Palavra do Reitor
Como medir um poeta? Por quais instrumentos e artes se avalia a obra poética de um homem, visto que ela vem de mundos infinitos, todos guardados dentro desta carne - receptáculo precário - que se consome a cada dia?
Sugiro que se meça pela eternidade. Por um quantificador de sentidos ontogênicos, aqueles que nos explicam razões transcendentes. Que inventem aparelhos de luz com carcaça de antimatéria para explicar as coisas que um poeta vê, ouve e escreve. Pois como explicar meu alumbramento e identificação quando leio: “Vive como um homem morre:/ em solidão e na esperança. / guardando a fé que socorre/em mim, semivelho, a criança.”
Nauro Machado, a semivelha criança, materializou esta maravilha. E com ela, como um Elias alimentado pelos corvos, é possível caminhar dias. Não se quer perder a forma incorpórea, o humano em nós. O poeta tem o dom de dizer o indizível em nossa boca, mas que quando vemos sabemos que é nosso e nós. Toda nossa luta e anseio parece ser em manter esta perene vontade e expectativa, pois em nossos coração, diz o Eclesiastes, Deus colocou a eternidade.
As ruas de São Luís estão marcadas por seu caminhar reto, inteiro a despeito de muitos anos que carregava em suas retinas fatigadas como o diria Drummond. O chapéu, o guarda-chuva pendurado no antebraço como a desafiar o sol tropical, a chuva agora escassa. O corpo aparentava fragilidade porque os cabelos brancos e finos e a barba veneranda diziam isso, mas os movimentos eram elegantes e não se pode ver fragilidade em cavalgar nuvens. Nauro se foi? Como é possível se nos deixou impregnados de sua poesia? Matizados por sua poética?
Nauro era um explicador de gente. Ele era sua própria experiência humana radical. Quando percebe que “Onde estamos não nos cabe, onde estamos não comporta” ajuda-nos a desconfiar que nossa existência é para além das comezinhas coisas voláteis, às vezes, para nossa tristeza, que a elas nos apegamos como cracas ao casco do navio. Acha uma solução desde seus fratricidas embates consigo mesmo e nos alivia com a explicação: “Ó desejo para fora / a romper-nos desde o dentro! / Ah, sairmos do nosso centro / para sempre e desde agora!”
Nauro era altaneiro e ao mesmo tempo próximo. Elevado e ao alcance. Importante e simples. O homem de produção literária e sofisticada, capaz de arregimentar fãs em todas as idades e formações culturais, era protagonista de episódios que demonstraram que a imortalidade também se traveste de mortal. Lembro que quando fui à sua residência para comunicar a decisão unânime do Conselho Universitário da UFMA em distingui-lo com o Título de Doutor Honoris Causa, tive que vencer certa resistência demonstrada pelo poeta. Para demovê-lo, contei com o apoio de Arlete. Preocupado, ele contrapôs que só dispunha de um terno simples, comprado para a comemoração do centenário de Odylo Costa, filho. Ao que sua doce companheira retrucou: “Não se preocupe, vou comprar um terno à altura da homenagem que você vai receber”. Promessa cumprida: no dia da solenidade, eis que o poeta surge trajando um bem cortado terno escuro acompanhado de uma gravata vermelha com detalhes em cinza.
Como é obscuro o futuro: embora tivesse elogiado a elegância de Nauro naquela noite singela, não atentei para todos os detalhes de sua vestimenta, coisa que só vim a fazê-lo quando, emocionado, fui me despedir do poeta na Academia Maranhense de Letras. Ali, ao contemplá-lo, vi que o mesmo traje que o acompanhara àquela solenidade que lhe trouxe tanta alegria, também o vestiu para sua última viagem.
Rodeado de seus pares, Nauro partiu sob a declamação de poesias, vivas e aplausos na Casa de Antonio Lobo, entremeados de histórias diversas contadas pelos seus amigos e admiradores. O poeta e escritor José Maria do Nascimento aproveitou para confessar que entre ele e Nauro havia um pacto: aquele que partisse primeiro voltaria para contar como são as coisas lá em cima. José Maria disse que cumpriria sua promessa, pois tinha certeza que partiria primeiro. Ao que Nauro retrucou: não, José Maria. Sou mais velho. Voltarei logo. José Maria lamentou ter se cumprido o vaticínio do poeta.
Outra história interessante foi contada por duas jovens que disseram sempre encontrá-lo numa padaria no Renascença onde ele, solícito, conversava sobre poesia com elas para logo mais adiante, pedir licença para levar o pão para casa, onde sua amada Arlete o aguardava.
Assim era Nauro. Gerador de indizíveis palavras, mas sabia se disfarçar de comum. Ele não partiu: eternizou-se entre nós, para nós. Vida longa à memória de Nauro Machado!
Publicado no suplemento Guesa Errante do Jornal Pequeno, em 06/12/2015
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