Palavra do Reitor
Neste mês de novembro, São Luís sediou o XVII CONGRESSO BRASILEIRO e o I CONGRESSO MARANHENSE DE HISTÓRIA DA MEDICINA, tendo como Patronos os Professores Olavo Correia Lima e Mário Martins Meireles. Como lema principal dos eventos, “Os 400 Anos de Medicina no Maranhão”, atraindo muitos congressistas de diferentes Estados e professores, pesquisadores e alunos locais.
Importante destacar que, na mesa diretora dos trabalhos, estiveram presentes diversos expoentes do saber médico a nível nacional como Jairo Furtado Toledo, presidente da Sociedade Brasileira de História da Medicina, e José Leite Saraiva, presidente da Associação Brasileira de Academias de Medicina; além das presenças ilustres de Benedito Buzar, presidente da Academia Maranhense de Letras, José Márcio Leite, presidente da Academia Maranhense de Medicina, Antônio de Pádua Silva Sousa, vice-presidente do Conselho Regional de Medicina, e Arquimedes Viégas Vale, presidente da Sociedade Brasileira de Escritores Médicos do Maranhão.
O sucesso de ambos os eventos é crédito do trabalho dedicado de seus organizadores, os quais parabenizo indistintamente na pessoa de meu confrade da AMM e do IHGM, Aymoré de Castro Alvim. Ressalte-se que esta instituição possui um trabalho digno de registro, pois, ao lado das Sociedades Brasileira e Internacional de História da Medicina, é fundamental para que gerações tenham acesso aos legados de homens e mulheres que marcaram suas épocas e vidas que lhes foram confiadas.
Esses eventos também foram espaços de reconhecimento ao trabalho de muitos que, com seu conhecimento e esforço, marcaram seus nomes na história da medicina e tiveram a honra de ser condecorados com a Medalha “Prof. José Correia Picanço”, da Sociedade Brasileira de História da Medicina, como os professores Maria de Lourdes Lauande Lacroix, Antônio Nilo da Costa Filho e Aldir Penha da Costa Ferreira, pela divulgação da História da Medicina no Maranhão através dos seus trabalhos.
Tive a satisfação de ser o convidado de honra nesses encontros e de coordenar o painel sobre “A História das Especialidades, no Maranhão”, discorrendo sobre aspectos históricos da nefrologia, ao lado de Haroldo Silva e Sousa, que falou sobre a cardiologia, e Orlando Torres, responsável por proferir palestra sobre a cirurgia. Foi feita ainda uma homenagem aos médicos que marcaram a história da Medicina no Maranhão na pessoa dos professores Tomé Lima Araújo e João Damasceno Figueiredo.
Tais congressos proporcionaram uma oportunidade ímpar para que seus participantes tivessem acesso aos ricos detalhes históricos da medicina não apenas do Maranhão, mas dos diversos estados brasileiros.
Parte dessa história foi registrada pelo também médico César Marques no seu Dicionário Histórico-Geográfico da Província do MA, publicado pela primeira vez em 1870. Este trabalho, por sinal, alcançou merecida atenção por parte do pesquisador Jomar Moraes, membro e ex-presidente da Academia Maranhense de Letras. Outros registros importantes são possíveis de serem conhecidos a partir dos relatos feitos pelo historiador Mário Meireles em “Apontamentos para a História da Medicina no Maranhão”, que revela ainda curiosidades farmacêuticas. Falta-nos espaço para destacar tantos outros médicos nascidos nesta terra, cujas contribuições atravessaram barreiras geográficas e mereceram destaque em diversos escritos históricos.
O profissional da medicina vive hoje na era em que a informação trafega numa velocidade incrível e, a despeito do conhecimento que o curso proporciona, necessária é a interligação com saberes de outros ramos, fundamentais para a compreensão do paciente, que está cada vez mais a exigir um tratamento não apenas focado na prescrição farmacológica. Estou certo de que este mesmo sentimento perpassa a alma de cada colega, numa mistura de crença no avanço científico e nos inúmeros desafios que nos impõe o cuidar de cada pessoa que nos toca atender. Neste mister, a cura é uma possibilidade e a única certeza é nossa presença ao lado de quem precisa, afinal, como disse Jesus certa vez: “os sãos não precisam de médicos e, sim, os doentes”.
Ouso afirmar ainda que, a despeito do avanço tecnológico que circunda o saber médico, necessária é a valorização de sua história, pois é por meio dela que podemos acompanhar a evolução tanto do conhecimento quanto da técnica, com o aprimoramento crescente dos meios de diagnóstico e tratamento. Os casos de sucesso e fracasso empreendidos nesta seara, bem como as diversas descobertas em busca de alívio, de preservação da vida, de restituição da saúde e melhoria do conforto pessoal só podem ser conhecidos pelos registros deixados por aqueles que nos antecederam e servem como marcos de um novo caminho a ser trilhado na busca de outras vitórias importantes. Como lembra o famoso orador Cícero, “a história é testemunha do passado, luz da verdade, vida da memória, mestra da vida, anunciadora dos tempos antigos”.
Tenho certeza de que os temas que foram debatidos nos congressos serviram para enriquecer ainda mais a trajetória de zelo e cuidado de cada participante para com o nosso semelhante, pois, como disse o poeta Fernando Pessoa, “ o valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem”. Por isso, disse o poeta, “existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”.
Assim, acredito que tais características da fala do poeta se amoldam com os fatos ocorridos naquela semana em que se discutiu e se conheceu mais da história da medicina, despertando em todos nós o sentimento de máximo respeito aos nossos antepassados de profissão e de valorização da história do saber médico.
Doutor em Nefrologia, reitor da UFMA, membro do IHGM, ACM e AMC
Publicado em O Estado do Maranhão em 18/11/2012
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