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Segundo dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS-2006), 7% das crianças brasileiras apresentam quadro de desnutrição, prejudicando seu desenvolvimento motor e aproveitamento escolar. Como forma de combater esse índice, ainda considerado alto, criou-se a chamada multimistura, distribuída pela rede filantrópica Pastoral da Criança a famílias de baixa renda em todo o país.

Essa farinha é composta de folhas verde-escuras, sementes e cascas de ovos trituradas e torradas, variando segundo a disponibilidade em cada local. Essa variabilidade impede a adoção de uma fórmula padrão, dificultando a análise dos efeitos desse suplemento e da oferta de nutrientes necessários à recuperação nutricional de crianças e gestantes, maiores usuários.

No Maranhão, quem trabalha e produz essa multimistura é a Pastoral, localizada no bairro do Coroadinho, em São Luís, que recomenda a ingestão diária de duas colheres de chá às crianças e 2 colheres de sopa aos adultos, acrescidas às refeições ou a vitaminas e sucos.

A preocupação com a análise e informação nutricional do alimento surgiu também em função das famílias estarem se valendo apenas da multimistura para suprir a alimentação das suas crianças. Constatou-se que apesar de ajudar, o alimento tem caráter suplementar.

Para avaliar a qualidade nutricional da multimistura produzida no estado, a graduanda em Nutrição da Universidade Federal do Maranhão, Daniele Sousa, desenvolveu sua tese de conclusão de curso.

Sob orientação do professor Vitor Moucherek, três amostras diferentes da farinha foram analisadas em triplicata, determinando os teores de proteínas, lipídios, fibras, carboidratos e minerais, além do valor calórico. “Os resultados apresentados correspondem a uma média, uma vez que a composição da multimistura varia de acordo com os vegetais disponíveis”, explica Daniele, citando entre os ingredientes folhas de chuchu, beterraba, batata, sementes de gergelim, girassol, abóbora e farinha de soja.

Em termos minerais, a multimistura apresentou 1,4 mg de Ferro para cada duas colheres de chá, correspondendo a apenas parte da ingestão diária recomendada (IDR) às crianças, com 20% do total, que varia de 6 a 9 mg do nutriente. Para a mesma quantidade encontrou-se 1,3 mg de Zinco, 26% da IDR de 4,1 a 5,6 mg recomendadas a essa faixa etária.

A presença de proteína ficou em 19% numa amostra de 100g, considerando-se que proteína vegetal tem menor valor biológico que a de origem animal; em outra amostra similar o percentual de lipídios ficou em 13,5% e o de carboidratos superou os 50%, sendo este último valor tipicamente encontrado em farinhas. Para Daniele esses dados precisam ser vistos com cautela. “Considerando a dosagem recomendada, percebe-se que a farinha não garante a suplementação necessária para resolver o problema. Para uma criança desnutrida ela obviamente representa uma grande ajuda, mas só é capaz de combater problemas nutricionais se associada a uma dieta variada.”

A pesquisa detectou ainda a ausência de uma fórmula padrão e de informações nutricionais no rótulo da embalagem, como recomenda a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Além disso, o Ministério da Saúde e o Conselho Federal de Nutrição não permitem a prescrição da multimistura por nutricionistas. “É um produto que desempenha um papel social muito importante, mas que necessita se adequar às orientações da ANVISA e orientar seus usuários sobre consumo e efeitos”.