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Entrevista/Cristovam Buarque

Publicado em: 15/09/2003

De O Estado de São Paulo, 12/09/2003

Por Gilse Guedes, Vera Rosa e João Domingos

Brasília - Um dia depois de ter incentivado estudantes a fazerem uma passeata pela Esplanada dos Ministérios, até o Congresso, o ministro da Educação, Cristovam Buarque, admitiu que sua declaração foi "um erro". A manifestação convocada por Cristovam seria para que os alunos reivindicassem mais recursos para o ensino no Orçamento da União para 2004.

"Talvez eu seja um dos ministros menos competentes politicamente. É meu jeito de ser. Eu falo as coisas. Mas, em política, você não tem de falar tudo", argumentou Cristovam. Nesta entrevista ao Estado, o ministro do PT garantiu que não procura uma saída honrosa para deixar o cargo. "Espero que o presidente Lula me mantenha aqui." Descontraído, ele afirmou não se importar com os rumores que apontam para seu afastamento do ministério. Tanto que, ainda ontem, anunciou seu novo plano: pôr a mão na massa e lembrar os velhos tempos, dando aulas para uma das dezenas de turmas de analfabetos do Programa Brasil Alfabetizado. Na sua opinião, o grande legado de Lula, ao fim de quatro anos de mandato, deve ser a educação, e não a estabilidade econômica. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Estado - Quando o sr. convocou estudantes para fazer uma passeata e pressionar o Congresso por mais verbas no Orçamento, sua intenção era o confronto?
Cristovam Buarque - Eu estava no meio de aluno. Aí uma menina me disse que se sentia com as mãos atadas diante do Brasil. Aí eu comecei a falar o que é preciso fazer para desatar as mãos. Disse: "Faça um jornalzinho, reúna um grupo para ser alfabetizador, se mobilize." É possível que, no calor do debate, tenha saído essa frase sobre o Congresso, que eu nem lembro.

Estado - O sr. está acostumado a dizer o que pensa. Chegou até a propor, após a eleição de Lula, que o ex-ministro Pedro Malan ficasse três meses no governo. O sr. gosta de ser polêmico?
Cristovam - Talvez eu seja um dos ministros menos competentes politicamente. É meu jeito de ser. Eu falo as coisas. Mas, em política, você não tem de estar falando tudo. Sou contra mentir. Agora, não precisa dizer tudo. Ontem mesmo, na reunião com esses jovens, eu não precisaria ter colocado o Congresso no meio.

Estado - O sr. foi cobrado pelo presidente?
Cristovam - O governo ainda não cobrou, mas teria o direito de cobrar. O presidente me ligou para dizer que pouca gente está indo ao Labirinto da Alfabetização, na Praça dos Três Poderes. Ele percebe isso do gabinete, da janela do Palácio do Planalto. Vamos pôr ônibus para levar as pessoas lá. Depois, o presidente me perguntou o que aconteceu (sobre a convocação da passeata), eu expliquei e ele riu. Seria natural que o próprio Congresso cobrasse...

Estado - Até porque o sr. é integrante do Congresso, já que foi eleito para o Senado. Pretende voltar para lá?
Cristovam - Não tão cedo nem pela minha vontade. Mas quero viver o suficiente para ir para lá, porque o mandato no Senado é de oito anos. Estou muito contente com o ministério e acho que tenho uma tarefa muito grande a cumprir. Espero que o presidente me mantenha aqui. Acho que eu nasci para ser ministro. Queria ter puxado meu primo Chico Buarque. Gostaria de ter vocação para ser poeta, cantor, tocador de violão... Mas não tive esse talento. Fiz o maior esforço para chegar a ministro. Vou querer sair agora, gente?

Estado - Muita gente do governo interpretou suas declarações como a preparação de uma saída honrosa...
Cristovam - Quando eu era governador do Distrito Federal, um dia um secretário chegou para mim e disse: "Saiu uma nota no jornal dizendo que vou ser demitido. O que eu faço?" Eu respondi: "Deixe de ler o jornal." (risos). Não estou querendo sair do ministério. Minha saída honrosa é alfabetizar todo mundo. Ficar aqui como o ministro que ajudou o presidente alfabetizador do Brasil. Gostaria que Lula deixasse este legado.

Estado - Não pode ser a estabilidade econômica?
Cristovam - Da estabilidade nenhum presidente fica com o legado, porque é o seguinte que mantém. Isso é uma coisa interessante. A estabilidade não deixa nenhum presidente na história. Porque, quando ele sai, ou o seguinte mantém ou relaxa e acabou. A estabilidade é instável: depende do presidente do momento.

Estado - A ex-primeira-dama Ruth Cardoso disse que, ao afirmar que o Brasil finge que educa, o sr. não reconhece a obra do governo anterior. Para ela, assim não se anda para a frente. O que o sr. acha desta crítica?
Cristovam - Acho que raramente o Brasil teve um ministro que reconheceu tantas coisas do antecessor quanto eu. Eu sempre disse: a educação no governo Fernando Henrique não piorou, mas não deu o salto que deveria. Tanto é assim que 59% das crianças da quarta série não sabem ler; 52% não sabem as quatro operações. Pouco mais de um terço termina o ensino médio. Não estou botando a culpa neles. É uma culpa histórica. Agora, eu não finjo. Há objetivos que a gente tem de traçar para o Brasil inteiro. Por que eu defini como meta acabar com os 20 milhões de analfabetos? Porque, se eu não conseguir, vou pedir desculpas.

Estado - Com esse orçamento baixo, vai dar para cumprir a promessa do presidente Lula, que quer "toda criança na escola" até 2006?
Cristovam - Não há como ter recursos a mais neste ano e no próximo. Sou solidário com a posição dos ministros da área. Temos é de apontar para o longo prazo.Vejam que não sou um ministro angustiado: a meta é, em 2010, conseguir que toda a criança esteja concluindo o ensino médio.

Estado - Quatro anos é um período curto. O sr. defende a reeleição do presidente Lula?
Cristovam - Defendo. Mas isso não se condiciona à reeleição. A gente tem de fazer coisas para, quando terminar, o próximo continuar.

Estado - O sr. diz que o governo deve dar continuidade a projetos de administrações anteriores. Por que, então, vai mudar o Provão?
Cristovam - Eu sempre disse que o ministro Paulo Renato teve um grande mérito, por ter criado a consciência da avaliação no País. Agora, o Provão é uma maneira ineficiente de avaliar e será melhorado. Precisamos ter instrumentos para, quando necessário, fechar uma universidade.
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