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1. Estrada carroçal

Essa expressão, largamente utilizada no meio jornalístico, principalmente em reportagens policiais, carece de legitimidade linguística. Observe, no exemplo abaixo, esse uso inadequado:

                Bandidos aproveitam tráfego lento em estrada carroçal para efetuar assaltos.

Primeiramente, deve-se lembrar que o sufixo -al  é utilizado na formação de adjetivos, como mortal, estatal, trimestral, opcional etc. Também dá ideia de grande quantidade, utilizado principalmente na agricultura: cafezal, algodoal, laranjal, cajual, bananal etc. Portanto, quando se fala em “carroçal”, a primeira ideia que vem à mente é uma coleção grande de carroças, uma vez que “carroça” não é “plantável”.

Aliás, na palavra “plantável”, existe outro sufixo, -vel, que indica possibilidade ou adequação. Logo “plantável” significa “possível de ser plantado”. Da mesma forma, temos “influenciável” (possível de ser influenciado), “navegável” (adequado para a navegação), “negociável” (possível de ser negociado), “perecível” (possível de perecer) etc. Com esse sufixo, também temos a palavra “carroçável”, que quer dizer “adequado para carroças”. Portanto lembre que não existe o vocábulo “carroçal”, então vamos corrigir nosso exemplo inicial:

                Bandidos aproveitam tráfego lento em estrada carroçável para efetuar assaltos.

 

2. Caligrafia

Como não cansamos de dizer, o "hábito do cachimbo é que deixa a boca torta", e o hábito linguístico errado é que perpetua estruturas erradas entre os falantes da língua. Observe o exemplo abaixo com o uso errado da palavra “caligrafia”, mas que, de tão comum, “passa batido” pelo crivo técnico da maioria dos redatores,

                Olha só que caligrafia horrorosa esta do seu filho!

Horroroso é o erro cometido por quem fala ou escreve assim! A palavra caligrafia é formada por dois radicais gregos. O primeiro é kallós, que significa belo, do qual derivam palavras como: calicromia (beleza de cores), calicarpia (frutas belas), calipétalo (belas pétalas), calipígio (belas nádegas), calitecnia (beleza de trabalho), calilogia (expressão bela).

O segundo radical é gráphos, que quer dizer escrita, traço, registro. Algumas palavras que têm esse radical: fotografia (registro por meio de luz), grafologia (estudo da escrita para determinar a índole de uma pessoa), grafofobia (medo de escrever), esferográfica (escrita por meio de uma esfera).

Ora, se cali significa belo, e grafia significa escrita, não há lógica em dizer caligrafia feia, porque toda caligrafia tem de ser bela, senão não é caligrafia. É uma antítese inaceitável, um grande paradoxo imaginar que uma caligrafia pode ser feia.

Vejamos nosso exemplo inicial corrigido:

                Olha só que grafia horrorosa esta do seu filho!

                Olha só que letra horrorosa esta do seu filho!

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Acesse as edições anteriores da coluna “Segunda do Português”.

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Revisão: Jáder Cavalcante

Texto: JADER CAVALCANTE DE ARAUJO
Última alteração em: 14/09/2020 18:39