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Em nossa coluna de hoje, vamos falar de “ortofonia”, que é o ramo da gramática que trata das pronúncias certas das palavras. Por questões pedagógicas, colocamos as palavras a serem analisadas entre barras, como se fosse uma pronúncia figurada. Veja dois exemplos de palavras que uma significativa parcela da população pronuncia erradamente:

 

1. Pronúncia de ALGOZ.

O presidente teve de prestar homenagens ao /algóz/ de seu filho.

Igual à maioria dos vocábulos de nossa língua iniciados com al-, como alface, álgebra, algazarra, alforria, alforje, alfinete, alfarrábio, etc., algoz também origina-se da língua árabe (al-gozz), e sua pronúncia aportuguesada acompanha a do vocábulo árabe original /algôz/, assim como arroz, palavra de mesma origem linguística. A pronúncia errada /algóz/ talvez derive da influência de outras palavras terminadas em -oz, como veloz, feroz, atroz, voz, etc.

No plural, mantém-se a pronúncia fechada /ô/.

                Os holandeses foram os /algôzes/ da seleção brasileira em duas copas do mundo de futebol.

A pronúncia correta de nosso exemplo inicial é:

O presidente teve de prestar homenagens ao /algôz/ de seu filho.

 

2. Pronúncia de ABRUPTAMENTE.

Ela saiu da sala /a-brup-ta-men-te/ e não mais voltou para o fim da reunião.

A palavra “cadê” deriva de uma expressão mais extensa utilizada há algumas centenas de anos: “que é feito de”. Quando se queria saber o paradeiro de alguém ou algo, perguntava-se:

                Que é feito de Maria? (ou seja, onde está Maria?)

                Que é feito da faca de cortar pão?

O vocábulo “feito” foi extirpado da expressão, que ficou com a forma reduzida “que é de”:

                Que é de teu irmão? (isto é: que é feito de teu irmão?, onde está teu irmão?)

                Que é de nossas roupas?

 Os usuários da língua então deram um jeito para reduzir um pouco mais a expressão, resultando em “quede”.

                Quede a nova professora?

                Quede o dominó?

Por fim, não satisfeitos ainda com o novo vocábulo, criaram “cadê”. E a população incorporou “cadê”, e ninguém mais usou “quede”, muito menos “que é de”.

O mesmo fenômeno aconteceu com a pronúncia de “abrupto”. De tanto as pessoas pronunciarem errado, a infração acabou ganhando status de legitimidade. A separação silábica e fonética de abrupto é ab-rup-to, não a-brup-to, como muita gente fala e escreve. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa-VOLP, 5ª edição (2009), registra as grafias ab-rupto e abrupto, legitimando a forma popular. Mas só menciona uma grafia para ab-rupção, ab-ruptado, ab-ruptela, ab-ruptipenado, todas cognatas de ab-rupto. Vê-se claramente que o registro foi feito para agradar a turma da linguística, que considera correta qualquer modificação na língua adotada por uma parcela da população, desde que se atinja a comunicação.

Corrigindo a pronúncia de nosso exemplo inicial:

                Ela saiu da sala /ab-rrup-ta-men-te/ e não mais voltou para o fim da reunião.

 

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Acesse as edições anteriores da coluna “Segunda do Português”.

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Revisão: Jáder Cavalcante

Texto: JADER CAVALCANTE DE ARAUJO
Última alteração em: 17/08/2020 17:35