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Doutorando do PPGCSOC publica artigo na Revista Afirmativa sobre privilégios da branquitude

Publicado em: 17/07/2020

SÃO LUÍS - “O depoimento de Sari Corte Real e os privilégios da branquitude” é o nome do artigo publicado na Revista Afirmativa por Leandro Augusto dos Remédios Costa, discente do curso de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGSOC) da Universidade Federal do Maranhão e professor de Sociologia e Antropologia da rede privada de ensino superior.

Produtor da revista o Coletivo de Mídia Negra, tem por objetivo a construção de um novo imaginário sobre a população negra na sociedade brasileira, visando ao fortalecimento da autoestima do povo brasileiro, que foi e está sendo violado de várias formas pela ação do racismo, como por exemplo, a falta de referenciais positivos nos meios de comunicação. Confira a entrevista que foi concedida à Diretoria de Comunicação (DCom) da Superintendência de Comunicação e Eventos (SCE) da UFMA, em que o pesquisador aborda o processo de construção do texto sobre branquitude para a Revista Afirmativa.

DCom: Como você conheceu a revista Afirmativa?

Leandro Costa A Revista Afirmativa é uma mídia negra que eu conheci por intermédio de seu perfil no Instagram, que conta com mais de 25 mil seguidores, e por meio do seu site, que publica artigos com reflexões relacionadas à temática racial e temas correlatos, além de terem um canal no Youtube.

A revista é organizada por oito mulheres negras e um homem negro: cinco são jornalistas, duas advogadas, uma comunicóloga, e a outra é graduanda no curso de Gênero e Diversidade pela Universidade Federal da Bahia. A maioria dos membros têm o perfil de pesquisador, escrevem para sites e são engajados em grupos e organizações negras.

DCom: Como foi o contato com o tema?

LC - Uma das temáticas que a revista tem explorado por meio de lives e textos publicados em seu site e no perfil no Instagram são os estudos sobre branquitude, que se trata de uma área de estudos interdisciplinares dentro das pesquisas sobre as relações raciais. Particularmente, tenho me dedicado à leitura sobre os estudos de branquitude por conta da minha pesquisa de doutorado, em que tenho entrevistado várias famílias, em sua maioria pessoas brancas, que possuem seus filhos vinculados a escolas privadas de alto custo na cidade de São Luís. A pesquisa tem o objetivo de entender quais os critérios dos pais e das mães para a escolha da escola de seus filhos e qual a relação da escolha dessas famílias com a contribuição da educação para a reprodução da desigualdade ludovicense. Nas leituras para iluminar esse projeto, descobri os estudos sobre branquitude e tenho me dedicado na leitura do tema desde então.

Antes da construção do texto, eu tinha feito uma postagem em meu perfil pessoal no Instagram sobre o depoimento de Sari Corte Real, acusada de homicídio culposo na morte do menino Miguel Otávio, filho da empregada de Sari. Essa postagem estava relacionada com os privilégios da branquitude e se insere num projeto pessoal que intitulei  como “notas sociológicas”, em que tenho correlacionado fatos cotidianos, como notícias jornalísticas, com textos sociológicos, objetivando usar as redes sociais como instrumento de popularização de reflexões sociológicas e de instrumentos para uma interpretação crítica do mundo social.

DCom: Como foi o processo de publicação do artigo na revista?

 

LC - Após a postagem em meu perfil no Instagram, resolvi transformar aquela pequena nota em um artigo. Com isso, adaptei o texto às regras da revista e enviei para a equipe, que avaliou e aceitou, publicando em seu respectivo site, com uma chamada para o texto em sua conta no Instagram.

No texto, eu falo rapidamente do surgimento dos estudos sobre branquitude nos anos 90 nos EUA e de autoras e autores que têm discutido o tema no Brasil a partir dos anos 2000. Com base nisso, utilizo alguns desses textos para refletir sociologicamente sobre os privilégios simbólicos, materiais e institucionais da branquitude, baseado no depoimento de Sari Corte Real.

DCom: Explique o termo branquitude.  

LC No artigo, apresento a definição de branquitude deita pela psicóloga brasileira Maria Aparecida Silva Bento, da socióloga britânica Ruth Frankenberg e da psicóloga Lia Vainer Schucman.  De acordo com a autora Frankenberg, branquidade é um lugar de vantagem estrutural, um locus de elaboração de práticas e identidades, por vezes não denominadas racialmente, um fenômeno social controvertido em termos de definição em algumas épocas e lugares que é atravessado por outros eixos de privilégios, como classe, renda, escolarização, redes de relações, entre outros. É o que se considera como fenômeno relacional, ou seja, precisa ser pensado sempre em relação a outros fenômenos sociais, características sociais e recursos sociais distribuídos de forma desigual nas diferentes sociedades.

DCom: Qual a importância de debater este tema, em sua visão?

LC - Liv Sovik, autora suíça e doutora em Ciências da Comunicação, publicou, em 2009, um interessante livro intitulado “Aqui Ninguém é Branco”, no qual chama atenção que os poderes político e econômico são considerados brancos, de forma quase hegemônica, ou seja, existe uma relação entre posições sociais “elevadas”. Outro ponto destacado por Sovik é que, no Brasil, há o aspecto público da exclusão racial, que afirma que o termo raça é relativo por sermos todos mestiços, e o aspecto privado dessa exclusão exalta a branquitude.

A lição que Sovik nos dá é que estudar branquitude é refletir sobre exclusão racial, mas percebendo não o lado excluído, mas, sim, as práticas dos beneficiados com essa exclusão. Nesse mesmo sentido, a pedagoga Janaina Bastos, em seu artigo “O lado branco do racismo: a gênese da identidade branca e a branquitude”, afirma que precisamos olhar para o grupo que se beneficia com a lógica racista e pode, por conta disso, ocupar as melhores posições sociais. Só existe subalternização de um grupo de negros com a superiorização de outro, de brancos, ou seja, é relacional. Só vamos entender profundamente as desigualdades raciais em nosso país quando compreendermos os privilégios da branquitude.

Já para as autoras Cintia Cardoso e Lucimar Rosa Dias, em um capítulo de livro sobre a branquitude na educação infantil, afirmam que as pesquisas sobre branquitude mostram o papel e o lugar branco na manutenção e reprodução das desigualdades raciais. Considero que isso é extremamente importante social e sociologicamente, pois, se não estudamos a branquitude, fica parecendo, como nos alerta a autora Cida Bento, em seu artigo “Branqueamento e branquitude no Brasil”, que as desigualdades raciais são um problema do negro, e não de uma sociedade estruturalmente racista que privilegia indivíduos reconhecidos socialmente como brancos.   

Essas e outros autores nos ensinam sobre a importância de inserirmos os estudos sobre branquitude nas pesquisas sobre a reprodução das desigualdades. Obviamente, o texto que eu escrevi é apenas um pequeno ensaio que pretende nos levar a refletir sobre isso, nem de longe ele esgota a questão. Na minha tese de doutorado, espero conseguir mostrar teórica e empiricamente as relações entre branquitude, educação privada e reprodução das desigualdades sociais e raciais na cidade de São Luís.

Acesse o artigo “O depoimento de Sari Corte Real e os privilégios da branquitude”


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Revisão: Jáder Cavalcante

Lugar: Cidade Universitária Dom Delgado
Texto: Allan Potter
Última alteração em: 19/07/2020 00:28

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