UFMA

SÃO LUÍS – Vencedor da categoria Ensaio Fotográfico Artístico, “Tons por Vir: do silenciamento à utopia de existir” foi premiado na última edição do Expocom Nordeste, realizada em São Luís. Composto pelos estudantes Antônio Bernardes, Ísis Furtado, Thiago Kalebe, Raíssa Sales e Maria Clara Cardoso, o grupo explorou o conceito do “afrofuturismo” em suas fotografias. A Assessoria de Comunicação da UFMA conversou com Antônio Bernardes e a aluna-líder Maria Clara Cardoso para conhecer mais sobre o processo que resultou nas fotografias premiadas.

Ascom: O que é “afrofuturismo”?

Antônio Bernardes: O Afrofuturismo é um conceito interdisciplinar — está presente na história, literatura, música, cinema, ciência, fotografia, estética, no desenho, entre outros — que tem por objetivo imaginar o futuro da raça negra como um povo extremamente desenvolvido e protagonista tecnologicamente, a exemplo do filme “Pantera Negra”. A ideia é imaginar o negro no futuro, pois sua existência tanto no passado como no presente é ameaçada.

Ascom: De onde surgiu a ideia para realizar o ensaio fotográfico com essa temática?

Maria Cardoso: O nosso grupo é composto por cinco pessoas, e quatro delas se identificam como negras. Como é de conhecimento geral, a existência como pessoa negra enfrenta diversos conflitos por causa dos olhares construídos dentro de uma sociedade racista. Durante a disciplina “Estética e Mídia”, em que desenvolvemos o nosso projeto, nós estudamos sobre a constituição do sujeito e da sua subjetividade, com base em autores como Muniz Sodré e Emmanuel Lévinas, que foram escolhidos para a nossa bibliografia.

Durante esses estudos, percebemos que os olhares sobre os corpos negros eram construídos desde os primeiros vínculos sociais que mantemos na sociedade, e são justamente tais vínculos que formam a nossa subjetividade e nos constroem como indivíduo. O que nos motivou a escolher esta temática foi justamente essa questão de querer entender, na condição de pessoas negras e simpatizantes do movimento antirracista, a constituição desses olhares sobre os corpos negros, e tentar modificar e perturbar esses olhares, de certa forma, por meio de um produto visual.

Ascom: Qual o sentido por trás da estética das fotografias?

AB: As cores especificamente saturadas têm o objetivo de relembrar o neon, e a estética remete a algo que conhecemos comumente como futuro.

Ascom: Como foi a pré e pós-produção das fotografias?

AB: A pré-produção partiu de um processo de tomadas de decisão sobre o rumo que tomaria o ensaio. Após toda uma conversa e alinhamento teórico, decidimos como proceder. Conseguimos uma locação com esse aspecto de metal, então o cenário estava montado. Logo depois, passamos pela escolha dos atores. O figurino, a direção de arte e a maquiagem foram pensados pela Maria Clara e executados com o grupo de forma conjunta. A iluminação e fotografia foram pensadas pela Ísis Furtado e executadas com auxílio do grupo no dia da captação; a edição foi toda dela. A fundamentação teórica foi feita por Raíssa Sales, Antônio Bernardes e Thiago Kalebe. As escolhas das fotos foram feitas pelo grupo.

Ascom: Qual a sensação de ter ganhado o prêmio Expocom Nordeste?

MC: É incrível. É de valorização de um projeto, de trabalho cumprido, de se sentir capaz. É de sentir que a ocupação dos espaços, que é o que a gente quer influenciar com esse nosso trabalho, já está acontecendo. A partir do momento que colocamos atores negros para fazerem nossas personagens, de eu estar apresentando este trabalho em um congresso, em uma faculdade particular, num bairro nobre da cidade, com pessoas de realidade completamente diferente da minha, me ouvindo, já é uma ocupação de espaço. E ser premiada é uma honra, é uma conquista muito grande perceber que nós mesmos já conseguimos ocupar espaços com essa nossa ideia de projeto que é fomentar essa ocupação.

Ascom: De que forma este prêmio agrega na carreira acadêmica e profissional?

AB: Esta premiação em Comunicação incentiva a produzir mais, pesquisar mais e crescer dentro da vida acadêmica. No quesito profissional, é muito satisfatório ver um trabalho ser premiado, pois, a partir disso, várias portas podem ser abertas.

Ascom: Quais são as expectativas para o Expocom Nacional?

MCC: As expectativas em relação ao Expocom Nacional são só maiores e maiores. É a sensação dos tons de voz sendo cada vez mais elevados e a ocupação de espaço aumentando. Vai ser muito importante porque, além de estar representando a negritude brasileira, estaremos representando a negritude nordestina. Modificaremos a nossa apresentação para esse enfoque, para entender a constituição do indivíduo não só negro, mas o negro nordestino. As expectativas estão altas porque, mesmo que não venha o prêmio nacional, estar lá apresentando já é incrível.

Ascom: Vocês pretendem fazer mais ensaios como este?

AB: Nosso grupo de amigos se conheceu na Universidade por conta de ensaios fotográficos, e esse trabalho é muito fruto disso. Seria um pouco drástico dizer que não pretendemos fazer mais ensaios como esses, mas, quem sabe, se surgirem ideias certas em momentos certos.

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Produção: Marcos Paulo Albuquerque
Revisão: Jáder Cavalcante
Fotos: Antônio Bernardes, Ísis Furtado, Thiago Kalebe, Raíssa Sales e Maria Clara Cardoso e Arquivo Pessoal
Lugar: Cidade Universitária Dom Delgado
Texto: Gizele Monteiro
Última alteração em: 10/06/2019 19:34