Palavra do Reitor
Senhoras e Senhores,
Boa noite!
Todas as grandes aventuras humanas foram movidas por valores que caracterizam a capacidade de conhecer, descobrir, dominar, as quais, para o mal e para o bem, explicam a raça humana. Desde a descoberta do fogo – que foi atribuída a Prometeu pelos mitos gregos – até a primeira migração do gênero humano da África em direção à Europa e Ásia, já se descrevia o homem como um ser com destino no horizonte. Movido pelo impulso e pela curiosidade, em direção ao desafiador desconhecido, mesmo que significasse romper o medo e a ignorância e crer em lendas como as que dominavam os sábios na Idade Média, acreditava que, a partir de certo ponto do Atlântico, haveria apenas um abismo.
O contorno da África – para alcançar mares nunca dantes navegados, que, segundo Heródoto, foi realizado pelos fenícios no século V a.C. –, representa, possivelmente, uma das primeiras e corajosas destas descobertas.
Por outro lado, é fato que há dúvidas sobre o caminho para as Índias, realizado por Vasco da Gama, que contornou o Cabo da Boa Esperança em direção a esse exótico país asiático, acontecimento este que ocorreu no final do século XV.
Fazendo uma retrospectiva histórica, são inúmeros os fatos que contribuíram para a ampliação e sucesso do comércio, entre os quais estão as circum-navegações, em particular a primeira de todas, realizada por Fernão Magalhães e finalizada por Juan Sebastião Elcano no século XVI; as descobertas das Américas por Cristóvão Colombo, também no século XV; a Rota da Seda que conectou o oriente e ocidente desde o oitavo milênio a.C.; e o Caminho do Mar que começava no Egito e margeava o Mediterrâneo e, no Norte do Israel moderno, encontrava-se com a estrada Imperial Persa remonta a tempos imemoriais.
Cada caminho e descoberta evidenciavam a religião, as formas de governar, mas, acima de tudo, o comércio e as riquezas. Todas as vias e formas de transporte usadas pelo homem – frutos de seu indomável espírito descobridor – fundaram impérios e povos, fizeram o conhecimento fluir, tornaram o mundo cada vez menor. Com a fundação dos primeiros bancos financiadores do comércio no mundo pelos venezianos e a invenção de barcos mais rápidos, instrumentos de navegação mais precisos, frutos não mais do empirismo, mas da matemática, o mundo viveu um progresso vertiginoso até chegar à realidade e à velocidade da luz que vivemos.
Entre as divergências existentes, os historiadores concordam num ponto: o comércio foi a maior e melhor via de desenvolvimento e progresso humano, e, quanto mais livre, mais ele produziu (e produz) riqueza, liberdade, proteção e qualidade de vida às pessoas. O advento do capitalismo a partir dos primeiros burgos na Europa promoveu um período de fartura e integração do mundo que, em nosso tempo, com as exceções necessárias, coloca-nos numa posição de dar ao mundo inteiro a possibilidade de uma vida melhor.
De certo modo, o mundo caminha à velocidade das novas formas de comerciar. O computador e o smartphone são canais de contato, expansão das formas de compartir riqueza, conhecimento e de possibilitar acesso a bens em qualquer lugar do mundo. Pode-se dizer que são extensões de nós mesmos, como se outro tipo de homem, o gênero Homo sapiens virtualis, engendrasse agora seus primeiros passos. Esta é uma realidade com desafios incríveis e possibilidades também.
Entretanto, o progresso nunca pode prescindir de homens e mulheres, que, com suas artes e técnicas, imprimem suas marcas e legam às outras gerações seus exemplos de vida, de inovação, de superação. Ao receber hoje aqui a Comenda João Gualberto, sinto-me ao mesmo tempo honrado e grato por ter alcançado tão nobre distinção que traz a referência de um homem que escreveu seu nome na história do comércio maranhense, cujos feitos estão registrados e aliados ao nascimento e ao desenvolvimento da Associação Comercial do Maranhão nos escritos de Carlos Gaspar, Jerônimo Viveiros, Antonio Lopes, Mário Meireles e Maria de Lourdes Lacroix.
Recentemente, por ocasião da solenidade de abertura da programação dos 160 anos desta augusta instituição, tivemos a oportunidade de ouvir o meu confrade Benedito Buzar, presidente da Academia Maranhense de Letras, que nos traçou um panorama histórico a partir da primeira metade do século 19, descrevendo o cenário e modus vivendi do Maranhão, destacando a figura de João Gualberto, industrial que, ao lado de outros dotados de seu mesmo espírito empreendedor, fundou a Comissão da Praça em 1854, com base no então vigente Código Comercial de 1850.
