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Os Sertões (1902): o primeiro romance-reportagem da literatura brasileira

Publicado em: 18/10/2018

SÃO LUÍS – “Depois de quatro longos dias de verdadeira tortura, subo pela ultima vez à tolda do vapor na entrada belíssima e arrebatadora da Bahia” — assim escreveu Euclides da Cunha, ainda enjoado, em uma carta para o jornal O Estado de S. Paulo, enquanto desembarcava em Salvador (BA), em agosto de 1897.

Euclides foi enviado pelo jornal ao qual colaborava para relatar de perto a Guerra de Canudos, conflito entre os governos baiano e federal contra os moradores do Arraial de Canudos, que perdurou de 7 de novembro de 1896 a 5 de outubro de 1897, o que configura 121 anos do fim do conflito neste mês. É durante essa viagem que o autor escreve as primeiras notas de sua obra-prima “Os Sertões” (1902), considerado o primeiro romance-reportagem da literatura brasileira.

A professora Letícia Cardoso, do Departamento de Comunicação Social da Universidade (DCS), explica que Euclides não pensou no livro como um romance-reportagem porque esse gênero ainda era inexistente — passou a existir após o lançamento da obra, assim como a sua caracterização.

“O que caracteriza o livro como romance-reportagem é justamente a representação da realidade baseada nos fatos com apuração, que é jornalística: estar lá em uma pesquisa, falar com as pessoas e coletar relatos por meio de entrevistas. O gênero romance-reportagem é baseado nessas técnicas, com uma linguagem que se aproxima muito da literária, não perdendo de vista que, por ser jornalismo, tem que ter referência com a realidade”, pontuou a docente.

Técnicas

Segundo a professora, as técnicas que Euclides utilizou durante o processo de elaboração de “Os Sertões” têm fundamentações antropológicas, etnográficas e sociológicas. O escritor não ficou preso somente ao conflito e à abordagem editorial do veículo em que trabalhava. Quando chegou ao Arraial de Canudos, Euclides começou a entender como eram as pessoas que ali moravam: simples, que no fundo não combatiam o governo, mas, sim, exigiam melhoria de vida, o pertencimento das suas terras e a reivindicação de direitos.

“Euclides teve sensibilidade: inicialmente, ele foi cobrir o conflito com a abordagem editorial nacionalista d’O Estado da época. No entanto ele não conseguiu ir contra os seus princípios e valores éticos, porque ele via que o que acontecia ali naquele povoado não condizia com a maior parte dos relatos que eram divulgados na imprensa nacional. Somente no terceiro capítulo, ‘A Luta’, é que ele descreve a guerra de Canudos, que dizimou grande parte da população sertaneja. Eles perderam a guerra, mas simbolicamente foram vitoriosos. Hoje a história mostra que eles foram injustiçados”, contou Letícia.

Contemporaneidade

A docente pontua também que a visão da imprensa sobre os revoltosos de Canudos se repete em movimentos sociais da atualidade. Letícia relacionou a factualidade com o terceiro capítulo de “Os Sertões”.

“O terceiro momento é a luta. Já se percebe uma grande diferença em relação aos outros relatos jornalísticos que havia sobre a Guerra de Canudos, que tinham uma ‘pegada’ muito tendenciosa de retratar aquele povo como arruaceiros, baderneiros e antinacionalistas. Pode-se até fazer uma comparação com matérias que hoje retratam movimentos sociais como uma forma de desestruturação social: o próprio MST é visto como um movimento altamente pejorativo pela mídia convencional. Era mais ou menos isso: eles eram retratados como elemento que incomodava a sociedade, o ‘cidadão de bem’, o império da época”, conclui.


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Produção: Luiz Gabriel Bastos
Revisão: Jáder Cavalcante

Lugar: Cidade Universitária Dom Delgado
Texto: Rodrigo Bomfim
Última alteração em: 18/10/2018 15:11

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