Palavra do Reitor
Meu pai é quase um centenário. Em Cururupu, interior do estado, viveu seus verdes anos entre as reentrâncias, que é a forma de o mar beijar o continente na baixada ocidental do Maranhão. As dunas branquíssimas movediças desenham paisagens que se modificam de um dia para o outro. O oceano flui pelos milhares de igarapés marinhos que serpenteiam o mangue. As ilhas, centenas que se aglomeram como um enxame verde, estão marcadas tanto na vida de meu pai quanto na do povo da região. O ar, o vento e os cheiros que ele carrega impregnaram de tal forma a memória que, associada a uma infância livre e feliz, despertou em meu pai um pedido que para mim não foi de todo inesperado. Outro dia ele me disse: "Meu filho, antes de morrer, eu quero voltar à minha terra. Quero sentir de novo a areia da praia sob meus pés. Quero tocar aquele chão sagrado novamente".
O tempo não volta, é uma seta que corre para frente em uma velocidade estonteante e só nos damos conta depois que ele passa. A partir dessa ordem-desejo de meu pai, pude imaginar os lugares vinculados a lembranças que estão meio borradas, esmaecidas pelas muitas vidas em uma só que vivemos. Mas sei que basta uma única pisada na areia e sentir a sensação dos grãos afagarem a sola dos pés, para tudo voltar vivo e pulsante, como se o tempo tivesse aberto uma janela e pudéssemos espiar, sentir novamente emoções e ver a saudade se transformar na mesma alegria.
Por coincidência, esta semana o canal Globo News apresentou o documentário de Fernando Gabeira sobre a ilha dos Lençóis, talvez a mais mítica das ilhas maranhenses, localizada próximo à região de Cururupu. Histórias sobre suas areias e sua gente têm sido contadas há gerações. Ali o rei dom Sebastião, desaparecido quase de forma mágica da batalha de Alcácer Quibir, no século XVI, nas areias do Saara, passeia montado num touro negro e renasce das dunas à luz da Lua. Não é difícil encontrar quem conte ter se deparado com o rei como se fosse uma assombração. Na ilha, os filhos da lua dos Lençóis, como é denominada uma curiosa comunidade de albinos, andam pelas areias e navegam pelo mar nas mesmas noites de dom Sebastião.
Filho orgulhoso que sou de Cururupu, deixei-me levar pelo olhar atento do documentarista que gravou não só imagens bucólicas da região, mas também percebeu a vida cotidiana do lugar. Pescadores e suas frágeis embarcações que enfrentam a fúria do mar aberto com a mesma serenidade que navegam as línguas de mar que formam a gigantesca teia de vida feita de pássaros, peixes e mangues, com suas raízes que abrigam crustáceos, sustentam o chão lodoso contra as ondas. Ainda há fartura e as pessoas podem sobreviver com relativa tranquilidade, mesmo que os recursos mais modernos ainda não estejam de todo disponíveis. Neste aspecto, destaco uma iniciativa da Universidade Federal do Maranhão, que instalou geradores eólicos para a comunidade da ilha dos Lençóis, provendo uma melhor qualidade de vida com a energia limpa, renovável e gratuita.
Gabeira não esqueceu e registrou a beleza e diversidade das manifestações folclóricas nos vários sotaques de boi - costa de mão, orquestra e zabumba. Sons que ecoam histórias e vivências ancestrais que ainda ali, na festividade popular, representam a identidade de um povo. O boi reflete a vida que corre na faina diária, mas de uma forma encantada, despreocupada, irreverente e que irmana a todos.
As reentrâncias maranhenses fazem um sistema complexo e rico em biodiversidade. Acredito que toda a riqueza ali oculta só poderá ser preservada e explorada de forma sustentável com o conhecimento. Pensando assim, envidamos esforços para que a UFMA instalasse um campus avançado de engenharia de pesca, prestes a iniciar suas aulas. Por gerações, as pessoas sustentaram suas famílias nas labutas pelo mar. Até hoje é dele que saem os recursos que movimentam parte da economia local. Com esse campus, pretende-se que futuros profissionais da pesca com diploma universitário, talvez filhos de pescadores (estes possuem outro tipo de diploma adquirido pela experiência, enquanto aqueles serão capacitados pelo conhecimento empírico), deem, juntos, o novo e o experiente, uma nova perspectiva a toda a região.
Por essa minha ligação tão forte com Cururupu e com a baixada é que recebi, com alegria e orgulho incomensuráveis, no início deste mês, o convite para integrar o Fórum em Defesa da Baixada Maranhense (o qual aceitei prontamente), quando também a mim foi outorgada uma placa de menção honrosa. Por outra coincidência, lembrei que o poeta Raimundo da Mota Azevedo Correia, patrono da cadeira de número 16, que ocupo na Academia Maranhense de Letras, emprestou seu nome à travessa onde vivi alguns anos de minha vida em Cururupu. O poeta, nascido na baía de Mangunça, a bordo do vapor San’Luiz, navio da Companhia de Navegação a Vapor do Maranhão, já reservava a mim o destino da paixão por aquela terra.
Quanto ao pedido de meu pai, não sei se Deus me permitirá atender. Mas, com certeza, minha ligação com a baixada me impulsionará todos os dias de minha vida a não só desejar seu crescimento, como também me esforçar e trabalhar para que ela seja valorizada e sua gente reconhecida. E eu sei que, assim, também estarei sendo fiel ao coração de meu genitor.
Doutor em Nefrologia, reitor da UFMA, membro da AML, do IHGM e da AMM
Publicado em O Estado do MA, em 26/07/2015
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