A partir de um tímido início com reuniões nas casas, logo os comerciantes se articularam pela conquista de uma sede própria. Enfrentaram intempéries de toda a sorte no campo político e econômico que aqui não cabe relatar pela brevidade do espaço, mas a história guarda momentos de protagonismo da Associação Comercial do Maranhão (a exemplo da Campanha de Produção, uma espécie de embrião das nossas hoje conhecidas Parcerias Público-Privadas), de bravura, ousadia e ineditismo, como a criação da Comissão de Mulheres, em 1988, presidida à época por Sandra Albuquerque de Castro e Costa, bem como momentos de pura poesia como o Concerto para o Menino, que acontece todos os anos nos festejos natalinos.
Faltar-me-ia espaço e palavras para descrever com riqueza de detalhes – correndo o risco de ser injusto com aqueles empresários que, integrando a Associação Comercial, ajudaram a erguer um Maranhão próspero, gerador de emprego e renda – todos os grandes feitos da Casa de Martinus Hoyer. Mas num mundo em que vive a era dos tempos líquidos, nas palavras do sociólogo Zigmunt Bauman, comemorar 16 décadas de existência é um feito para ser, de fato, celebrado.
A Associação Comercial do Maranhão continua, indiscutivelmente, sendo protagonista de grandes conquistas e dado o momento em que estamos vivendo com a proximidade da escolha de novos representantes se espera que estes a valorizem e a ouçam para que o Maranhão não se afaste da rota do progresso. Mais do que políticos, precisamos de estadistas comprometidos com o desenvolvimento e o crescimento de nosso Estado. Valorizar a Associação Comercial do Maranhão e dar a ela o merecido destaque é reconhecer que, em tempos de globalização e rompimento de fronteiras, o conhecimento agregado de anos de luta e dedicação de mulheres e homens empresários pode ser o diferencial na ocupação de um espaço nobre nos cenários brasileiro e internacional.
Assim como vários dos senhores e das senhoras, tive a oportunidade de ingressar na senda do empreendedorismo, quando em 1978 trouxe para o Maranhão o primeiro rim artificial que revolucionou a forma do tratamento de pacientes portadores da doença renal crônica. Também investi na iniciativa privada quando, ao lado de sócios, inaugurei a Clínica de Rim e o Centro de Nefrologia do Maranhão oportunizando a dezenas de pessoas uma chance de trabalho, contribuindo ainda para o crescimento de nosso Estado com o correto recolhimento de impostos.
Apesar disso, quis o destino que eu trilhasse outros caminhos. Atendi ao chamado também do Serviço Público, no qual dediquei preciosos anos de minha vida ao magistério e à pesquisa e ao atendimento de necessitados nas filas dos hospitais públicos. Implantei a primeira residência médica no Hospital Presidente Dutra, que hoje contabiliza mais de mil médicos formados, e presidi a Comissão que implantou o Hospital Universitário naquele espaço. Aprouve a Deus me conceder a graça também de gerir aquela casa de saúde, uma das maiores e melhores instituições de alta complexidade de nosso país, e lá implantei um ritmo de trabalho que o catapultou aos níveis de excelência que todos conhecem.
Depois, pela insistência e apoio de meus pares, fui eleito e reeleito para dirigir a Universidade Federal do Maranhão quando eu mal sabia que seria fruto da realização da profecia de Dom Delgado, homem que há 50 anos sonhou e idealizou a construção de uma Cidade Universitária, que hoje se tornou realidade. Em nossas gestões, a UFMA alcançou patamares nunca antes sonhados e cada vez mais se expande para o continente de portas abertas para a sociedade, incentivando e promovendo o crescimento de milhares de homens e mulheres que nela ingressam todos os anos, numa aposta crescente da educação que forma, emancipa e liberta.
Senhoras e Senhores,
Não poderia terminar minhas palavras, sem agradecer a iniciativa desta homenagem que partiu do empresário Douglas Pinho, com o apoio de toda a diretoria da ACM, a quem sou grato por tão ilustre reconhecimento, bem como agradecer também à presidente da Associação Comercial do Maranhão, Luzia Rezende, que, com sua alma feminina, garra e disposição, muito tem feito para enaltecer ainda mais o trabalho de seus antecessores e solidificar esta instituição tão vital para o Maranhão que todos queremos.
A todas e a todos, o meu muito obrigado
Em 26/08/2014
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