Palavra do Reitor
Todas as grandes aventuras humanas foram movidas por valores que caracterizam a capacidade de conhecer, descobrir, dominar, que, para o mal e para o bem, explicam a raça humana. Desde a descoberta do fogo – atribuída a Prometeu pelos mitos gregos – até a primeira migração do gênero humano da África em direção à Europa e Ásia, já se descrevia o homem como um ser com destino no horizonte. Cada caminho e cada descoberta empreendidos pelo homem fizeram fluir a religião, as formas de governar, mas, acima de tudo, o comércio e as riquezas.
Discorro acerca dessas conquistas para concordar com aqueles que afirmam que o comércio foi a maior e melhor via do desenvolvimento e progresso humanos e, quanto mais livre, mais ele produziu riqueza e qualidade de vida às pessoas. Aqui em nosso estado, cabe destacar o papel relevante da Associação Comercial do Maranhão, cujas comemorações pelos seus 160 anos ocorreram com bastante prestígio no mês de agosto deste ano.
Dentro da programação preparada para marcar essa data, houve, no dia 21 de agosto, um momento especial quando aquela augusta Casa me distinguiu com a Comenda João Gualberto, uma iniciativa de toda a diretoria da ACM, à qual sou muito grato por tão ilustre reconhecimento. Sou também grato à presidente da Associação Comercial do Maranhão, Luzia Rezende, que, com sua alma feminina, garra e disposição, muito tem feito para engrandecer ainda mais o trabalho de seus antecessores e solidificar essa instituição tão vital para o Maranhão que todos queremos.
Ao ter meu nome atrelado a uma referência de um homem que escreveu seu nome na história do comércio maranhense, cujos feitos estão aliados ao nascimento e ao desenvolvimento da Associação Comercial do Maranhão e registrados nos escritos de Benedito Buzar, Carlos Gaspar, Jerônimo Viveiros, Antônio Lopes, Mário Meireles e Maria de Lourdes Lacroix, sinto-me ainda mais comprometido e motivado a continuar trabalhando pelo desenvolvimento e crescimento de nosso Maranhão.
João Gualberto foi um industrial que, ao lado de outros dotados de seu mesmo espírito empreendedor, fundou a Comissão da Praça em 1854, com base no então vigente Código Comercial de 1850. As reuniões eram realizadas nas moradias dos comerciantes, os quais, logo, se articularam para conquistar uma sede própria. Enfrentaram intempéries de toda a sorte nos campos político e econômico, mas, mesmo assim, legaram a outras gerações o incentivo ao protagonismo que viria a ser exercido pela Associação Comercial do Maranhão (a exemplo da Campanha de Produção, uma espécie de embrião das nossas hoje conhecidas Parcerias Público-Privadas), a qual tem demonstrado bravura, ousadia e ineditismo ao criar a Comissão de Mulheres, em 1988, presidida à época por Sandra Albuquerque de Castro e Costa, e ao promover momentos de pura poesia como o Concerto para o Menino, que acontece todos os anos nos festejos natalinos.
Faltar-me-ia espaço e palavras para descrever com riqueza de detalhes todos os grandes feitos da Casa de Martinus Hoyer, correndo o risco de ser injusto com aqueles empresários que, integrando a Associação Comercial, ajudaram a erguer um Maranhão próspero, gerador de emprego e renda. Num mundo em que vive a era dos tempos líquidos, nas palavras do sociólogo Zigmunt Bauman, comemorar 16 décadas de existência é um feito para ser, realmente, celebrado. Valorizar a Associação Comercial do Maranhão e dar a ela o merecido destaque é reconhecer que, em tempos de globalização e rompimento de fronteiras, o conhecimento agregado de anos de luta e dedicação de mulheres e homens empresários pode ser o diferencial na ocupação de um espaço nobre nos cenários brasileiro e internacional. Com a proximidade da escolha de novos representantes, esperamos que estes a valorizem e a ouçam para que de fato o Maranhão não se afaste da rota do progresso. Mais do que políticos, precisamos de estadistas.
Assim como vários homens e mulheres que se dedicaram ao ofício de empreender, tive a oportunidade de ingressar nesta senda quando, em 1978, trouxe para o Maranhão o primeiro rim artificial que revolucionou a forma do tratamento de pacientes portadores da doença renal crônica. Também investi na iniciativa privada quando, ao lado de sócios, inaugurei a Clínica de Rim e o Centro de Nefrologia do Maranhão, oportunizando a dezenas de pessoas uma chance de trabalho, o que ainda contribuiu para o crescimento de nosso Estado com o correto recolhimento de impostos.
Contudo, quis o destino que eu trilhasse outros caminhos. Atendi ao chamado também do Serviço Público, no qual dediquei preciosos anos de minha vida ao magistério e à pesquisa e ao atendimento de necessitados nas filas dos hospitais públicos. Implantei a primeira residência médica no Hospital Presidente Dutra, que hoje contabiliza mais de mil médicos formados, e presidi a Comissão que implantou o Hospital Universitário naquele espaço. Aprouve a Deus conceder-me a graça também de gerir aquela casa de saúde, uma das maiores e melhores instituições de alta complexidade de nosso país, e lá implantei um ritmo de trabalho que a elevou aos níveis de excelência que todos conhecem.
Depois, pela insistência e apoio de meus pares, fui eleito e reeleito para dirigir a Universidade Federal do Maranhão quando eu mal sabia que seria fruto da realização da profecia de Dom Delgado, homem que há 50 anos sonhou e idealizou a construção de uma Cidade Universitária, a qual hoje se tornou realidade. Em nossas gestões, a UFMA alcançou patamares nunca antes sonhados e cada vez mais se expande para o continente e para a sociedade de portas abertas, incentivando e promovendo o crescimento de milhares de homens e mulheres que nela ingressam todos os anos, numa aposta crescente da educação que forma, emancipa e liberta.
Doutor em Nefrologia, reitor da UFMA, membro do IHGM, da AMM, AMC e AML.
Publicado em O Estado do Maranhão em 07/09/2014
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