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Palavra do Reitor

Diversidade local como solução global

O Brasil está servindo de cenário para um dos mais importantes eventos deste início de século: a conferência Rio + 20, realizada na cidade do Rio de Janeiro, reunindo representantes de 194 nações. Essa conferência acontece exatos 20 anos mais tarde, após a realização da ECO 92, que foi  o primeiro grande evento das sociedades contemporâneas a pensar o meio ambiente como um assunto totalmente global. As centenas de atividades do evento estão abordando temas que nortearão o futuro do planeta e, por consequência, da humanidade, e que deverão fundamentar um novo paradigma de desenvolvimento sustentável, baseado no conceito de economia verde, que envolve a preocupação com a redução dos índices de pobreza. 

São temas atuais, que despertam calorosas discussões entre as nações pobres e ricas, pela diversidade de opiniões sobre a tradicional relação entre o capital e o trabalho. Temas estes que pretendem trazer soluções para problemas, que envolvem todas as nações, como o aquecimento global, escassez de água, produção de alimentos, explosão demográfica e, ainda, o aumento do padrão de consumo material e energético dos países emergentes como o Brasil. O que está em jogo, em todas essas questões, é como manter o crescimento do planeta, com a consequente qualidade de vida das pessoas, e, ao mesmo tempo, garantir o desenvolvimento econômico dos países.

Atendendo a esse chamado de oferecer soluções, é que a Universidade Federal do Maranhão se insere no contexto de incentivo à produção e disseminação de conhecimentos, em especial a partir do estudo da diversidade natural em nosso Estado. Poderia apontar inúmeros exemplos, mas quero destacar, neste artigo, o papel desempenhado pelo Campus Universitário da UFMA em Chapadinha, que, por meio do Centro de Ciências Agrárias e Ambientais (CCAA), oferece os cursos de Agronomia, Ciências Biológicas e Zootecnia. O Campus de Chapadinha está estrategicamente localizado numa região que faz parte do cerrado maranhense, segundo maior bioma que se espalha por oito estados e ocupa cerca de 24 %  da superfície do nosso país. 

Essa área representa, por suas características climáticas, topográficas e de solo, a mais explorada pela agricultura nacional ou o chamado agrobusiness.  Em particular no município de Chapadinha e região, essa área vem apresentando um desenvolvimento acelerado nos últimos anos, com a implantação de grandes lavouras de soja e milho, além do incremento da produção agropecuária. Isso reforça a decisão acertada de interiorização da Universidade Federal do Maranhão de ocupar estrategicamente as microrregiões que possuem grande potencial, mas que, até há pouco tempo, careciam de conhecimento técnico especializado para sua exploração.  

Foi a partir da constatação da diversidade e da riqueza natural da região que a pesquisadora Maria da Cruz Chaves Lima Moura, do curso de Agronomia, do CCAA, elegeu como fonte importante de pesquisa uma fruta tipicamente maranhense, o bacuri (Platonia insignis  Mart,  Clusiaceae), que tem sido fonte de sustento para muitas famílias que dela sobrevivem pela coleta extrativista e processamento da polpa, principalmente. Esse esforço de catalogação de informações sobre o Bacuri permite, por exemplo, antever um grande potencial econômico que pode vir a ser explorado pela economia verde.

 A pesquisa da professora informa que das sementes é possível extrair o óleo para fins medicinais, fabricação de sabão com características antifúngicas e antibactericidas; da casca dos frutos, é possível a produção de doces, geleias, sucos, licores, sorvetes e outros produtos que já possuem valor de mercado no Brasil e em outros países; da madeira, é possível extrair material para obras hidráulicas e carpintaria. Além disso, há um grande potencial para uso do produto na fabricação de cosméticos e, possivelmente, uso farmacêutico ainda inexplorado. Tudo isso está sendo pensado, tendo como base a manutenção das áreas nas quais a planta surge naturalmente como mata nativa, o que, portanto, diminui o desmatamento, combate a pobreza e fortalece a pequena agricultura familiar ou cooperativista.  

Essa pesquisa alia, evidentemente, o conhecimento tradicional ao científico, agora registrado na pesquisa mencionada, já que aponta para uma multiplicidade de usos dessa planta, que se sobrepõe à sua principal utilidade, isto é, uma fruta de consumo extrativista. Esse conhecimento é outro patrimônio que precisa ser ainda mais valorizado para que dele se possa partir para novas descobertas científicas, sem o desmerecimento do conhecimento tradicional. Nesse sentido, uma pesquisa americana aponta que a utilização do conhecimento das comunidades nativas economiza em 400 % o tempo entre a pesquisa, os testes, as matérias, os equipamentos e os salários de cientistas envolvidos.  

A geração de novas oportunidades de emprego, o desenvolvimento e as divisas para o Brasil passa, necessariamente, por esse tipo de conhecimento catalogado com repercussões importantes para o debate sobre a nossa biodiversidade, uma das maiores do mundo. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) estima que esse patrimônio genético valha cerca de U$$ 2 trilhões. Outras nações e a rica indústria cosmética e farmacêutica têm se utilizado de plantas e animais de várias partes do mundo, inclusive do Brasil, na produção de diversos produtos que movimentam um mercado de bilhões de dólares por ano. 

Guardando-se as devidas proporções, pode-se afirmar que o estudo do Bacuri e de dezenas de outras plantas com igual potencial pode ajudar a realizar as metas de um desenvolvimento sustentável – à semelhança daquelas discutidas na Rio + 20 –  e  contribuir para soluções que afetarão positivamente não somente nossas comunidades, como também outras similares em nosso país. Afinal, uma terra só pode ser considerada próspera se aqueles que nela habitam forem igualmente prósperos. O equilíbrio entre os tipos de conhecimentos – o tradicional e o científico – é o que pretendemos debater à exaustão na 64ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC, que acontecerá de 22 a 27 de julho de 2012, na UFMA.

 

Doutor em Nefrologia, reitor da UFMA, membro do IHGM, ACM e AMC

Publicado em O Estado do Maranhão em 17/06/2012

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