UFMA

A produção dos alunos da oficina “Além da visão: uma proposta de percepção das artes visuais” foi apresentada ao público no Palácio Cristo Rei, na última quinta-feira, durante o “Happy Hour – só arte”. Entre as obras estão esculturas em argila, pinturas em alto-relevo e máscaras em gesso.

A oficina, realizada em agosto deste ano, teve como público-alvo pessoas com perda parcial ou total da visão. As aulas foram divididas em três momentos: “escultura em argila e experimentação da técnica de modelagem com argila”; “máscara mortuária – experimentação na produção de máscaras de gesso” e “a psicodinâmica das cores”. Na oficina, da qual participaram 12 alunos, foram apresentadas noções teóricas sobre a arte e atividades práticas, que deram origem às obras de arte expostas no evento.

A iniciativa é do Núcleo de Educação Especial do Colégio Universitário (Colun), da coordenação de estágio do Colun e da supervisão de estágio do Departamento de Artes Visuais da UFMA.

Sob a supervisão da professora Angélica Cunha, os alunos da oficina trabalharam obras de arte de diferentes momentos históricos: da arte moderna até a arte contemporânea. Telas da artista brasileira Tarsila do Amaral e do espanhol Pablo Picasso tiveram que ser adaptadas; após transformadas em “alto-relevo”, os alunos puderam conhecer as imagens, através do tato. Pouco a pouco, as habilidades artísticas de cada um foram tomando forma.

“Nós lançamos este desafio: como trabalhar artes visuais com pessoas que não vêem. A princípio parecia ser um trabalho muito difícil, árduo mesmo. Mas depois eles começaram a estudar. Criamos um ambiente dentro da escola para que eles pudessem conhecer a deficiência visual, estudar sobre a inclusão do aluno”, disse a professora Angélica Cunha. Ela informou que o objetivo do grupo é tornar a oficina um projeto de extensão, para que as atividades sejam oferecidas permanentemente.

É essa solidez que recobre o pensamento dos alunos da oficina. Raimunda Rocha, professora da Escola de Cegos do Maranhão e do CAPE, participou do curso e é uma das entusiastas da idéia. Ela reiterou que espera que o curso “não pare por aqui”.

Quando a arte transcende a deficiência visual

Os artistas Manoel do Vale e André Aroso têm, em comum, uma certeza: a de que superaram mais uma barreira, entre tantas outras que se apresentam às pessoas com deficiência. Desenvolvendo sua habilidade tátil, eles produziram obras que já repercutem de forma positiva no cenário cultural local.

O esmero de rostos, máscaras, pinturas, miniaturas...tudo isso se opõe à idéia de que é preciso enxergar para reproduzir a realidade. Uma nova forma de visão está, aos poucos, sendo perpetuada pelos alunos.“A deficiência visual não é uma barreira. Ela precisa, sim, de oportunidades, de estrutura e de um pouco de compreensão das pessoas. É lógico que vai haver dificuldades, como há na vida de todo mundo”, disse Manoel do Vale. Ele acrescentou que, no próximo ano, pretende buscar um espaço para desenvolver o trabalho e que tem recebido elogios do público. As peças de Manoel foram, segundo ele, voltadas para o “real”, para aquilo que ele queria “fazer ver”.

O artista André Aroso nunca havia tido contato com a arte. Mas bastaram algumas horas de expressão artística para reavivar sua vontade de superar os próprios limites. “Foi a primeira vez que tive contato com as artes plásticas, foi muito proveitoso para mim”, disse Aroso. Após conhecer os meios de expressão artística, ele não pensa em deixar a atividade tão cedo.