação constante na evangelização, mas também, especialmente, com a própria estratégia dos jesuítas, dedicados à construção de escolas, uma necessidade que permanece até hoje. Em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Vitória, seu trabalho sempre esteve ligado à educação. Esta questão é tão bem expressada por Antônio Vieira, quando diz que: “A boa educação é moeda de ouro. Em toda a parte tem valor”. 

Anchieta, com sua obra pioneira na educação brasileira, acreditava nisso. A boa educação tem valor não só em toda parte, mas em todo o tempo. Em 1597, ele falece aos 63 anos em Reritiba, cidade que hoje leva o seu nome, cuja localização fica no sul do Estado do Espírito Santo. Toda a sua vida foi devotada ao Brasil. Tornou-se brasileiro quando a nação sequer existia, e sua brasilidade ainda hoje pode inspirar.

Doutor em Nefrologia, reitor da UFMA, membro do IHGM, da AMM, AMC e AML.

Publicado em O Estado do Maranhão em 07/04/2014

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