Palavra do Reitor
Um dos personagens mais densos e interessantes de Fiódor Dostoiévski é Golyádkin, personagem central do livro “O duplo” que crê falsamente no seu eu clonado. Quem conhece a história sabe por que ele se imaginava assim. Ao contrário do personagem a que me referi, esta semana o Maranhão perdeu um de seus maiores múltiplos: Ubiratan Teixeira, que deixará vários de si a ecoar nas letras, nas artes, no teatro, na TV, no ensino.
Ubiratan Teixeira era desses homens inclassificáveis. Em uma de suas crônicas, datada de 1995, ele revelou se sentir à vontade tanto de bermuda e chinelo como em traje formal na Academia Maranhense de Letras, e contou um episódio que, curiosamente, fez referência ao seu próprio funeral: “[...] uma casaca formal [...], peça de vestuário que só usei nessa ocasião e ciosamente a guardo sob camadas de naftalinas para envergá-la de novo no meu funeral: que vai ser hilária, vou me esbaldar, a cara de Deus diante da visão insólita que certamente será esta sua alma eternamente nua, enfarpelada em traje tão formal na portaria do céu, parlamentando com São Pedro”.
Não consta que Bira, o qual partiu no domingo, dia 15, tenha usado o tal fraque nesta sua última viagem. Dono de uma fina ironia peculiar, ele inscreveu seu nome entre os grandes do teatro maranhense, da crônica, da crítica, da literatura, do jornalismo. Não poderia tecer mais detalhes de seu vasto legado literário, visto que tantos outros já o fizeram e ainda o farão. Entretanto, ressalte-se que duas ligações em sua vida dizem respeito a mim também.
A primeira se relaciona ao chamado de Ubiratan ao teatro que ocorreu indiretamente por intermédio de Dom Delgado, conforme aquele mesmo descreve num trecho de uma de suas crônicas intitulada “Se a eternidade existe...”. Nessa crônica há uma preocupação da narrativa em evidenciar o caráter empreendedor do então Arcebispo do nosso Estado, responsável pelo embrião que viria a ser depois a Universidade Federal do Maranhão, onde posteriormente o próprio Bira veio a se graduar em Letras. Fazendo um ponto de intersecção com a minha história, já tive oportunidade aqui de discorrer acerca de Dom Delgado, quando este profetizou, há 50 anos, a construção da Cidade Universitária, o que hoje é uma feliz realidade que quiseram os céus que viesse a ocorrer em nossa gestão à frente da UFMA. Ubiratan Teixeira referiu-se a Dom Delgado na citada crônica como aquele que “sacudia os alicerces da Igreja local com uma mensagem social acima dos interesses políticos subalternos e uma visão cristã acima do terço e da venda de indulgências”. A crônica que eu cito e recomendo a leitura fala ainda de outro homem grandioso nesta terra, o Padre João Mohana.
A segunda ligação diz respeito ao fato de que Bira foi iniciado no mundo do jornalismo por ninguém menos que Neiva Moreira, meu antecessor na Academia Maranhense de Letras na cadeira de número 16, o qual era proprietário do Jornal do Povo. De tradutor de telegrama, após ser comissionado pelo próprio Neiva, tornou-se repórter e, logo depois, fotógrafo. Fez história no jornal. Contam os amigos que ele era fascinado pela vida ordinária, pelas pessoas sem voz nem vez, por episódios que passariam despercebidos por outros olhares menos atentos.
Um acontecimento trágico deu-lhe a ideia para um de seus mais famosos contos, adaptado tanto para o teatro – pelas mãos de Wilson Martins – quanto para o cinema, com o curta-metragem assinado por Frederico Machado. O conto denominado “A Vela ao Crucificado” relata a história de um casal pobre que se vê às voltas com o velório do filho.
Dentre a série de documentários intitulada “Academia da Memória – Homens e Imortais” sobre os membros da Academia Maranhense de Letras, produzida e realizada pelo meu confrade Joaquim Haickel, quero destacar um documentário que traz o título “Ubiratan Teixeira, um maranhense porreta de bom” e que mostra um Bira saudosista e, ao mesmo tempo, extremamente franco. Este autor conta que a inspiração para seus escritos nasce “das ruas, becos e feiras, ou seja, uma cidade que não se encontra em peças publicitárias [...]. Minhas histórias são as pessoas que vivem em torno de mim”, comenta. Seus personagens favoritos? “O usuário de ônibus, o homem do mar, o filho da empregada”.
O escritor revelou ainda um de seus maiores prazeres: escrever a mão, a lápis, na folha de papel almaço. “É uma das minhas maiores alegrias”, disse. Crítico, ele afirmou: “Não existe esse negócio de terceira idade, melhor idade. É velho mesmo”. Todavia, sabia ser doce: basta verificar sua obra de teatro “Búli-búli”, publicada em 1992, uma ode em homenagem às suas conversas com o neto, cuja linguagem o amoroso avô entendia e traduzia.
Sobre sua partida, ele mesmo vaticinou: “A gente vai embora, deixa um livrinho aqui e outro ali”. Modéstia pura: seus livros e crônicas superam esse resumo. De forma muito justa, Ubiratan Teixeira será o homenageado da 8.ª Feira do Livro de São Luís, que será realizada em novembro.
Doutor em Nefrologia, reitor da UFMA, membro do IHGM, da AMM, AMC e AML.
Publicado em O Estado do Maranhão em 29/06/2014
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