UFMA

SÃO LUÍS – Teve início, na manhã de terça-feira, 17, no Centro Pedagógico Paulo Freire, o workshop “O Ensino da Matemática com a utilização do Recurso Pedagógico Multiplano”, ministrado pelo professor e criador do método, Rubens Ferronato. O minicurso foi promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Gestão de Ensino na Educação Básica (PPGEEB), por meio do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Especial na Educação Básica (Gepesp).

O multiplano consiste em um conjunto de peças que possibilita uma matemática mais inclusiva e acessível a todos os discentes e é especialmente direcionado para alunos cegos. “O estudante faz as anotações no caderno, faz seus cálculos com lápis, régua, compasso e outras ferramentas. Já o estudante cego não tem essa possibilidade. Então ele tem o multiplano para que possa desenvolver as suas habilidades. Um outro ponto interessante é que aquilo que é passado no quadro pode ser reproduzido no multiplano o que, para o cego, é um ganho extraordinário”, explicou o criador do método.

No entanto, apesar de inicialmente ter sido desenvolvido para os alunos com alguma deficiência visual, o projeto passou a apresentar resultados igualmente satisfatórios com estudantes que, apesar de não terem uma deficiência, não apresentavam uma afinidade com a disciplina. Dessa forma, percebeu-se que o recurso estimula uma aprendizagem mais dinâmica e efetiva com todos os alunos em geral.

Isso ocorre porque o discente consegue, ao mesmo tempo em que o professor explica, reproduzir a figura ou a representação do assunto, no multiplano. Ferronato exemplificou da seguinte forma: quando um docente desenha uma figura geométrica no quadro (como um triângulo, por exemplo), não é possível modificá-lo à medida que se explica o assunto, enquanto que o multiplano, permite este feito tornando a aprendizagem mais interativa.

O professor reiterou a importância do método como uma forma de estimular um ensino que leve os alunos não a apenas decorarem regras e fórmulas, mas a saberem a modelagem da matemática, de forma que isso possa contribuir para o melhoramento dos índices nessa disciplina. Dados divulgados em maio deste ano pelo movimento Todos pela Educação mostram que o aprendizado de matemática dos estudantes do 3º ano do ensino médio caiu 0,7 ponto percentual e que, entre as escolas públicas, o índice é ainda mais preocupante: quatro pontos percentuais de queda.

“Nossos índices na matemática são baixos, e nós sabemos que os estudantes não aprendem de uma única maneira. O multiplano potencializa outras formas de aprender. Quando eu explico apenas no visual, é comprovado apenas 10% de aproveitamento na aprendizagem; se for no visual e no auditivo, eu chego em torno de 40%; agora se eu explicar no visual, no auditivo e no sinestésico, a gente pode chegar de 80 a 90% na aprendizagem do estudante”, declarou.

Trazendo para a realidade brasileira

A professora do Departamento de Educação Física e coordenadora do evento, Lívia Zaqueu, contou que conheceu a metodologia do multiplano em uma escola em Évora, Portugal. A surpresa foi ainda maior ao saber que um recurso desenvolvido por um brasileiro era usado em outros países, mas que no Brasil e, mais precisamente no Maranhão, não era tão conhecido. A ideia de realizar o workshop foi potencializada ainda por uma pesquisa realizada na cidade de Imperatriz em 2017, na qual uma estudante do mestrado de Gestão da Educação Básica apresentou a ideia do uso da ferramenta como um potencializador da aprendizagem de alunos com deficiência visual. Porém logo foi percebido o impacto que o recurso tinha em outros alunos.

“O multiplano, inicialmente, foi pensado no ensino e na aprendizagem das pessoas cegas. Entretanto, como o professor Ferronato indicou em suas pesquisas, este recurso é 100% inclusivo, e nós compreendemos que, para um recurso ser inclusivo, ele tem que atender à necessidade de todas as pessoas, independentemente de ela ter ou não alguma deficiência. Então decidimos incluir na pesquisa tanto os alunos cegos quanto os videntes, mas que não conseguem, pelo meio convencional e tradicional de ensino, aprender a matemática”, pontuou.

A professora destacou ainda o resultado a que a pesquisa chegou: ”Com esse estudo, nós conseguimos comprovar que o recurso é de fato inclusivo, que ele potencializa esse processo de aprendizagem por meio da utilização de diferentes ferramentas e conteúdos que podem ser abordados por meio dele”.

Sobre o ministrante do curso 

Rubens Ferronato é graduado em Ciências Exatas pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Umuarama (Fafiu); especialista em Ciências Exatas pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste); possui mestrado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); e é o criador e desenvolvedor de materiais pedagógicos voltados ao ensino da matemática numa perspectiva inclusiva.  

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Produção: Marcos Paulo Albuquerque
Revisão: Jáder Cavalcante
Fotos: Thalia França
Lugar: Cidade Universitária Dom Delgado
Texto: Tatiane Raquel
Última alteração em: 18/12/2019 14:38