Palavra do Reitor
“Pra mim é fundamental a proximidade da Igreja. Porque a Igreja é mãe, e nem você nem eu conhecemos uma mãe por correspondência. A mãe dá carinho, toca, beija, ama. Quando a Igreja, ocupada com mil coisas, se descuida dessa proximidade, se descuida disso e só se comunica com documentos, é como uma mãe que se comunica com seu filho por carta".
Esse é um trecho literal da entrevista que o Papa Francisco concedeu ao repórter Gerson Camarotti, da GloboNews, que foi exibida no domingo passado no Fantástico. À ocasião, o Papa falou de muitos outros assuntos, mas destaco esse fragmento, em especial, para servir de base à ideia evocada pelo Santo Padre, que se coaduna com outra ideia de maternidade como uma grande metáfora. Francisco fala de cuidado, zelo e atenção, tudo o que deve caracterizar a relação entre uma mãe e seu filho, pois se estiver ausente qualquer um desses elementos, descaracterizada está a relação.
Não é a toa que o próprio Deus também se utiliza do tema maternidade quando discorre com profeta Isaías: “Acaso pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas, ainda que esta viesse a esquecer-se dele, diz o Senhor – Eu, todavia, não me esquecerei de ti. Eis que nas palmas de minhas mãos te gravei...” (Isaías 49: 15-16).
Ao comparar a igreja a uma mãe, o Santo Padre reforçou ainda mais o papel cuidador e provedor que a Igreja deve ter para com todos aqueles que a procuram em busca de alívio e conforto para suas dores; ou seja, deve orientá-los para momentos de desatino; ajudá-los a compreender situações em que um simples afago faz grande diferença. A Igreja que abraça, que entende, que acalenta e até mesmo que repreende tem um intuito de educar, redarguir, corrigir para o bem.
É de Santo Agostinho a frase: “Creio nos Evangelhos porque a Santa Mãe Igreja me manda acreditar neles”. O santo sabia a quem creditar sua esperança, sua fé e seu amor. Foi no seio de uma mãe protetora, ensinadora e orientadora que seu caráter foi formado. Todos nós que tivemos a benção de termos uma mãe com essas qualidades sabemos o que esperar de uma igreja a quem elegemos para prestar nosso culto e devoção a Deus.
A bordo do avião que o levou de volta ao Vaticano, o Papa respondeu a um repórter que questionou acerca de temas polêmicos, e a posição do pontífice foi a mesma da igreja, pois afirmou: “Sou filho da mãe igreja”. Com esse pensamento, ele se coloca em posição de obediência à mãe experiente e protetora.
O próprio Cristo, em certa ocasião (Evangelho de São Lucas 13: 34-35), se identifica com uma mãe zelosa e, embora nos seja uma imagem conhecida, certamente comparar-se a uma galinha, que reúne seus pintinhos debaixo de suas asas, pode parecer estranho aos nossos olhos urbanos e ocidentais. Entretanto, é impossível não perceber a força da imagem reproduzida mediante palavras, pintada como uma tela em nossas mentes a evocar uma forte sensação de zelo e cuidado.
Infelizmente, naquela ocasião, o público ouvinte ignorou sua oferta de amor. Não porque estranhasse a comparação, mas pelo embrutecimento que a religião sem ternura pode causar nas almas. Estavam apenas acostumados a ritos e normas, e o faziam com rigor e dedicação, mas o espírito do porquê havia se perdido entre as pedras do templo e o altar do sacrifício. Talvez, por isso, a imagem de mãe, longe de qualquer fixação edípica, nos convide a uma nova relação com a igreja. É isso que o Papa Francisco parece nos dizer.
Uma Igreja que assuma cada vez mais sua vocação de mãe é o que homens, mulheres, jovens e crianças desejam. Que nossa amada Igreja internalize a fala do Santo Padre e possa, neste mundo cada vez mais vazio e distante de Deus, estabelecer o bom e reto caminho que aponte para um futuro melhor, mais cheio de graça e misericórdia. E que a recíproca do amor de seus filhos seja verdadeira e, como lembra mais uma vez Santo Agostinho: “Na medida em que alguém ama a Igreja é que possui o Espírito Santo”.
Publicado em O Estado do Maranhão em 04/08/2013
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