UFMA

SÃO LUÍS - “Ter pena de si próprio é o seu maior inimigo, e, se continuar, nunca conseguirá alcançar nada no mundo”: foi com a frase de Helen Keller, a primeira estudante surda e cega a alcançar o nível de bacharelado no mundo, que a estudante Juliana Antunes Queiroz iniciou a conclusão de sua trajetória acadêmica, com o trabalho “Percepção do Adolescente portador de Deficiência Auditiva sobre Saúde Bucal”. Juliana é a primeira estudante surda a concluir o curso de Odontologia no Maranhão, recebendo as notas máximas pela banca após defender seu trabalho de conclusão na manhã desta quinta, no prédio de Odontologia.

Orientada pela professora Elizabeth Lima Costa, Juliana abordou em sua monografia a carência de comunicação entre profissional e paciente surdo causada por diversos fatores, como a falta de capacitação ou falta de instrumentos que auxiliem esse processo, por exemplo.

Juliana fez uma pesquisa entre março e outubro deste ano com 83 adolescentes matriculados no Centro de Ensino e Apoio a Pessoas com Surdez (CAS). Por meio de entrevistas e aplicações de questionários, a estudante constatou que houve predominância na falta de capacitação de dentistas para o atendimento de pessoas surdas, prejudicando o vínculo assistencial com os pacientes.

Em suas considerações finais, Juliana sugeriu a formação continuada de profissionais para impulsionar o êxito na assistência à saúde do surdo, a inclusão de um componente curricular que trabalhe a Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) nas graduações e a inclusão de uma cartilha de saúde bucal para surdos — que a docente, inclusive, produziu e incluiu na sua apresentação. A cartilha contém informações cruciais para o paciente com surdez, como os tipos de dentições e os termos mais comuns na área da Odontologia em gestos de Libras.

Juliana diz que a sua preocupação com a falta de capacitação de profissionais para trabalhar com pessoas com surdez foi a principal motivação para a escolha de seu tema. “O profissional não tem instruções em Libras, só faz mímicas e leituras labiais e conversas familiares. Precisa-se ter essa instrução, para o profissional ensinar os pacientes da maneira correta”, disse Juliana sobre o processo de instrução de procedimentos odontológicos.

A coordenadora do curso de Odontologia, Rosana Casanovas, falou sobre o processo de acessibilidade nos componentes curriculares, que se deu por meio de reuniões com o corpo docente e representantes do Núcleo de Acessibilidade da UFMA. “Hoje é um dia muito especial, que marca uma trajetória cheia de esforço e superação de Juliana. Conheci-a bem mais de perto desde que entrei na coordenação, em 2016. Observamos no dia a dia a sua bagagem de competência e determinação, juntamente com a equipe do Núcleo de Acessibilidade. É um prazer imensurável fazer parte dessa história”, disse.

Elizabeth Lima Costa, orientadora de Juliana, reiterou que o processo de orientação agregou toda a comunidade acadêmica do curso de Odontologia. “Foi um desafio e um processo de aprendizagem. Esse trabalho foi um leque de conhecimento para dentistas aprenderem a melhorar a comunicação e o vínculo profissional com pacientes surdos. Nós buscamos o conhecimento junto com a Juliana”, pontuou.

Maria da Piedade Oliveira, coordenadora do Núcleo de Acessibilidade, manifestou a sua emoção de uma assistência bem-concluída em relação à vida acadêmica de Juliana, que concluiu o curso no tempo normal. “No começo, não foi fácil, pois os docentes ainda não estavam acostumados com a presença de um intérprete nas aulas, mas foi algo que fluiu com o tempo. Isso garantiu o sucesso da aplicação e contribuiu com a vida acadêmica de Juliana”, disse.

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Revisão: Jáder Cavalcante

Lugar: Cidade Universitária Dom Delgado
Texto: Rodrigo Bomfim
Última alteração em: 06/12/2018 16:33