UFMA

O professor Allan Kardec publicou no jornal O Estado do Maranhão o artigo “ Não tem Preço” em que aprova o sistema de inscrição pela internet, inédito no Vestibular da UFMA. O texto do professor Kardec repercutiu positivamente em São Luís pelo que coloca a Universidade no exercício de seu papel de vanguarda.


Leia o artigo na íntegra:

NÃO TEM PREÇO

Allan Kardec Duailibe Barros Filho

Ver Fátima Bernardes desdenhando do Maranhão. Tem preço? A cabeça avança para câmara, a sobrancelha arqueia, como a perguntar. Quase com desdém. E aí, vocês vão continuar pensando dessa forma? Como a afirmar que a gente tem de continuar ocupando o espaço que nos cabe no latifúndio brasileiro. Aquela coisa de ter o pé na cozinha.

O Jornal Nacional exibiu uma reportagem em que quase condenava a Universidade Federal do Maranhão por ter inovado. Por ter colocado na Internet a inscrição do vestibular. Só precisa do bom e velho CPF. Nada de longas filas. Nada de comprar manuais. Nada de gastar com transporte urbano. Nada de gastar com telefonemas do interior para a capital, para agilizar a inscrição. Enfim, a UFMA foi condenada por ser o que é ser essencialmente - uma universidade que avança, inova e inclui socialmente o seu próprio Estado.

Fomos condenados porque o Maranhão tem 2,7% de PCs com acesso à web. Já o Rio de Janeiro tem 17,4%. A pergunta que me incomoda é: e se fosse a UFRJ que fizesse essa “inovação”? Ela seria condenada ou incensada? São Paulo chega a 20%. A USP poderia inovar? Poder-se-ia (vixe!) dizer que esse é um bom número? Justo Veríssimo, aquele personagem de Chico Anísio, dizia “pobre correndo é ladrão, rico correndo é atleta!”

O bom de se utilizar números de forma aleatória é justamente o que se vê por trás dessa “estatística”. É só observar as conclusões fáceis que se pode chegar com a manipulação dos mesmos. “A taxa de natalidade é o dobro da de mortalidade, portanto uma em cada duas pessoas é imortal!” ou “33% dos acidentes de trânsito envolvem pessoas embriagadas e a maioria, portanto 67% estão sóbrias, logo devemos dirigir bêbados porque é mais seguro.”

É óbvio que a conclusão que se chega é que 97,3% dos maranhenses não poderiam fazer o vestibular - simplesmente porque não têm acesso à Internet. O buraco é bem mais embaixo. Somos, certamente, um dos Estados mais pobres de Federação, mas com certeza não somos o mais excludente. A UFMA avançou um passo enorme rumo à desburocratização. A UFMA não teve medo de quebrar a estrutura de pensar. A UFMA não se envergonhou de ter “universidade” logo como seu primeiro nome. A UFMA não pestanejou em servir.

Pensava que o professor Natalino Salgado - um dos gestores públicos de maior respeito no Brasil - fosse enfrentar dificuldades na recém-assumida tarefa de reitor. Não só pelo que hoje é a Universidade Federal do Maranhão. Mas também porque fazer ciência, incluir a população e trabalhar em favor do progresso sempre provocou, enseja e causará polêmicas.

No fundo, aquela é uma visão determinista do mundo. Que, felizmente, está perdendo fôlego nos últimos anos. Um mundo dividido, aquela coisa meio Ying e Yang. Chinesa. Milenar. A ciência moderna já não assume essa visão. Por exemplo, a sobrevivência do mais apto já não deriva unicamente da competição - aquela coisa de Charles Darwin.

Publicamos recentemente um artigo na revista inglesa Nature falando justamente dessa diferença que é fazer ciência em uma realidade como a do Nordeste brasileiro. Lutamos internamente para mudar mentalidades. E externamente, competindo intensamente. A UFMA faz isso hoje: está na fronteira do conhecimento e inovação.