Você está na versão antiga do portal da UFMA. O conteúdo mais atual está no novo portal.

Obs: algumas funcionalidades, ainda não migradas, podem ser encontradas nesta versão.

Início do conteúdo da página
Início do conteúdo da página

Figura feminina como símbolo de resistência foi tema da abertura da XI Semana Acadêmica de Letras

Publicado em: 03/12/2018

SÃO LUÍS – A XI Semana Acadêmica de Letras da UFMA foi iniciada hoje, 3 de dezembro, com a conferência de abertura “A Figura feminina como símbolo de resistência à pobreza e à discriminação”, tendo a professora e autora Conceição Evaristo como palestrante. O evento ocorreu no Auditório Central da Cidade Universitária Dom Delgado.

Tendo seu encerramento na próxima quinta-feira, 7, o evento é organizado pelo Diretório Acadêmico de Letras Gonçalves Dias (Gestão  Josué Montello) do curso de Letras da Cidade Universitária e tem o objetivo de gerar atividades que contribuam no processo de ensino-aprendizagem dos estudantes do curso de Letras, fortalecendo as ações voltadas para o ensino, a pesquisa e a extensão.

Reflexões sobre o feminismo

Durante sua fala, a professora Conceição fez comentários sobre o movimento feminista, afirmando que o estigma de “sexo frágil” nunca teve mulheres negras rotuladas, e apresentou estereótipos raciais das personagens negras escrita por homens brancos na literatura brasileira. Na sua crítica, a palestrante expôs a luta de Lélia Gonzalez, antropóloga brasileira.

Lélia Gonzalez, uma das mais lúcidas feministas negras, ainda na década de 70, questionou corajosamente o movimento feminista liderado pelas mulheres brancas. Apesar de reconhecer a importância do movimento para as mulheres em geral, não deixou de apontar o contrassenso do movimento branco-feminista de orientação eurocêntrica”, afirmou Conceição.

Ela ainda continuou: “Com veemência, mesmo sendo acusada de dividir o movimento de mulheres, lúcida e corajosamente apontava a incoerência das mulheres brancas que, vítimas de uma cultura patriarcal, exerciam as mesmas formas de dominação sobre as mulheres negras”. A palestrante apresentou como solução a existência de “feminismos plurais”, onde existisse um movimento que não negligenciasse questões étnicas e de raça.

Sexo não frágil

O passado escravocrata do país foi apontado como grande causador do fato de que as mulheres negras não são vistas, em sua visão, como “sexo frágil” – um grande estigma que é visto socialmente como recaído em todas as mulheres. “Enquanto as mulheres brancas e de classe média estão lutando por emancipação e saindo de suas casas para conquistarem o mundo profissional, as mulheres negras já fazem isso desde a escravidão”, declarou a professora.

A professora alegou também que, no passado, a falta de política públicas a negros alforriados para que fossem inseridos na sociedade de forma cidadã favoreceu que os descendentes desses humanos escravizados sejam a maioria dos moradores de favelas e periferias. Desse modo, as mulheres negras são grandes ocupantes das classes menos favorecidas, pois sempre tiveram que trabalhar para sustentar — junto ou não de seus companheiros — a família.

Segundo o site “Mulheres na Periferia”, em uma publicação chamada “Nós, mulheres na periferia”, 22 milhões de mulheres são chefes de família no Brasil.

Estereótipos raciais presentes na literatura brasileira

Expondo Rita Baiana (O Cortiço), Bertoleza (O Cortiço) e Gabriela (Gabriela, Cravo-e-Canela), Conceição colocou para análise as diferentes visões problemáticas que os autores brancos têm das mulheres negras e que se perpetuam em nossa literatura, de forma lamentável, segundo a professora.

“Descrita sempre de forma inferiorizada, a relação de Bertoleza com João Romão sempre a mostra como menor. As descrições de suas interações mostram a negra cuidando do peixe, ou fazendo comida, sempre no plano de baixo, com ela no chão, de cabeça abaixada, com João Romão em pé”, afirmou a professora.

Do mesmo livro, a professora apresentou outra visão da mulher negra: “Rita Baiana é descrita com traços de serpente, que não é um símbolo bem-visto na nossa cultura judaico-cristã. Ao contrário de Bertoleza, Rita é descrita ou em pé, ou deitada, vista como uma mulher poderosa e ao mesmo tempo perigosa, sexualizada, já que ela destrói o lar e a família do honesto imigrante português Jerônimo”.

A docente finalizou com uma análise de “Gabriela, Cravo e Canela”, em que a personagem é sempre relacionada ao prazer sexual e ao prazer da alimentação. “Gabriela é descrita de maneira sexualizada e adjetivada de boa cozinheira. Em ambos os seus papéis, na cozinha e no sexo, a personagem é colocada como uma servidora do homem”, pontuou.

Sobre a palestrante

Nascida em uma comunidade pobre de Belo Horizonte (MG), a professora doutora Maria da Conceição Evaristo de Brito possui nove irmãos e teve que conciliar seus estudos com seu trabalho de empregada doméstica. Graduou-se em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é mestra pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutora em Literatura Comparada pela UFF. Atualmente, trabalha como assessora e consultora de assuntos afro-brasileiros para pesquisa de brasileiros e estrangeiros.

Saiba mais

Para consultar a programação do evento e obter outras informações, acesse o site do evento.


Quer ver uma iniciativa bacana do seu curso divulgada na página oficial da UFMA? Envie informações à Ascom por WhatsApp (98) 98408-8434.
Siga a UFMA nas redes sociais: Twitter, Facebook, Instagram, YouTube e RadioTube

Revisão: Jáder Cavalcante
Fotos: Matheus Werneck
Lugar: Cidade Universitária Dom Delgado
Texto: Luiz Gabriel Bastos
Última alteração em: 04/12/2018 16:38

Mais opções
Copiar url

Outras Notícias

19/04/2021

00:00

Pré-matrícula para os aprovados no Sisu no 1º semestre de 2021 começam dia 19, exclusivamente de forma on-line A Universidade Federal do Maranhão convoca os aprovados no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) para a pré-matrícula no primeiro semestre...

05/04/2021

00:00

Comissão Executiva do Plano de Desenvolvimento Institucional apresenta novas ações Na manhã desta segunda-feira, 5, a Comissão Executiva do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), coordenada pela Pró-reitoria de Planejamento, Gestão...

04/01/2021

20:00

Segunda do Português: "Tão pouco" e "Pornografia" 1. Pornografia No exemplo abaixo, destacamos uma infração muito comum cometida com a palavra “pornografia”. Observe:                 D. Francisca, seu filho foi...

04/01/2021

08:25

A UFMA QUE A GENTE FAZ SÃO LUÍS - Acompanhe os detalhes das principais atividades e ações realizadas pela instituição durante a última semana de 2020,...

31/12/2020

13:58

Portal da UFMA estará de cara nova logo no primeiro dia do ano de 2021 SÃO LUÍS - Com a chegada de um novo ano, novos planos, novos objetivos, novas ideias e novos planejamentos vão...
Fim do conteúdo da sessão