UFMA

SÃO LUÍS – Costuma-se dizer quando alguém eminente morre: "saiu da vida para entrar para história". Quis o destino que o mesmo não se possa dizer de Ignácio Mourão Rangel, posto que, em vida, já figurasse nas páginas dos livros que contam nosso passado como um importante personagem nos papéis, ora de protagonista, ora de coadjuvante em grandes projetos e obras deste país. Esta foi a forma que o reitor da Universidade Federal do Maranhão, Natalino Salgado, usou para descrever a eterna contribuição que o grande escritor maranhense deixou para a sociedade brasileira, durante o seu discurso na abertura do evento comemorativo de centenário de Ignácio Mourão Rangel, realizado pela UFMA, Conselho Regional de Economia e a Academia Maranhense de Letras. A ocasião, realizada na última terça-feira, no Auditório Central da UFMA, marcou a outorga do título de Doutor Honoris Causa in memorian ao escritor maranhense, honraria atribuída apenas às personalidades que se distinguem pelo saber ou pelo legado construído para a evolução das sociedades.

Nascido, em 1914, em Mirador, interior do Maranhão, Ignácio de Mourão Rangel graduou-se em Direito, mas é considerado um grande economista, distinguido pelo pioneirismo, criatividade e o seu pensamento independente. Ignácio Rangel fez Direito na antiga Faculdade de Direito do Maranhão, que deu origem ao curso de Direito da UFMA. Porém, sua aptidão foi na economia, área em que foi autodidata. Seus textos de análise econômica ganharam, rapidamente, evidência e foi convidado para fazer parte do grupo de assessoramento econômico do presidente Getúlio Vargas. Foi um dos redatores dos projetos de criação da Petrobras e Eletrobrás, duas das mais importantes estatais brasileiras que teriam seu destino atrelado à história do desenvolvimento do País.

Segundo o presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-MA), Filipe Macedo de Holanda, o objetivo da série de homenagens - que se estendem até a próxima quinta-feira na UFMA, na Assembleia Legislativa do Maranhão e na sede do Corecon-MA - foi de revitalizar o debate e renovar o interesse pelas obras do Rangel, principalmente entre as novas gerações de acadêmicos, planejadores públicos e privados e os demais interessados em sistema multidisciplinar do desenvolvimento econômico e social. Por isso, o evento congrega economistas, professores, intelectuais, pesquisadores e estudantes em torno da discussão do pensamento de Rangel, destacando a ampla visão interdisciplinar e engajamento político do escritor, além de suas vivências familiares.  

Na solenidade da última terça-feira, o reitor Natalino Salgado também frisou que este reconhecimento serve como um convite para o seguimento ao caminho do saber. “Esta instituição ao conceder este título, não o apenas fez como um justo reconhecimento ao economista que Ignácio Rangel foi, mas como forma também de convidar a tantos outros que trilhem em caminhos onde as luzes do saber os recompensem ao final da jornada”, definiu. O reitor ainda reforçou que, com essa distinção, a Universidade quer eternizar, no âmbito acadêmico, a importância de Ignácio Rangel na busca de soluções capazes de garantir um mundo mais solidário e mais justo.

O palestrante da noite, economista Márcio Henrique Monteiro de Castro, preferiu centrar sua comunicação na vida profissional de Rangel, retratando como a sua obra foi recebida e percebida. Para o economista, Rangel foi um pensador lido por alguns e entendido por poucos. Segundo o palestrante, a comemoração do centenário e a homenagem devem ser feitas, mas fundamentalmente, as obras de Rangel também precisam ser recuperadas, analisadas e discutidas. Marcio de Castro contou que uma das obras mais importantes de Rangel, A Dualidade Básica da Economia Brasileira, clareou as especificidades que teriam possibilitado o país a realizar uma industrialização sem reforma agrária prévia, diferente, portanto do que afirmava o Partido Comunista nos anos 1930.

Falecido em 1994, o Ignácio Rangel teve sua filha, Liudmila Rangel Ribeiro, como receptora da homenagem póstuma. Para a família, Rangel sempre foi uma pessoa alegre perto da família, mas muito rígido no que tange as questões éticas. Segundo a Liudmila Rangel, seu pai sempre foi um homem complexo. “Nunca foi fácil ser a filha do meu pai, seu grau de exigências nunca foi pequeno, por isso receber esta honraria da universidade federal da nossa terra, tenho certeza que o deixaria com o sorriso no rosto inteiro”, concluiu.

A neta do homenageado, Adriana Rangel, conta que o avô amava muito seus netos e sempre os recebia em sua casa com muita alegria. “Sempre que eu chagava na casa dele, ele estava com sorriso e ansioso por ver os netos e sempre ao lado do tabuleiro do gamão”, como lembrou.

Além da outorga ao homenageado do título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), e uma sessão solene na Assembleia Legislativa, a programação também conta com palestras, debates e o lançamento do livro "Ignácio Rangel, decifrador do Brasil".

Estiveram presentes na solenidade da última terça-feira, o reitor da UFMA, Natalino Salgado; o vice-reitor, Antonio José Oliveira; o chefe do Departamento de Economia, Ricardo Zimbrão Affonso de Paula; o presidente do Corecon-MA, Filipe Macedo de Holanda; a filha do homenageado da noite, Liudmila Rangel Ribeiro; o secretário municipal do planejamento, José Cursino Raposo Moreira; o presidente do Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos, Fernando Barreto; a presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de São Luís, Socorro Noronha; e o gerente de Relações Institucionais da Vale, Dorgival Pereira.

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Revisão: Charles Martins

Lugar: Cidade Universitária do Bacanga
Texto: Deolindo Deolino
Última alteração em: 27/03/2014 13:24