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Segunda do Português: "Aposto, vírgula!"

Publicado em: 02/11/2020

 

Aposto, vírgula!

 

Hoje vamos falar de um caso específico de virgulação, que envolve o termo sintático "aposto". Um dos ensinamentos básicos que recebemos na escola sobre pontuação é que devemos SEMPRE separar o aposto, que é uma explicação adicional sobre um determinado substantivo, como nos exemplos abaixo:

            Paris, a Cidade-Luz, recebe milhões de turistas anualmente.

            A lâmpada, invento de Thomas Edson, hoje está muito diferente do modelo projetado por ele.

            Pelé, o Rei do Futebol, completou oitenta anos recentemente.

Observa-se, portanto, que os apostos (pronúncia: /apóstos/) devem ser entrevirgulados quando aparecem no meio da oração. Mas eles podem aparecer no fim do período, por isso vão ser separados, logicamente, por apenas uma vírgula. Observe os exemplos:

            Os turistas se encantaram com o bumba meu boi, principal manifestação cultural maranhense.

            Sou feliz por falar português, a penúltima flor do Lácio*.

            A cidade de Balsas é povoada de plantações de soja, principal produto de exportação da região.

O vocábulo “aposto” é o particípio do verbo “apor”, que significa “colocar depois”.  Portanto “aposto” quer dizer “colocado depois”. Paradoxalmente, em casos específicos, o aposto pode vir antes do substantivo a que se refere, como nos exemplos:

            Jogador mais importante da atual seleção brasileira, Neymar é o capitão do time.

            Capital do Maranhão, São Luís recebeu o título de Patrimônio da Humanidade.

            Detentora das maiores notas do Enade no Maranhão, a UFMA é a melhor universidade do estado.

Acontece que, no colégio, nossos professores não nos deram a explicação completa sobre a pontuação nesse caso, uma vez que nem todo aposto deve ser separado por vírgula. Existe o “aposto denominativo”, que tem a função de informar o nome do termo que o antecede. Os apostos denominativos não são separados por vírgula. Observe:

            O Rio Itapecuru fornece água para o sistema Italuís.

            O técnico Tite ainda tem muitas dúvidas na escalação da seleção.

            O cantor Djavan fará uma live hoje à noite.

Os três termos sublinhados nos exemplos acima exercem função de aposto denominativo dos substantivos que os antecedem.

Nesses casos, a maioria das pessoas costuma acertar, ou seja, não coloca vírgula separando o aposto denominativo. Mas existe uma tendência a errar, isto é, a separar o aposto denominativo de seu termo antecedente, quando este é um elemento de grande extensão. Observe a sequência de exemplos abaixo:

Na frase:

            O arqueólogo João Francisco recebeu uma medalha de Honra ao Mérito,

não é normal separar por vírgula os termos “arqueólogo” e “João Francisco”, porque este é aposto denominativo. Vamos ampliar um pouco o termo a ser denominado:

            O arqueólogo e professor João Francisco recebeu uma medalha de Honra ao Mérito.

Também não se usa vírgula nesse caso. Lembre que “João Francisco” é o nome do “arqueólogo e professor”. Ampliando um pouco mais:

            O arqueólogo e professor da UFMA João Francisco recebeu uma medalha de Honra ao Mérito.

Mesma explicação. Vamos ampliar mais ainda:

            O arqueólogo e professor do Departamento de Oceanografia da UFMA João Francisco recebeu uma medalha de Honra ao Mérito.

Não há razão para virgular, pois “João Francisco” continua sendo aposto denominativo. Vamos a um último exemplo com mais uma ampliação:

            O arqueólogo e professor do Departamento de Oceanografia e Limnologia da UFMA João Francisco recebeu uma medalha de Honra ao Mérito.

"João Francisco" é aposto denominativo, por isso não pode ser virgulado. É importante lembrar que um nome é utilizado para particularizar um determinado ser entre outros seres da mesma espécie. Essa explicação acima não cabe quando não há outros seres. Nesse caso, como não é necessário particularizar um ser que não tem pares, um termo adicional, mesmo um nome, não será aposto denominativo, e, sim, aposto explicativo. Observe os exemplos abaixo:

            Vou visitar meu irmão Ronaldo no hospital.

Nesse caso acima, como não há vírgula separando “meu irmão” de “Ronaldo”, o termo “Ronaldo” é aposto denominativo, ou seja, o substantivo irmão precisa de algo que o especifique, daí existe a necessidade de haver o aposto, para diferenciá-lo, ou seja, para particularizá-lo. Nesse caso, deduz-se que, se há necessidade de particularização, a pessoa tem mais de um irmão. Observe agora o seguinte exemplo:

            Vou visitar meu irmão, Ronaldo, no hospital.

Agora o que se vê é o termo “Ronaldo” separado por vírgula, portanto não exerce função de aposto denominativo, e, sim, de aposto explicativo. Ou seja, não é necessário particularizar o substantivo “irmão”, portanto “Ronaldo” é um reforço semântico para ele. Nesse caso, infere-se que a pessoa tem apenas um irmão.

Observe a diferença entre as frases seguintes proferidas por Ivanildo:

            Hoje à noite, vou à casa de minha namorada, Patrícia.

            Hoje à noite, vou à casa de minha namorada Patrícia.

No primeiro caso, “Patrícia” está separado por vírgula, portanto é um aposto explicativo, ou seja, é apenas uma informação adicional sobre o substantivo “namorada”, o que nos faz deduzir que Ivanildo é uma pessoal de bom caráter, sendo Patrícia a única a ocupar os escaninhos de seu coração.

Já no segundo caso, como não há vírgula entre “namorada” e “Patrícia”, tem-se um aposto denominativo, ou seja, é uma maneira de particularizar o substantivo “namorada”. Fica claro, por essa frase, que Ivanildo é um safado, que gosta de se envolver com várias mulheres ao mesmo tempo, e Patrícia é apenas uma delas. Bom de levar uma surra!!!

 

* Olavo Bilac, poeta parnasiano (além de jornalista, contista e cronista), escreveu o poema LÍNGUA PORTUGUESA

            Última flor do Lácio, inculta e bela,

            És, a um tempo, esplendor e sepultura:

            Ouro nativo, que na ganga impura

            A bruta mina entre os cascalhos vela...

Lácio é uma região da Itália onde se situa a capital Roma. Na época áurea do Império Romano, o latim virava língua obrigatória nas regiões conquistadas, que tinham suas próprias línguas. Essa miscigenação de línguas nativas com Latim propiciou o nascimento de diversas línguas, chamadas de neolatinas, como o português, o espanhol, o francês etc. Bilac, em seu poema, refere-se ao português como sendo a última língua a ser formada por conta dessa influência cultural do Império Romano, pois era a informação disponível na época. Anos depois, após estudos aprofundados, descobriu-se que a última língua neolatina a ser estruturada foi o romeno. Portanto o nosso "português" não é "a última flor do Lácio", e, sim, a penúltima.  

 

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Acesse as edições anteriores da coluna “Segunda do Português”.


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Revisão: Jáder Cavalcante

Texto: JADER CAVALCANTE DE ARAUJO
Última alteração em: 02/11/2020 09:57

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