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De Brasília, no sétimo dia da morte do Luiz Pazzini

Publicado em: 05/05/2020

Hoje eu acordei com uma vontade danada de mandar flores para muita gente, de dar graças, de dizer obrigado... de coração!

Logo de manhãzinha, no conforto da cama, eu queria cumprimentar as pessoas de bem, para assim agradecer a quem luta pela derrocada do coronavírus, com todas as suas forças.

Esse gesto de carinho seria dirigido aos profissionais de saúde e muitos outros que saem às ruas para nos proteger, como a quem fica nas suas casas, conscientes da situação gravíssima que enfrenta o planeta.

No escurinho do quarto, sob as cobertas, eu desejei abraçar, simbolicamente, os sobreviventes, e, sobretudo, aqueles que não conseguiram se manter em pé na tragédia da Covid-19.

O grito de alerta foi deixado pelos que partiram, fazendo ressoar, em altos brados, uma narrativa trágica sobre o fim.

Acho que foi por causa de honra — e humanidade  que se deu essa epifania matinal. E foi a sensação de receber um telegrama vindo do além o que me fez pular da cama.

É que aquela mensagem onírica só podia ser da lavra do honorável mestre Luiz Pazzini. Um dândi da cena contemporânea maranhense, um sábio professor de pedagogia teatral, enfim, um grande amigo.

É triste, ele faleceu no dia 29 de abril, às 13h15, e deixou um vastíssimo legado na cidade que escolheu como “o seu lugar”. Portanto foram merecidas as homenagens prestadas por estudantes, professores, artistas e pessoas dos mais variados segmentos sociais, além das instituições culturais e educativas de São Luís.

Tornamo-nos amigos em fins de 1991, quando estávamos num concurso para a área de teatro do Departamento de Artes, na UFMA. Meses depois, veio nossa nomeação, quando firmamos uma parceria que se foi consolidando no curso do tempo, ultrapassou os muros da Universidade, tomou as ruas da cidade e ganhou o aconchego dos nossos lares.

Nem a condição da aposentadoria deu cabo de uma história que foi interrompida de uma maneira grave, lancinante, velocíssima, e para sempre!

Quase consegui me despedir, parecia milagre, na noite anterior. Ele em sua casa, na Rua das Hortas; eu, na minha, em Brasília. Nos pusemos a conversar ao telefone, por um bom tempo, em tom apreensivo, mas, para meu espanto, recebi um áudio carinhoso, escrachado e cômico, quando encerramos a chamada. Isso era a cara dele.

Na manhã seguinte a angústia enredou mais duas ligações breves; na segunda oportunidade, notei sua dificuldade de respirar. O caso era grave, três horas depois chegou a notícia devastadora do hospital.

De lá para cá, a lição de companheirismo, civismo e solidariedade vem se multiplicando, da parte de quem gostava dele, como do povo e das instituições da cidade, que aplaudem os seus feitos.

Luiz Roberto de Sousa, nasceu em Severínia (SP), onde moram os parentes. Por isso, em articulação com os amigos de São Luís que se ocuparam com o enterro, coube a mim a comunicação com a família. Ao compartilhar tamanha dor, eu ganhei algo muito valioso, que potencializou meu senso de humanidade, nem sei avaliar o tanto.  Isso é bom, diria Brecht!

Pouco se sabe de suas origens, talvez ele tenha mencionado a fase da graduação na São Judas e o retorno a Sampa durante o mestrado na USP. O que mais ele gostava era de falar de trabalho, de dia ou de noite. O que o tocava eram as aulas na UFMA e a administração acadêmica; as oficinas para iniciantes na capital e as viagens de igual propósito, ao interior; a formação de elenco e os sucessivos coletivos teatrais; a criação de espetáculos e as articulações artísticas pelo Brasil afora, como no estrangeiro.

A verdade é que, nessa relação entre trabalho e vida, o Pazzini performou a existência. Ele tornava sua residência o local de criação e depósito de figurinos ou cenários; sua biblioteca pessoal em fonte de consulta para atores e alunos; sua conta bancária em recurso para as produções. Por fim, em meio a sua alegria de viver, aconteciam momentos generosamente partilhados juntos ao redor de sua luz.

Todavia não quero aqui evocar a obra artística do Pazzini, nem seus feitos acadêmicos, pois há monografias e dissertações onde está feito isso. Assim, como se sabe pouco do passado longínquo, fica o registro que se segue.

Seu pai se chamava Francisco Batista de Sousa, e a mãe, com quem tive o prazer de conversar, certa vez, Elza Pazinni Baptista. Numa homenagem filial, ele cunhou o nome artístico: suprimiu um “n” e duplicou o “z”, trocando Pazinni por Pazzini, marcando, por meio da atividade cênica, o amor por sua mãe.

Teve origem humilde, os pais vieram da zona rural, perderam quatro filhos, ainda crianças, antes da sua partida. Da árvore genealógica, resta uma única galhada: a irmã, que é três anos mais velha que o Pazzini e se chama Aparecida de Lourdes Souza Frasato, a Cidinha, que gerou Juliane de Souza Frasato dos Santos e Flávio Augusto Frasato. Juliane teve com Paulo Henrique dos Santos um filho, de nome João Henrique Frasato dos Santos. E Flávio se casou com Andréa Augusta Mariano Frasato e gerou Otávio Augusto Mariano Frasato e Emanuel Augusto Mariano Frasato.

Tenho a foto do aniversário conjunto de dona Elza (92 anos) e o bisneto Emanuel (7 meses), o Pazzini me mandou já nesse período de quarentena.

Apenas isso eu sei, mas o fato é que tive mais uma surpresa pazziniana, após a sua morte, ao desvelar enlaces até então desconhecidos. Ocorre que, para além do parceiro de arte e docência, ele foi um amigo especialíssimo. Ao longe, sem me conhecer, a sua família sabia muito de mim, como da minha própria família: nomes, profissões e outros detalhes.

Da mesma forma, fiquei sabendo que eles, embora ignorassem a trajetória de sucesso do Pazzini no Maranhão, imaginavam, do fundo de seus corações, que ele colheria aquilo que de melhor havia dado de si aos outros.

Sim, nós o perdemos. E como dói esse choro engasgado. Para concluir este relato, quero mandar rosas e um abraço apertado ao amigo Pazzini, sabendo que ele, talvez, esteja a rir de tudo isso, de todos nós, à sua maneira dramática, num Olimpo que certamente está em festa. Evoé!

Arão Paranaguá
Docente do Departamento de Artes


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Revisão: Jáder Cavalcante

Lugar: Cidade Universitária Dom Delgado
Fonte: Arão Paranaguá
Última alteração em: 05/05/2020 23:44

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