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Pesquisador mexicano discute impacto do capitalismo sobre as comunidades tradicionais

Publicado em: 20/03/2018

SÃO LUÍS – O Maranhão tem seu território marcado por conflitos que decorrem do avanço do capitalismo sobre as comunidades tradicionais. O progresso das siderúrgicas, o impacto da Estrada de Ferro Carajás e da Reserva Extrativista de Tauá-Mirim (São Luís-MA), ameaçada pela construção de um porto privado na comunidade do Cajueiro, ilustram o penúltimo lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH.  

Com base nesse cenário, o I Seminário Internacional Povos e Comunidades Tradicionais Frente a Projetos de Desenvolvimento e o V Seminário: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente, que ocorrem até o dia 23 de março, na Universidade Federal do Maranhão, são eventos fundamentais para aprofundar o debate sobre os processos sociopolíticos e seus efeitos locais, com ênfase nas políticas públicas e iniciativas privadas com impactos no meio ambiente, no modo de vida das populações, na agressão aos territórios de povos tradicionais e à sustentabilidade em geral.

Entre os colaboradores do evento, está o professor Juan Sandoval, da Universidade Nacional Autónoma de México (UNAM), que ministrou a palestra de abertura “Espaços globais da expansão capitalista e resistências locais”. Sandoval é doutor em Antropologia Social e tem pesquisas na área de Etnologia e Antropologia Social do Instituto Nacional de Antropologia e História - INAH - México. Baseado em sua experiência, o pesquisador respondeu a algumas questões da Ascom-UFMA.

Ascom: Qual o impacto do capitalismo sobre as comunidades tradicionais?

Juan Sandoval: O capitalismo em sua fase atual é global. Isso se dá a partir da crise dos anos 70 e 80, que globalizou a produção, as finanças e o impulsiona a lugares onde ainda não havia entrado. União Soviética, China... de todas o capitalismo se apropriou. Nessa fase extensiva, permeia a educação, a saúde, e tantos outros aspectos. Assim, as comunidades não são indiferentes à reprodução capitalista, o problema é que em nome do “progresso” desaloja populações, se apropria de seus territórios, seus minerais para passar ferrovias, cruzar dutos [...] Esse contato as contamina, contamina sua produção, não permitindo que elas cresçam. A estrada de ferro Carajás é um exemplo muito claro disso.  Este tipo de intervenção acaba destruindo casas, afetando seu modo de vida, separando comunidades. O capital em todos os âmbitos os afeta, sobretudo as comunidades rurais.

Ascom: Há alguma resistência por parte desses grupos? De que forma?

Juan Sandoval: As comunidades, naturalmente, lutam por seus territórios. Sua forma de vida não permite que isso venha a destruí-las. Elas se organizam por meio dos movimentos sociais e vão à resistência de muitas formas. Lutando para que os indenizem, lutando pela retomada de seus territórios, lutando por melhores condições de vida para si e para a natureza. Enfim, lutando por sua identidade cultural e contra a opressão que muitas vezes encontram no estado.

Ascom: Do seu ponto de vista, qual a importância dessa discussão?

Juan Sandoval: A importância de discutir esse tema é entender como se estabelece o capital e suas alianças públicas e privadas, nacionais e internacionais que visam alcançar o lucro e, assim, tentar reduzir os malefícios para a população. É importante entender porque são essas alianças nacionais e internacionais que formam as oligarquias capitalistas que decidem sobre todo o mundo. Essa é a única forma de nos darmos conta de que a situação é mais grave do que imaginávamos e que ela afeta a todos por igual, e assim nos unirmos pelas já citadas lutas de resistências e contornar esse capital violento que só visa ao lucro.   

Ascom: É possível fazer um paralelo entre a realidade mexicana e a brasileira?

Juan Sandoval: No mundo todo, o capital atua da mesma forma, o que muda são os tipos de recursos explorados e as empresas que estão envolvidas nessa exploração, que varia de localidade. Há grandes projetos de exploração de minério. A infraestrutura para extração, por exemplo, é a mesma para todos, até as mazelas que afetam as comunidades tradicionais também são iguais. Não interessa se vamos à África ou à Ásia, o capital atua da mesma maneira porque é globalizado.

Ascom: Você visualiza algum caminho entre o capitalismo e essas comunidades?

Juan Sandoval: Creio que o capitalismo vive muitas contradições. A principal delas é a carga que impõe sobre as pessoas. A busca pela mão de obra é incessante, e sempre será necessária a aquisição de mão de obra, explorando cada vez mais pessoas. Então é muito difícil que ele tenha uma face mais favorável a população, porque tudo o que deseja é o lucro, utilizando-se de formas cada vez mais violentas para alcançá-lo.

Ascom: O Brasil e México, diante deste cenário, podem se ajudar?

Juan Sandoval: Sim. Este evento é fruto de um trabalho coletivo entre as duas nações que envolve pesquisadores, alunos e a comunidade de várias universidades, que faz esse intercâmbio para estabelecer o diálogo entre pesquisas afins, utilizando da mesma perspectiva para alcançar soluções.

 


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Produção: Géssica dos Anjos
Revisão: Jáder Cavalcante
Fotos: Sansão Hortegal
Lugar: Cidade Universitária Dom Delgado
Texto: Ascom
Última alteração em: 21/03/2018 04:33

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