UFMA

Com a criação do Centro de Lançamento Aeroespacial (CLA) em Alcântara, centenas de famílias foram transferidas de suas terras para as agrovilas, afetando o cotidiano de povos com tradições seculares. Se antes algumas comunidades tinham sua dinâmica de vida, os projetos desenvolvimentistas afetaram sobremaneira tais relações. O caso dos quilombolas de Alcântara é sintomático.

De acordo com a professora do Departamento de Sociologia e membro do Grupo de Estudos Rurais e Urbanos (GERUR), Maristela Andrade, antes, alguns elementos da natureza eram tidos como ícones em determinados aspectos da vida dos quilombolas. Porém, com a intervenção do CLA, o ambiente da comunidade é modificado na velocidade com que ele avança sobre as terras quilombolas.

A pesquisadora destaca a existência desses projetos na Região Amazônica e o papel da Universidade nesse contexto: “Estamos inseridos em um meio invadido por grandes projetos de desenvolvimento. O Maranhão e a Amazônia são palco dessas intervenções que são sempre muito prejudiciais em termos sociais. O rastro que esses processos deixam na sociedade é brutal. O nosso papel enquanto cientistas sociais é tomar esses objetos para reflexão. A Universidade tem que despertar para essas questões sociais”, alertou.

O assunto em destaque foi tema da mesa redonda “Políticas de desenvolvimento, movimentos sociais e conflitos sócio-ambientais”, parte da programação da VI Jornada Maranhense de Sociologia. Além da professora Maristela de Paula Andrade, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), participaram como debatedores os professores Henri Acselrad, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Zulene Muniz Barbosa da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e Alberto Cantanhede, do Movimento Nacional de Pescadores (MONAPE) e do Grupo de Trabalho Amazônico (GTA).

Para Maristela Andrade, a VI Jornada contribui para tal reflexão, pois demonstra a qualidade que se imprime no ensino das Ciências Sociais, tanto na graduação como na pós-graduação, dando a possibilidade tanto a alunos como a professores do contato com pesquisadores de outros lugares, maximizando a troca de experiências.

A Jornada se encerra nesta sexta, com os seguintes grupos de debate (GD) no período da manhã: O Global e Regional: as contradições entre os grandes empreendimentos econômicos- industriais e as desigualdades sociais no Maranhão; Cartografia Social da Amazônia: territorialidade e conflito; Povos Indígenas e Estratégias Desenvolvimentistas; Impactos de grandes projetos de desenvolvimento na Zona Rural de São Luís – MA; e Trabalho de Campo: pesquisas e vivências. Em seguida, o evento continua com a exposição de painéis. Durante a tarde acontece a mesa redonda Questões étnico-cultuais e territorialidades na Amazônia e a conferência Conhecimentos Tradicionais – perspectivas de pesquisas comparadas nas Ciências Sociais.